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Entenda como a reciclagem pode ser aplicada para dar um novo destino ao que sobrou da obra

Imagem Ilustrativa

A dificuldades de dar um destino correto a este tipo de material faz que, principalmente nos grandes centros urbanos, terrenos baldios sejam tomados por montes de resíduos de construção e demolição (RCD).

Usina de reciclagem em Canoas transforma resíduos da construção civil em matéria-prima; saiba mais sobre a iniciativa

Em 2020, foram coletadas pelos municípios brasileiros cerca de 47 milhões de toneladas de RCD, o que representa um crescimento de 5,5% em relação a 2019. Com isso, como apontou o levantamento Panorama dos Resíduos Sólidos de 2021 da Associação de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a quantidade coletada foi de 221,2 quilos por habitante no ano.

Muito se fala da reciclagem da coleta seletiva e da correta destinação do resíduo doméstico, embora na prática tenha muita gente que sequer separe o material seco do orgânico.

Exemplo de Canoas

Canoas é a única cidade gaúcha com uma usina de reciclagem da construção civil. A economia circular com os inertes ocorre no município desde 2019, quando o empreendimento foi inaugurado. Instalada no Distrito Industrial Jorge Lanner, é maior usina de reciclagem deste tipo no Brasil.

O empreendimento foi instalado, como explica a prefeitura, por existir um passivo ambiental de anos.

A área do bairro Niterói era utilizada como um lixão e apresentava diversos problemas, dentre eles, os incêndios que aconteciam no local. Todo e qualquer tipo de material irregular era depositado no endereço, sem nenhum tipo de controle ou fiscalização. Agora, com o contrato de operação da usina, a realidade é outra. Para fazer o gerenciamento correto dos resíduos e ainda ter matéria-prima para utilizar nas obras públicas, a prefeitura firmou contrato de cinco anos com a empresa SBR.

O investimento, cerca de R$ 80 milhões, contempla ainda o recolhimento e gestão dos resíduos e o funcionamento dos cinco Ecopontos em Canoas. Conforme a prefeitura, o material produzido na usina foi utilizado para a construção do Ecoponto Niterói, inaugurado em abril e gerou economia de mais de R$ 65 mil. Os materiais reciclados também foram usados na construção da estrada de acesso ao parque industrial.

Volume processado

São processados por mês 15 mil metros cúbicos de material, o que gera a economia de R$ 600 mil mensais aos cofres públicos de Canoas. E o mais importante: são 15 mil metros cúbicos de material que ganha nova utilização.

Inclusive outros municípios já pediram para visitar a usina e entender o funcionamento do projeto.

Segundo o engenheiro Marcos Eugênio Dauernheimer, consultor da SBR, 110 funcionários operam a usina. Antes, havia uma cooperativa que trabalhava na informalidade no local e três trabalhadores daquela época foram regularizados, receberam treinamento e passaram a integrar o quadro da empresa.

O espaço também recebe madeira e vegetação (podas), resíduos depositados em uma área específica, que recebem tratamento diferenciado.

A SBR recebe também entulho de particulares, desde que essa intermediação do serviço seja feita via prefeitura. Conforme Dauernheimer, isso possibilita que o morador dê um destino correto também ao seu resíduo. Atualmente, é cobrada uma taxa de R$ 22,64 por metro cúbico, sendo que uma caçamba transporta, em média, cinco metros cúbicos.

“Por isso, o ideal é que a pessoa, quando for planejar a obra, deixe este recurso reservado para cuidar do seu entulho”, analisa.


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Passo a Passo da Reciclagem

Pedrisco reciclado

É aplicado no revestimento primário, sub-base, concreto magro, fabricação de artefatos de concreto, lajes pré-moldadas, manilhas, pisos intertravados e drenantes, drenos, tubos, blocos, calçadas, meio-fio, cobertura de estacionamentos e pátios.

Brita 1 reciclada

Usado em base, concreto magro, massa asfáltica, fabricação de artefatos de concreto, como peças pré-moldadas de guias, bases e sub-bases de pavimentação, drenos, revestimentos de terrenos, pátios e áreas de estacionamentos e concreto não estrutural.

Brita graduada simples/Bica corrida reciclada

Usada na base e sub-base para pavimentação, revestimento de pátios e áreas de estacionamentos.

Pó de pedra reciclado/Areia reciclada

Usada no reforço de subleito, revestimento primário, sub-base, concreto magro, fabricação de pré-moldados, estabilizador de solo, argamassas, contrapiso, chapisco, blocos, assentamento de piso intertravado, tijolos de vedação, massa asfáltica e pistas de caminhada.

Viabilidade

Dauernheimer explica que a reciclagem do RCD compensa quando o material está no máximo a 20 quilômetros de distância do local onde fica a usina. Por isso que, por exemplo, resíduos de Novo Hamburgo não seriam viáveis para Canoas, mas o material oriundo de Esteio, compara o engenheiro, poderia ser levado até Canoas. Embora tenha o ganho ambiental, economicamente não compensaria devido aos custos de transporte. A sugestão, de acordo com ele, seria a instalação de uma usina em uma área já licenciada para o recebimento de inertes para atender uma microrregião.

Por dia, chegam ao local 300 caminhões com resíduos. “Mas temos a capacidade de atender o dobro disso”, informa o engenheiro. No entanto, neste último mês a demanda foi menor devido à chuva, que desacelera o trabalho na construção civil. A chuva também interfere na operação da usina, visto que quando os resíduos estão muito molhados não há como utilizar as máquinas porque a terra acaba aderindo aos equipamentos, atrapalhando o processo de separação.

O parque tem 100 hectares de área, desde o dique, junto ao Rio dos Sinos até a Base Aérea de Canoas. No entanto, o espaço utilizado é de 21 hectares.

A Usina do Saber

Na usina também está previsto um projeto de educação ambiental, a Usina do Saber, por meio de parceria entre a SBR e o município. Segundo assessoria da prefeitura, o projeto ainda não foi implantado por conta das restrições trazidas pela pandemia. A intenção é que a usina seja utilizada por qualquer escola para incentivar a reciclagem, separação e destinação correta dos resíduos.

Materiais ganham destino correto

Para se ter uma ideia do tamanho do volume que foi depositado ao longo dos anos no espaço que chegou a ser apelidado de “lixão de Canoas”, são 14 metros de profundidade de resíduos até que se chegue ao “chão firme”.

Entre as sobras da construção civil, são misturados muitos pneus, material que é separado e ganha a destinação correta, pois não é possível misturá-lo aos produtos produzidos na usina. Depois que a carga chega à usina, o material passa por processos de seleção mecânicos e manuais. O processo é semelhante ao que ocorre nas cooperativas de reciclagem de resíduo doméstico. O material que não serve para a reciclagem da construção civil, como vidros, pedaços de ferro e outros produtos são separados e levados para outros parceiros, a fim de receberem um destino correto.

Construção civil é o setor que mais utiliza recursos naturais

O presidente da Associação Brasileira para a Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e Demolição (Abrecon), Hewerton Bartoli, lembra que os restos da construção civil são o principal vilão dos resíduos sólidos do Brasil. “Os entulhos somam 50% daquilo que é produzido pelos municípios e isso, infelizmente, é negligenciado pelo poder público”, diz.

De acordo com ele, a utilização de materiais reciclados na construção civil, além de preservar o meio ambiente, representa uma economia de até 30% nos custos da obra. Em relação às consequências na utilização de recursos naturais, não há estudos específicos sobre o tema. “Mas se pode ter uma dimensão porque o setor é o que mais consome e o que mais impacta, ambientalmente falando.”

Além disso, o dirigente avalia que as cidades têm gastos desnecessários por não gerenciarem seus resíduos da construção civil de maneira correta. O que tem reflexo no acúmulo de lixo em momentos de enchentes, tubulações entupidas e nas questões de saúde, em especial, na proliferação da dengue.

O Brasil hoje possui cerca de 400 recicladores da construção civil, a maioria concentrada nas regiões Sul e Sudeste, sendo São Paulo o Estado com mais empresas. São mais de 100 milhões de toneladas de material produzido no País. “Menos de 10% é reutilizado. Tem uma ociosidade e um mercado grande para expandir”, aponta. Na sua avaliação, o mercado da construção civil amadureceu nos últimos dez anos e já tem mais receptividades para os materiais reciclados. “Mas ainda há um processo de revolução e uma longa jornada pela frente”, conclui.

Usina deve dobrar a sua capacidade

Além de atender a prefeitura, a empresa também recebe resíduos da iniciativa privada, um trabalho à parte e conta com espaço distinto dentro da área onde está instalada a usina. Atualmente, a SBR trabalha na montagem de uma nova linha de reciclagem, o que deve dobrar a capacidade de processamento total, chegando a 30 mil metros cúbicos mensais.

Inclusive, os restos do prédio da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), que precisou ser implodido depois que um incêndio comprometeu toda a estrutura, foram levados para a usina, somando 15 mil metros cúbicos.

Destinação correta entre os grandes

Na avaliação da engenheira civil Franciele Rodrigues de Oliveira, que faz mestrado na área de Gerenciamento de Resíduos, existe dificuldade para as empresas de construção civil darem um destino correto aos resíduos. “Além de falta de conhecimento sobre a legislação por parte dos colaboradores”, aponta.

Ela afirma ainda que há problemas em relação ao armazenamento temporário, já que os materiais acabam sendo dispostos de modo a não permitir a sua utilização ou reciclagem futura conforme as normas técnicas específicas.

Conforme Franciele, as empresas de grande porte investem para dar um destino correto aos resíduos, mas a realidade ainda não chegou aos pequenos construtores e quem realiza reparos por conta própria. Essa situação também reflete em maior desperdício de material.

Fonte: Jornal NH.

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