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Panorama elaborado pelo IPT aponta oportunidades em áreas contaminadas

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apresentou, no dia 8 de dezembro, uma versão atualizada do Panorama de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (Panorama GAC), divulgado no final de 2015. Baseados em uma metodologia própria e fruto de uma cooperação técnica entre a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o IPT e a Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental (Aesas), os resultados detalham a estruturação da cadeia produtiva do setor no Brasil e estimam um mercado que movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão ao ano no País.

O trabalho foi apresentado no Seminário Mercado Ambiental Brasileiro – Resultados 2016 e Tendências até 2020, que contou com mais de 80 empresas que compõem o setor, entre indústrias, consultorias ambientais e jurídicas e empresas de soluções para diagnóstico e remediação de áreas contaminadas.

Claudia Echavenguá Teixeira, uma das coordenadoras do projeto e pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT, falou sobre a importância da elaboração de uma metodologia de pesquisa, coleta e estruturação de dados para organização das ações do setor, além da necessidade de participação das empresas no processo de construção do projeto. “Não havia visão econômica ou estrutural desse mercado no Brasil. Das 230 empresas que identificamos, apenas 33 responderam ao questionário, então precisamos de uma maior adesão para consolidar e dar continuidade ao panorama”, ressaltou.

Mesmo com a amostra relativamente pequena de empresas, o laboratório contou com o apoio da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT para validação dos resultados, obtidos de diversas fontes primárias e secundárias, tais como: legislação e regulamentações afins à temática de áreas contaminadas, mapeamento de áreas no País, comparação com o contexto internacional e questionários aplicados a diversos atores da cadeia. Entre os dados principais, foram identificadas 5791 áreas contaminadas e um mercado que conta com, pelo menos, 230 organizações participantes da cadeia produtiva, desde microempresários individuais até grandes empresas (incluem consultorias ambientais, empresas de sistemas de remediação e prestação de serviços, fornecedores de insumos e equipamentos, escritórios de advocacia, laboratórios de análises, instituições de pesquisa, dentre outros).

“De acordo com publicações internacionais, a contabilidade econômica depende da organização de informações, e no Brasil isso é difícil, porque cada empresa registra [legalmente] suas atividades de uma forma”, explicou Flávia Motta, gerente de suporte à gestão do Instituto. “As 172 empresas que atuam só com gerenciamento de áreas contaminadas têm cerca de 32 CNAES [Classificação Nacional de Atividades Econômicas] diferentes. Portanto não temos bem um setor, temos um conjunto de atividades que se interconectam em cadeia para essa atividade final, de tratamento das áreas contaminadas”.

Diante desse cenário, Flávia defendeu que os órgãos regulatórios sejam a base para o funcionamento da cadeia produtiva diante do setor desorganizado, que terá como suporte instituições e empreendimentos capazes de fornecer mão-de-obra qualificada, conhecimento e soluções técnicas inovadoras – estes devem levar vantagem no mercado atual. Yuri Tukoff Guimarães, pesquisador da Coordenadoria de Planejamento e Negócios do IPT, apontou durante o evento diversas tendências para o mercado, pda análise dos resultados financeiros, econômicos e mercadológicos oriundos dos levantamentos efetuados para o Panorama GAC.

Segundo o pesquisador, o mercado é formado majoritariamente por micro e pequenas empresas, sendo que as organizações que atuam na cadeia produtiva de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) têm faturamento per capita médio de R$ 227.000 por ano. Cada empresa atende em média quatro setores, listados entre indústria de transformação, imobiliário, postos de gasolina, petróleo e gás, consultoria ambiental, governamental, agropecuário e outros. Além disso, 61% delas oferecem mais de cinco serviços ao mercado, sendo o serviço de análises químicas o que dispõe da menor concorrência e o de tecnologias de remediação o mais saturado.

Os grandes gargalos da cadeia, conforme o estudo apresentado por Tukoff-Guimarães, estão na deficiência da aplicação e da fiscalização das leis vigentes referentes às áreas contaminadas, além do alto custo de aplicação das técnicas de investigação. “Uma maior fiscalização e agilidade dos órgãos ambientais são oportunidades relevantes para aumento da atuação das empresas, mas as inovações do setor devem buscar também mais eficácia e menor custo para as tecnologias aplicadas na remediação de solos”, resumiu.

SEMINÁRIO – Durante o seminário, outras palestras e mesas-redondas colocaram as dificuldades apresentadas ao setor de gerenciamento de áreas contaminadas. Uma delas, ressaltada pelo diretor-executivo do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Eduardo Della Manna, trata da demora para investigação e remediação de áreas contaminadas, que podem afastar imobiliárias da compra e tratamento de terrenos comprometidos. “Dois anos para a indústria pode ser pouco tempo, mas para o setor imobiliário é o período suficiente para aprovação de um projeto, construção e venda. É preciso aprovações e remediações mais rápidas”, defendeu.

Também foi colocada em xeque a dificuldade da compra de áreas contaminadas, diante do alto tempo e custo para sua remediação, que são vistas como despesas para o comprador. Uma das soluções propostas foi o oferecimento de incentivos, como redução do custo do lote como paliativo ou a criação de projeções sobre o lucro que a área pode gerar a longo prazo. Outras demandas, como a regulação da transparência de informações (entre as empresas e por parte das fontes poluidoras) e a rigidez dos órgãos fiscalizadores, também foram discutidas.​

Fonte: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de SP

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