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Pesquisa mostra que reciclagem de cápsulas de café é problemática

Nativas do século XXI, as cápsulas de café representam um mercado em expansão no Brasil e no mundo, mas, ao que tudo indica, ainda falta ao produto uma qualidade importante nos tempos atuais: a sustentabilidade. Pesquisas realizadas, a pedido do GLOBO, pela associação de consumidores Proteste e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostram que o setor não se encarrega, como deveria, de providenciar uma destinação adequada a seus resíduos, conforme determinado pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). De acordo com as pesquisas, apesar de a indústria classificar as cápsulas como objetos recicláveis, a reutilização do material é, hoje, praticamente inviável no Brasil.

Fora do país, o assunto vem rendendo questionamentos públicos. Este ano, a cidade de Hamburgo, segunda maior da Alemanha, baniu a compra das cápsulas por órgãos públicos, devido à dificuldade de reciclagem dos detritos. Já a ONG europeia Zero Waste classificou o café em cápsulas como a forma da bebida mais danosa ao meio ambiente.

As pesquisas encomendadas pelo GLOBO analisaram aspectos diferentes e essenciais para a reciclagem das cápsulas das três principais marcas do Brasil (Dolce Gusto, Nespresso e 3 Corações). Enquanto a Proteste verificou, por exemplo, se as empresas orientam corretamente os consumidores sobre como colaborar para a reutilização das cápsulas após o uso, a Unicamp analisou a composição material do objeto. Ambas reprovaram o mercado nacional no que diz respeito à sustentabilidade.

Após avaliar rótulos e canais de comunicação das marcas, a Proteste informou que todas elas deixam de orientar adequadamente seus consumidores sobre a forma de lidar com os detritos.

A Nespresso e a Dolce Gusto oferecem pontos de coleta das cápsulas, destinadas posteriormente a sistemas internos de reciclagem (as empresas não divulgam, porém, o volume processado até hoje). A Nespresso tem 28 pontos de coleta no país, enquanto a Dolce Gusto dispõe de 15 pontos. A Proteste, no entanto, concluiu que as informações sobre esses pontos são pouco divulgadas, presentes apenas nos sites das companhias.

No caso da Dolce Gusto, a associação avaliou que “o site da empresa não é muito claro e informa sobre os programas de reciclagem europeus”. Já a 3 Corações, além de não fornecer orientações no rótulo, não tem programa de reciclagem, o que afirma estar em desenvolvimento.

De acordo com dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), 18% dos municípios do país, entre eles o Rio, contam com sistemas públicos de reciclagem, para onde vai parte do lixo recolhido. Porém, mesmo que as cápsulas cheguem aos centros de reciclagem, não existe know-how, nem mercado, para processar esses resíduos.

A explicação para esse problema está, justamente, na complexidade da composição dos objetos. Após análises físico-químicas de cápsulas das três marcas, uma pesquisa preliminar liderada pela professora Ana Paula Bortoleto, do Departamento de Saneamento e Ambiente da Unicamp, concluiu que “não há viabilidade técnica” para a reciclagem — por obstáculos que vão da mistura de componentes à diferença de materiais usados pelas marcas (plástico e alumínio, principalmente).

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A análise apontou também que a extração e o processamento do alumínio virgem têm alto custo ao meio ambiente e que, no caso dos polímeros usados majoritariamente pela Dolce Gusto e pela 3 Corações, a reciclagem é complexa e requer uma segregação cuidadosa ao longo do processo. Há ainda a geração do lixo eletrônico com as máquinas e dificuldades no transporte pelo peso e propriedades orgânicas da borra de café, que fica úmida depois do uso.

— Se você pensar no impacto de uma cápsula, não parece muito. Mas esse mercado traz o incentivo ao consumo de algo que não existia. O tamanho é a desculpa, mas tente juntar as cápsulas que consome por um mês e perceba o impacto. Não existe solução mágica — resume Bortoleto.

George Clooney questionado
O impacto ambiental das cápsulas é debatido ao redor do mundo. O astro George Clooney, rosto da publicidade da Nespresso, já contou ao jornal inglês “The Guardian” que foi por vezes questionado quanto à sustentabilidade do produto. Enquanto isso, o americano John Sylvan, que criou uma versão de café em cápsulas nos EUA, o K-Cup, já declarou arrependimento, por causa do impacto ambiental. Ex-executivo da Nespresso, o suíço Jean-Paul Gaillard, por sua vez, fundou a Ethical Coffee Company, que produz cápsulas biodegradáveis.

No Brasil, uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) com a consultoria Euromonitor prevê que o café em cápsulas, responsável por 0,6% das vendas de café em 2014, alcance 1,1% em 2019. A associação estima que, em 2019, sejam consumidas 16 mil toneladas do produto nessa modalidade — em 2014, foram 6 mil toneladas. Dados da Kantar Worldpanel mostram que, em 2015, mais de 80% do volume foram comprados pela classe AB, e metade nas regiões de Rio e São Paulo.

— A expansão das cápsulas foi tão rápida que os fabricantes não tiveram tempo de se debruçar sobre o problema ambiental. Acredito que a questão da sustentabilidade está em caminho de resolução — reconhece o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.

O GLOBO consultou cooperativas do Rio e de São Paulo, que foram enfáticas ao afirmar que não há quem recicle cápsulas no Brasil. Fernanda Cubiaco, do Movimento Lixo Zero, destaca que as empresas deveriam priorizar a chamada logística reversa, termo que define a responsabilidade de fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores e órgãos públicos de providenciar o destino correto aos diversos produtos. Ou seja, cabe à cadeia produtiva a responsabilidade pelos seus próprios detritos.

— Por estarem vindo ao mundo em pleno século XXI, as indústrias têm que nascer com um mecanismo de logística reversa — defende Fernanda.

Em nota, a Dolce Gusto destacou que “cumpre rigorosamente a legislação brasileira” e oferece informações claras no site. Além disso, afirmou que recicla as cápsulas coletadas através de um processo de extrusão, que gera uma resina plástica. Já a 3 Corações apontou que orienta sobre o descarte correto através do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) e que “está em fase de finalização de sua nova fábrica de cápsulas no Brasil, em Montes Claros (MG). A nova planta industrial contará com uma célula-piloto para viabilizar a proposta de separação, tratamento, destinação e transformação dos materiais de suas cápsulas”.

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Por sua vez, a Nespresso afirmou que as embalagens têm o símbolo internacional de reciclagem e que a marca “está em constante comunicação com sua base de clientes”. A empresa destacou ainda: “Houve um esforço de aproximação com as principais cooperativas de reciclagem de alumínio, infelizmente sem sucesso. Não havia no país know-how de reciclagem deste seguimento de cápsulas de café feitas de alumínio, portanto a Nespresso desenvolveu maquinário que faz a separação [da borra de café e do alumínio], em Barueri (SP)”.

Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Fonte: O Globo

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