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Associação luta para transformar o Rio na capital nacional da reciclagem de resíduos

De que forma o lixo pode deixar de ser um passivo ambiental e se transformar em riqueza para a sociedade, gerando renda e, ao mesmo tempo, contribuindo com a saúde da população e preservando o meio ambiente?

A pergunta sempre vem à tona quando o assunto é reciclagem de resíduos. Conforme o Rio Capital Mundial da Arquitetura (RCMA) mostrou nos últimos dois dias, no oitavo capítulo da série de reportagens sobre sustentabilidade, arquitetura, urbanismo e paisagismo, iniciada em junho – mês dedicado mundialmente ao meio ambiente –, o Brasil ainda está muito atrasado na questão de reaproveitamento de produtos descartáveis.

O país, de acordo com estudos da World Wildlife Fund (WWF) – organização não governamental internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental -, envolvendo 200 países, produz, anualmente, quase 80 milhões de toneladas de rejeitos – 11,35 milhões de toneladas só de matéria plástica -, mas só recicla o equivalente a 1,28% do total. A média mundial é de 9%. Nesse sistema, além de agravar desequilíbrios na natureza, como enchente nas metrópoles, o Brasil perde cerca de R$ 120 bilhões ao ano por não dar destinação adequada ao lixo.

Na prática, apenas 17% da população brasileira é atendida pela coleta seletiva, segundo consta relatório da ONG Compromisso Empresarial de Reciclagem (Cempre). Especialistas do Instituto GEA — Ética e Meio Ambiente, organização que tem como finalidade desenvolver a educação ambiental, advertem: o problema é sistêmico e exige responsabilidade e esforços urgentes de todos na busca de soluções: a indústria, o governo e o cidadão.

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Reciclagem

Diante da situação preocupante, porém, há boas iniciativas em prática, que vêm contribuindo com a busca de soluções no setor. É o caso da Associação de Recicladores do Estado do Rio de Janeiro (Arerj), uma organização sem fins lucrativos, criada em 2004 e que hoje move uma cadeia que envolve 20 mil pessoas nos 92 municípios do estado, responsáveis por retirar, em média, 200 mil toneladas de materiais recicláveis das ruas, como papel, papelão, alumínio e plástico. Há outros 300 mil trabalhadores informais no estado, mais 1,5 mil em cooperativas e outros 16 mil nas mais de 800 empresas fluminenses que vivem da reciclagem em geral.

Para falar sobre o assunto, o RCMA convidou o presidente da associação, Edson Freitas, que também preside a Associação Brasileira da Cadeia de Sustentabilidade Ambiental do PET (Abrepet). Ele revela, com exclusividade, novidades a partir do mês que vem, com o objetivo de transformar o Rio na Capital nacional da reciclagem, com apoio do município.

Era uma vez um catador de lixo que, no início da década de 2000, morava na favela Jorge Turco, comunidade da Zona Norte do Rio, localizada entre três bairros: Coelho Neto, Colégio e Rocha Miranda. Edson Freitas, hoje com 53 anos, sofria com enchentes na região naquela época. Quando as águas baixavam, ele saia para catar garrafas PET, as maiores vilões, já naquela época, das inundações, represando e transbordando os leitos de rios e córregos.

“Levava o material para o quintal de casa, mas sem saber o que fazer com aquilo. Acabei juntando 50 toneladas. Aí levei esse material para uma área de uma empresa de reciclagem, a qual acabei assumindo, por minha conta e risco, a massa falida dela. Pouco tempo depois, três empresários se perderam naquela localidade e pararam, providencialmente, num engarrafamento, em frente ao meu pequeno empreendimento. Desceram ali mesmo e acabamos formando uma sociedade”, resume Edson, atualmente um empresário de sucesso no ramo.

Arerj

Com o tempo, surgiu a Arerj, da necessidade, segundo Edson, de as empresas recicladoras e recicladores se mobilizarem para sensibilizar governos e sociedade sobre como achar caminhos para o descarte irregular dos resíduos e oferecer condições sustentáveis para a cadeia produtiva da reciclagem. Dados da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) apontam que 30% do lixo produzido no Rio tem potencial de reciclagem, mas apenas 1,9% realmente é reciclado.

“Hoje temos cerca de 6,2 mil depósitos de coleta de material reciclável, chamados de Ecopontos, no estado do Rio. Só na Capital são 1,2 mil, gerando destinação ambientalmente adequada, fazendo que as embalagens retornem ao processo produtivo como matéria prima, numa cadeia que gera emprego e renda para mais de 20 mil pessoas, só nos postos de coletas. Juntas, elas impedem que 200 mil toneladas de produtos recicláveis cheguem, mensalmente, aos rios, lagoas e ao mar, por exemplo”, detalha Edson.

Para aperfeiçoar ainda mais o sistema, Edson adianta que no mês que vem a associação anunciará a expansão da plataforma ECCOS, uma espécie de moeda digital, que está completando um ano, dos quais oito meses em testes.

“A pandemia da Covid-19 atrasou um pouco nossos planos, mas a intenção é que nos próximos 12 meses já tenhamos 1 milhão de cartões circulando só na cidade do Rio de Janeiro. Os cartões são abastecidos pelas empresas parceiras com créditos, no valor dos resíduos que conseguem juntar, e os catadores podem utilizá-lo no comércio, através de estabelecimentos cadastrados de diversos segmentos, desde padarias, supermercados e lojas de roupas, a materiais de construção, por exemplo. Os cartões também possibilitam recargas para celulares e para o uso de meios de transporte”, afirma Edson.

Ecopontos

Outra novidade: cada um dos 6,2 mil Ecopontos será transformado em Agência de Resíduos Recicláveis, uma espécie de banco virtual, onde os créditos poderão ser inseridos nos cartões.

A Arerj já tinha ingressado no mundo da tecnologia digital, ao instituir um aplicativo que ajuda a combater o furto e roubo de cabos de cobre, tampas de bueiros, estátuas e outros patrimônios públicos feitos de materiais altamente recicláveis, apontando a origem dos materiais aos donos de empresas recicladoras. A iniciativa faz parte da campanha Reciclador Legal.

Fonte: O Fluminense.

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