saneamento basico

Reflexões sobre a abordagem do ciclo de vida para avaliar o desempenho ambiental de estações de tratamento de esgoto

Resumo

As regulamentações ambientais brasileiras para tratamento de águas residuárias estabelecem padrões para lançamento dos efluentes tratados nos corpos hídricos, porém, não fazem referência aos impactos ambientais associados à construção e operação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). O presente trabalho tem como objetivo aplicar a Avaliação de Ciclo de Vida para estimar os potenciais impactos ambientais associados ao tratamento de esgoto em duas ETE de pequeno porte, que atendem empreendimentos habitacionais no município de Lauro de Freitas, Bahia. O estudo foi realizado para as fases de construção e operação das ETE. A unidade funcional definida foi 1,0 m3 de efluente tratado durante 20 anos de vida útil das ETE. O estudo utilizou o programa SimaPro®, o método CML 2000 e o banco de dados do Ecoinvent® para as categorias de impacto: Depleção Abiótica, Aquecimento Global, Acidificação e Eutrofização. Os resultados mostram que a categoria de o impacto de maior relevância é a eutrofização. Entretanto, uma das limitações observadas é que a análise é realizada sem considerar a qualidade da água do corpo hídrico receptor. Os resultados mostram que o maior consumo de energia e produtos químicos prejudica o desempenho ambiental das estações. Assim, o estudo permite concluir que para avaliar o desempenho ambiental dos sistemas de tratamento de esgotos é preciso considerar o trade-off entre a eficiência do tratamento e padrões de qualidade do efluente, de um lado, e o consumo de energia e uso de químicos durante a operação, do outro.

Introdução

As tecnologias de tratamento de esgotos domésticos possuem diferentes características e desempenhos, gerando diferentes impactos no ambiente. Alguns processos de tratamento de esgotos apresentam alto consumo energético ou usam materiais com alta carga energética embutida, outros, ocupam uma extensa área de terra. As ETE são projetadas para minimizar os impactos ambientais do descarte de efluentes sem tratamento nos compartimentos ambientais, portanto, deveriam ser concebidas para a máxima redução desses impactos, de modo que os impactos envolvidos com a construção e operação fossem considerados e, não apenas, aqueles oriundos do lançamento dos esgotos tratados nos corpos hídricos receptores (Dixon et al., 2003).

A legislação ambiental vigente restringe os valores de concentrações de poluentes, nutrientes e micro-organismos patogênicos com o objetivo de minimizar os impactos ambientais do lançamento de águas residuárias tratadas nos corpos hídricos naturais. Porém, não regulam outros potenciais impactos ambientais que são ocasionados pela implantação, operação e fim-de-vida das ETE (Foley et al., 2010). No Brasil, as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) Nº 357/2005 e Nº 430/2011 estabelecem padrões de lançamento dos esgotos tratados para proteção dos corpos hídricos receptores, e também, não fazem referência aos impactos ambientais associados ao ciclo de vida das ETE. Entretanto, os objetivos dos sistemas de tratamento precisam ir além da proteção da saúde humana e dos corpos hídricos para incluir a minimização do uso dos recursos naturais, reduzindo o consumo de energia e água, uso de produtos químicos, geração de resíduos e permitir a reciclagem dos nutrientes (Lundin et al., 2000).

A de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) se apresenta como uma ferramenta viável para avaliar o desempenho ambiental dos sistemas de tratamento de esgotos (Corominas et al., 2013; Zang et al., 2015). A metodologia trata com abrangência as questões ambientais e permite avaliar de forma integrada os aspectos ambientais e potenciais impactos associados, gerando informações que podem auxiliar na escolha de tecnologias pelos tomadores de decisão e identificar pontos críticos dos processos (Lopsik, 2013).

Além disso, a ACV tem se mostrado válida para avaliar o desempenho ambiental de sistemas de coleta, transporte e tratamento de esgotos, pois utiliza uma abordagem sistêmica ao longo do seu ciclo de vida e permite identificar os potenciais impactos ambientais em escala global e local. A ACV pssibilita uma avaliação dos sistemas de tratamento de esgoto que vai além do habitual trade-off entre eficiência de tratamento e padrão de qualidade do efluente final, incorporando o consumo de energia e uso de produtos químicos durante a operação e manutenção (Risch et al. 2014).

Entretanto, a ferramenta apresenta limitações que devem ser examinadas e aprimoradas, como a definição da unidade funcional, os critérios para a delimitação da fronteira do sistema e considerações de cenários alternativos, a dificuldade de obtenção de dados confiáveis, quais os critérios para definição do que é representativo ou desprezível e a incorporação das especificidades técnicas locais. Na fase de avaliação de impacto, as maiores complicações são: a escolha dos métodos de avaliação e das categorias de impacto e a representatividade da particularidade e dinâmica do ambiente local (Reap et al., 2008).

A aplicabilidade da ACV é demonstrada pelo grande número de publicações de estudos dessa técnica nos sistemas de tratamento de águas residuárias (Corominas, et al. 2013). Entretanto, a aplicação de ACV em sistemas de tratamento de esgotos no Brasil é ainda bastante incipiente, o que chama a atenção para a necessidade de mais estudos aplicados à realidade brasileira.

Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo aplicar a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) para avaliar o desempenho ambiental de duas ETE de pequeno porte, instaladas no município de Lauro de Freitas, Bahia, discutindo a adequação e limitações para aplicação rigorosa da ACV na área do tratamento de esgotos sanitários.

Autores: Thaís Andrade de Sampaio Lopes; Luciano Matos Queiroz; Sandro Lemos Machado e Asher Kiperstok.

baixe-aqui

Últimas Notícias:
Embrapa Saneamento Rural

Balanço Social da Embrapa destaca ações em saneamento básico rural

As ações desenvolvidas pela Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP) e parceiros em saneamento básico rural estão entre os nove casos de sucesso do Balanço Social da Embrapa 2023, que será apresentado na quinta-feira (25), a partir das 10 horas, em Brasília, na solenidade em comemoração aos 51 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Leia mais »