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Programa Nacional de Logística Reversa aprimora a logística de descarte

Imagem Ilustrativa

Brasil recolheu em 2020 apenas 22% dos resíduos de eletroeletrônicos e reciclou 23% do plástico

A pressão social para a destinação adequada de resíduos, liderada inicialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações não governamentais algumas décadas atrás, vem ganhando força de lei em diversos países e um papel cada vez mais relevante na estratégia empresarial.

Mais do que requisitos legais que as obriguem a adotar boas práticas, as companhias levam em conta a importância que consumidores e investidores passaram a dar às suas ações ambientais, sociais e corporativas, resumidas na sigla ESG. No caso do descarte de seus produtos, a responsabilidade de fabricantes e importadores não termina mais na entrega feita aos consumidores. No Brasil, o Programa Nacional de Logística Reversa, criado em janeiro, estabelece a obrigatoriedade de comprovação, por parte dessas empresas, da reciclagem de no mínimo 22% das embalagens que põem no mercado, sob pena de multas de R$ 5 mil a R$ 50 milhões.

“É um passo importante, sem dúvida, embora tenha demorado tanto, já que a Política Nacional de Resíduos Sólidos é de 2010”,

Pondera Carlos Silva Filho, presidente da Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Ele nota que tem havido progressos importantes nos últimos anos – a destinação adequada do lixo comum, por exemplo, passou de 40% a 60% no país, entre 2012 e 2022 -, mas ainda há muito o que avançar.

“A reciclagem antes da coleta é de apenas 4%”, informa.

 

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Segundo a Abrelpe, o volume de lixo coletado no país em 2020 foi de 76,1 milhões de toneladas – estima-se que outras 6,4 milhões de toneladas, volume que poderia encher 3 mil piscinas olímpicas, sequer foram recolhidas. Cerca de 85% de tudo que foi descartado, regular ou irregularmente, poderia ter um destino mais sustentável, observa Silva.

“Já conhecemos as tecnologias para reciclar 40% de todo o lixo, assim como de aproveitar outros 45% na geração de energia, mas ainda estamos muito distantes dessas metas”, afirma.

De todo modo, seja por se tratar do descarte de materiais mais danosos ao ambiente, ou por legislações regionais mais rigorosas, ou ainda por iniciativa própria de empresas, a logística reversa vem colhendo resultados importantes. Entre 2010 e 2019, por exemplo, a reciclagem de embalagens de defensivos agrícolas cresceu de 31 mil toneladas para 45 mil toneladas, a de invólucros de óleos lubrificantes passou de 1,1 mil toneladas para 4,7 mil e a de pneus foi de 312 mil toneladas para 371 mil.

Quinto maior gerador de resíduos eletroeletrônicos, o Brasil recolheu 470 toneladas desse material em 2020, cerca de 22% dos 2,1 milhões de toneladas que descartou. Quarto maior produtor de plásticos, reciclou 23% do que foi jogado fora. Ainda são índices bem inferiores ao reaproveitamento que o país faz das latinhas de alumínio, em que é referência mundial (em 2021 chegou a 98,7%, segundo a Recicla Latas), mas também apontam uma evolução.

“A nova regulamentação traz critérios mais claros para acelerar a reciclagem em geral”, espera o secretário de qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente, André França.

O programa de logística reversa conta com 3,1 mil pontos de coleta de material reciclável, segundo o ministério, e a meta é chegar a 5 mil até 2025.

O investimento em reciclagem é feito indiretamente, por meio de contratos com companhias conectadas a cooperativas de catadores, e representa uma fração do que as empresas normalmente empregariam em marketing. O laticínio Scala, por exemplo, que processa 600 mil litros por dia na fabricação de vários tipos de queijos, está investindo R$ 60 mil este ano na reciclagem de 60% de suas embalagens – quase o triplo do que é exigido por lei.

“Reciclamos 40% em 2021 e pretendemos chegar aos 100% dentro de alguns anos”, diz Cleidomar dos Reis, coordenador de meio ambiente da Scala, que mantém contrato com a eureciclo, maior certificadora de logística reversa do país.

As companhias que fazem a ponte entre indústrias e catadores simplificam o processo de reciclagem, uma vez que nem todas as embalagens podem ser reaproveitadas pelo gerador dos resíduos.

Fonte: Valor Econômico

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