O aumento das emissões de CO2 elevará durante este século os riscos de conflitos, fome, enchentes e migrações, informa o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que será divulgado nesta segunda-feira.
“O aumento de temperaturas aumenta a probabilidade de impactos severos, generalizados e irreversíveis“, em todo o mundo, alerta o quinto informe do IPCC.
Se não se conseguir estancar as emissões dos gases causadores do efeito estufa, o custo pode chegar a bilhões de dólares em danos a ecossistemas e a propriedades, além da necessidade de se criar sistemas de proteção dessas mudanças.
Os efeitos da mudança climática já começam a ser notados e vão piorar com cada grau centígrado de aumento da temperatura.
A Amazônia em perigo
A fome poderá ser especialmente severa nos países tropicais e subtropicais. A Amazônia é um dos ecossistemas que mais poderão ser prejudicados, juntos com os polos, os pequenos Estados insulares no Pacífico e os litorais marítimos de todos os continentes.
Bastante extenso, o informe detalha os efeitos por região. Nas Américas do Sul e Central, os desafios são a escassez de água em áreas semiáridas, as inundações em zonas urbanas superpovoadas, a queda da produção alimentar e de sua qualidade e a propagação de doenças transmitidas por mosquitos.
As cidades latino-americanas devem se preparar para modificar seus planos de urbanismo e de tratamento de água. A produção agrícola deverá se adaptar aos períodos de seca, ou de grandes chuvas, com grãos mais resistentes.
As zonas de mata virgem deverão manter afastada a pressão dos assentamentos humanos.
O documento é resultado de intensas deliberações entre centenas de cientistas desde que a comunidade internacional aprovou a criação do IPCC em 1988.
O informe “é um manual de instruções para se enfrentar a mudança climática, mas também representa um marco para entendê-la, para entender suas implicações“, explicou o co-presidente do IPCC, Chris Field, da Carnegie Institution.
A edição anterior, de 2007, valeu ao IPCC o Prêmio Nobel da Paz, mas seu sucesso e visibilidade não conseguiram mobilizar as consciências o suficiente. A reunião internacional de Copenhague, em 2009, que se dedicaria a obter um pacto contra a mudança climática, foi um estrondoso fracasso.
Esse novo documento, publicado em Yokohama, em Tóquio, após cinco dias de reuniões, detalha de forma mais extensa o alcance do problema, que se acelerou a partir do século XX.
As temperaturas vão subir entre 0,3ºC e 4,8ºC neste século, o que se soma ao 0,7ºC calculado desde o início da Revolução Industrial. Além disso, o nível dos mares aumentará entre 26 e 82 centímetros até 2100.
A alta das temperaturas reduzirá o crescimento econômico mundial entre 0,2% e 2% ao ano – calculam os cientistas. Nesse sentido, o IPCC reivindica um pacto mundial até o final de 2015 para limitar esse aumento a até 2ºC no século atual.
Riscos para a segurança
Os impactos aumentam com cada grau centígrado e podem ser desastrosos acima de 4ºC, adverte o texto.
A mudança climática pode provocar mais conflitos regionais, devido às migrações das populações afetadas pelas enchentes e à competição pelo monopólio de água e comida.
“A mudança climática tende a atuar como um multiplicador de ameaças“, disse Field.
“Há muitas coisas que fragilizam as pessoas, e quando você combina um choque climático com esses fatores, os resultados podem ser ruins“, alertou.
Na Europa e na Ásia, é provável que as temporadas e o volume de chuva sofram mudanças dramáticas. Isso terá um impacto nas colheitas de trigo, arroz, ou milho, por exemplo. Espécies de plantas, ou de animais, poderão desaparecer.
Os países pobres serão, contudo, os que vão sofrer as mais graves consequências desse novo cenário.
O relatório garante que o aquecimento global é irreversível, mas que pode ser reduzido drasticamente, se o ser humano controlar as emissões de CO2. Algumas medidas que podem ser aplicadas de imediato são “baratas e fáceis”, como reduzir o desperdício de água, ampliar as áreas verdes nas cidades e proibir assentamentos humanos em zonas de alto risco.
Fonte: Primeira Edição
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