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Estudo encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Instituto FSB Pesquisa mostra que nove em cada dez indústrias brasileiras afirmam adotar práticas de gestão de resíduos e ações para reduzir o desperdício de água e energia.
O levantamento ouviu 500 empresas de médio e grande porte.
A preocupação ambiental aparece, com destaque, na esteirada pressão de consumidores e investidores internacionais, assim como de medidas importantes aprovadas pelo setor público, como o Marco Legal do Saneamento e o Plano Nacional de Segurança Hídrica. O estudo se soma a outros realizados pela CNI que compõem um amplo diagnóstico sobre as tarefas mais urgentes do país nesse setor. Entre elas, o investimento de R$ 42,7 bilhões para a redução das perdas decorrentes de canos furados, tubulações defeituosas e roubos de água. O Brasil desperdiça 40% da água que sai das companhias de distribuição – quatro vezes mais que em países como Alemanha ou Japão. Especialistas apontam que há um contexto cada vez mais favorável a esses investimentos, decorrente das crises hídricas vividas pelo país em 2015 e 2021, que aumentaram a conscientização ambiental tanto do governo quanto do setor público. “Ainda assim, é necessário que mais atitudes concretas sejam tomadas para a preservação da água”, diz Gesner Oliveira, professor da FGV EAESP e sócio da GO Associados. Além disso, quase dois terços das companhias ouvidas (63%) garantem que ampliarão o investimento em sustentabilidade nos próximos dois anos. É o caso, por exemplo, da multinacional GS Inima, que possui oito concessões de saneamento básico no Brasil e conta com unidades de dessalinização e produção de água de reúso industrial. Dois fatores distintos impulsionam as ações em prol da sustentabilidade: para 41% dos entrevistados, a motivação vem da necessidade de melhorar ou ampliar a boa reputação junto à sociedade e aos consumidores; e 40% visam atender às exigências regulatórias.
“Houve muitos avanços, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. As mudanças climáticas impactam a questão hídrica, o que demanda mais investimentos para equacionar os problemas”, analisa Sebastian Butto, sócio da Siglasul consultoria. “Além dos investimentos normais, é muito importante a criação de planos de contingência para os momentos de escassez”, completa ele.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) estima que aumentarão em 42% as retiradas de água até 2040 – um incremento de 26 trilhões de litros extraídos dos mananciais. Sem investimentos, 70 milhões de brasileiros estarão em situação de risco hídrico e a indústria e o setor agropecuário poderão perder cerca de R$ 510 bilhões, segundo a agência reguladora. O debate sobre segurança hídrica não é recente. Ele remonta aos tempos da elaboração da Constituição Federal de 1988, quando o termo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos foi usado pela primeira vez. A Lei 9433/1997 disciplinou o uso desses recursos e, posteriormente, a Lei 9984/2000 criou a Agência Nacional de Águas.
“A ideia era promover estudos hidrológicos para planejar o bom uso da água e dos rios”, recorda o ex-professor da Coppe/UFRJ Jerson Kelman. Com a experiência de quem foi presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) e diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Kelman aponta uma falha na legislação: a questão da territorialidade.
“Se o rio passar por um estado, é esse ente federado que define seu uso. Se o mesmo rio cruzar dois estados distintos, pode há ver duas regras diferentes de manejo dessas águas”, exemplifica ele. O país também enfrenta dificuldades com os resíduos sólidos: prioridade para 42% das empresas entrevistadas. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2020, o Brasil possuía 1.454 lixões a céu aberto, e 20,8 milhões de habitantes (9,8% da população) sem acesso aos serviços de coleta regular direta e indireta. Nesse grupo desatendido, 88% das pessoas são residentes em áreas rurais.
EFEITOS SANITÁRIOS
Por ano, são registradas mais de 350 mil internações hospitalares por doenças relacionadas ao saneamento inadequado. Aprovado recentemente pelo Congresso, o Marco Legal do Saneamento Básico tem o objetivo de modificar esse quadro. Para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Privados de Água e Esgoto (ABCON/Sindicon), Percy Soares Neto, a melhoria no serviço de saneamento brasileiro dará um novo dinamismo à economia nacional.
“Metade da população não é atendida por rede de esgoto, e 31 milhões de brasileiros não têm acesso à água. Se quisermos cumprir as metas de, até 2033, termos 90% da população com acesso ao esgoto e 99%, à água, precisaremos de esforços enormes de diversos setores da indústria nacional. E ela vai precisar estar preparada para isso, e complementa, a melhoria no serviço de saneamento dará um novo dinamismo à economia nacional”, pontua Percy.
Foto: Percy Soares Neto.
Para atingir essas metas, uma mudança em curso na cultura corporativa tem sido a adesão aos princípios do ESG. A sigla, em inglês, refere-se a preocupações ambientais, sociais e de governança das corporações. Cerca de sete em cada dez executivos ouvidos admitem que ainda estão pouco ou nada familiarizados com a sigla, embora 81% deles achem que ela é importante ou muito importante. Dos três pilares, a governança é vista como o mais relevante, com 39% das respostas, ante 29% que citaram o social e 23%, o ambiental.
“O ESG está presente no dia a dia do brasileiro, desde a política de reciclagem ou reaproveitamento de resíduos sólidos, passando pela preocupação com a redução da emissão de gases de efeito estufa em serviços de entrega de comida, até iniciativas de combate à discriminação e ao assédio contra minorias. Por outro lado, ainda há muito a evoluir”, argumenta Gesner Oliveira.
Alguns resultados da pesquisa CNI/FSB
Entrevistas a executivos de 500 indústrias de médio e grandes portes apontou que:
- 94% dos executivos enxergam oportunidades nas ações de sustentabilidade;
- 72% admitem que estão pouco ou nada familiarizados com a sigla ESG;
- 71% acreditam que o Estado deve controlar e estimular as empresas para que elas sigam regras ambientalmente sustentáveis;
- 73% ampliarão os investimentos em sustentabilidade nos próximos dois anos;
Fonte: Revista Indústria – Confederação Nacional da Indústria