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Sem saneamento, combate ao Aedes seguirá ineficaz

Após o encerramento da Olimpíada neste domingo (21), o país deve voltar novamente os olhos para uma questão sanitária que não deu trégua: a epidemia tríplice de dengue, zika e chikungunya iniciada em 2015 e que ainda persiste.

Embora os números de dengue e zika tenham sofrido queda no primeiro semestre, os da febre chikungunya seguem crescendo mesmo no inverno. Foram 170 mil contra 17 mil em igual período de 2015. O número de mortes saltou de 6 para 38.

Até 20% das pessoas infectadas pelo chikungunya continuam com dores articulares e limitações por anos e vão precisar de reumatologistas, de remédios de alto custo e de fisioterapia. Não é preciso ser um expert em gestão em saúde para supor o impacto disso no já combalido SUS.

Sem contar os casos de transmissão do vírus da mãe para o bebê. Ao menos três Estados (Bahia, Pernambuco e Paraíba) têm registros de recém-nascidos infectados, com quadros de meningite e de hemorragia cerebral que demandam dias de UTI neonatal — estrutura sempre em falta no sistema público de saúde.

Isso vem a se somar às já conhecidas falhas de assistência aos bebês com microcefalia associada ao vírus da zika. Famílias no Nordeste se queixam da falta de remédios e de vagas nos serviços de reabilitação.

Bem ou mal, os gestores públicos têm tentado dar respostas a essas questões. Mas um dos pontos centrais na guerra contra o mosquito Aedes aegypti, o saneamento básico, pouco avança na agenda política nacional.

Só 58% dos domicílios brasileiros têm coleta de esgoto. A maioria dos dejetos (61%) sai dos nossos banheiros e segue para fossas, rios e lagos.

Mais de 50% dos municípios ainda não resolveram de forma adequada o destino final do lixo. No Congresso já corre novo projeto para adiar para 2024 o prazo de obrigatoriedade para o fim dos “lixões”.

Perto de 85% das casas possuem rede de água, mas não há dados de quantas famílias sofrem com desabastecimento. No último índice nacional de infestação de Aedes, 82,5% dos focos no Nordeste estavam em depósitos de água para consumo. E, no Sul, 49% no lixo urbano.

As ações contra as arboviroses sempre estiveram focadas no combate ao Aedes, e não nas condições socioambientais. Há muito que o “fumacê” se mostra ineficiente. Em geral, só serve para jogar dinheiro fora e gerar mosquitos mais resistentes.

Há boas perspectivas em relação aos mosquitos transgênicos, mas, sem um olhar para as cidades, para a falta de saneamento e a urbanização caótica dos grandes centros, o país pouco avançará no combate ao Aedes. Seguirá colecionando epidemias recordes, mortes evitáveis e gerações de pessoas sequeladas.

Fonte: Folha de São Paulo

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