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Implantação de PCQO – ponto de controle de qualidade operacional a partir de ideia desenvolvida por equipe de melhoria

Introdução

Considerando que a água é um elemento fundamental para a vida e que a qualidade da água é o requisito principal para garantir boa saúde à população, este trabalho apresenta uma experiência bastante positiva, desenvolvida por um grupo de circulistas, para redução de não conformidades na rede pública de abastecimento de água de Joinville.

Os PCQs – Pontos de Controle de Qualidade ou PCQOs – Pontos de Controle de Qualidade Operacional, são dispositivos que possibilitam a coleta de água em pontos da rede para posterior análise da qualidade em laboratório. Alguns destes pontos também possibilitam o monitoramento da pressão na rede.

Para assegurar a qualidade da água distribuída a Companhia Águas de Joinville, realiza, mensalmente, a coleta de água em 220 pontos na rede de distribuição da cidade. Porém, como existem vários modelos de hidrômetros e padrões de ligação em Joinville, o que dificulta o trabalho dos profissionais do Laboratório de Controle de Qualidade em manter uniformidade no processo de coleta, um grupo de circulistas do Programa de CCQ – Círculo de Controle de Qualidade da empresa desenvolveu uma ideia inovadora para resolver o problema. Utilizando de materiais já existentes na empresa e fazendo uma pequena adaptação no atual sistema de caixa-padrão da organização, o grupo criou um engate rápido em aço inox, o qual possibilita o acoplamento de uma pequena mangueira no processo de coleta de água.

Com a instalação deste novo equipamento o processo de coleta ficou 100% uniformizado, o que tem garantido uma coleta rápida, segura e com chances baixíssimas de contaminação. Com este projeto a empresa economizou R$ 282.404,40 em um ano. Além disso, o projeto do PCQO também vem sendo utilizado na área operacional da empresa, para acoplar loggers e medidores de pressão, reduzindo, assim, o retrabalho, incômodos aos clientes e dependência destes para realização dos trabalhos.

Objetivo

Apresentar a experiência de desenvolvimento e implantação de um PCQO na Companhia Águas de Joinville, a partir de ideia de uma equipe de melhoria, para diminuição do número de não-conformidades na análise de amostras de água na rede de distribuição de água.

Metodologia

A abordagem metodológica será qualitativa, do tipo estudo de caso, com consulta em fontes primárias e secundárias de dados, tais como: livros, artigos técnicos, além, de materiais fornecidos pela Companhia Águas de Joinville no que tange ao projeto de CCQ denominado: “Ponto de Controle de Qualidade Operacional – PCQO”.

Para promover o abastecimento de água, faz-se necessária a potabilização das águas naturais. Este processo consiste na adequação da água bruta aos padrões de potabilidade vigentes estabelecidos pela Portaria nº 518 de 25 de Março de 2004. De modo geral, o tratamento de água ocorre pela na remoção de partículas suspensas e coloidais, matéria orgânica, micro-organismos e outras substâncias possivelmente deletérias à saúde humana presentes nas águas. (BOTERO, 2009).

O controle de qualidade em cada etapa possibilita à estação de tratamento de água (ETA) atender à critérios de qualidade e legislações pertinentes. (ACHON, 2008).

Para assegurar a qualidade da água distribuída em Joinville, o Laboratório de Controle de Qualidade de Água da Companhia Águas de Joinville precisa realizar o procedimento de coleta de água em 220 pontos na rede de distribuição água, de modo uniforme e de acordo com os requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade, implementado com base nos critérios da ISO 17025, do INMETRO.

Cada ponto de coleta das amostras possui localização estratégica e seu cadastro é feito anualmente junto à agência reguladora. Cada ligação atende uma ou mais economias, alguns pontos são escolas e hospitais, outros são residências ou comércios. Há vários modelos de hidrômetros e padrões de ligação em Joinville, sendo que esta variedade dificulta o trabalho do laboratório, que precisa realizar o procedimento de coleta de modo uniforme e de acordo com os parâmetros da legislação.

Descrição dos pontos de coleta antes da implantação do PCQO:

  • Material (entulho e lixo) próximo ao hidrômetro prejudicando o acesso para a coleta da amostra de água;
  • Dificuldade de acesso ao hidrômetro, pois o dispositivo estava localizado dentro do lote, sendo necessário que o morador estivesse em casa para realizar a coleta;
  • A coleta era realizada em torneiras, e não no HD, prejudicando a padronização no procedimento de amostragem, o rendimento da execução das coletas e onerando os clientes quando a amostra coletada passava pelo HD.

Resultados obtidos

O grupo de CCQ denominado “Metro cúbico” desenvolveu a ideia do projeto de PCQO e auxiliou na sua implantação. Porém, até se obter o resultado final, foram feitas três tentativas até se resolver o problema completamente.

Primeira tentativa:

Em 2013 foi sugerido o primeiro modelo de PCQO. O grupo teve a ideia utilizar as caixas padrão de HD para coleta das amostras. O projeto foi desenvolvido em parceria com o LCQ e a Coordenação de Adução e Distribuição da Companhia Águas de Joinville. O modelo apresentado possuía um alto custo, mas atendia as necessidades observadas. Iniciou-se então o processo de aquisição dos pontos. Foi feita a inclusão de verba no orçamento. Devido ao alto custo, foram definidos apenas 20 pontos, o que não resolvia o problema identificado completamente.

Segunda tentativa:

Em 2015, o grupo retomou a implantação do projeto utilizando o ciclo PDCA, para encontrar uma maneira de resolver o problema com um menor custo. Uma saída encontrada foi de utilizar materiais que a companhia já possuía disponível e materiais doados por outras empresas, o que permitira a realização de testes. Assim, as caixas padrão foram retiradas para os testes com os materiais adquiridos.

Esta opção não foi aprovada, pois a descarga era realizada depois do hidrômetro, onerando o cliente pela água descartada antes de fazer a coleta, além do fato da exposição do registro a qualquer transeunte, que poderia acessá-lo e provocar o desperdício de água. Devido ao alto custo, a ideia só recebeu verba para implantação em 20 pontos.

Terceira tentativa:

O terceiro modelo alterou a forma em que a água era liberada para antes do hidrômetro. Antes do projeto era preciso abrir o registro para que a água saísse então o registro precisava ser acessível para o Laboratório. Para conseguir uma abertura sem que o registro fosse acionado, foi sugerido o modelo de engate rápido utilizado nos loggers de pressão da empresa, além da realização de uma abertura que permita a saída de água sem abrir a caixa padrão. Esse modelo também garantia que o cliente continuasse não podendo abrir a caixa sem romper o lacre.

No decorrer dos testes surgiram mais algumas dúvidas:

  • Com registro ou sem registro?
  • De que material?
  • Vai precisar usinar?
  • Será que já tem pronto?

Foram adquiridas peças em latão (o mesmo material dos hidrômetros) para montagem da peça coletora.

Foi montado um ponto de coleta no hidrômetro de testes da ETA Cubatão, que ficava ao lado do Laboratório de Controle de Qualidade, facilitando o trabalho dos funcionários nas coletas nestes pontos. Este ponto serviu para comparar os resultados da forma nova de coleta com a forma antiga, com parâmetros de cor, turbidez, cloro, coliformes, entre outros. Os resultados das coletas se mostraram diferentes, pois apesar de o latão ser o mesmo material dos HDs, o mesmo estava oxidando e prejudicando o resultado dos testes.

A solução foi, então, substituir o material do coletor de engate rápido para aço inox, o que não influenciaria nos resultados dos testes. O coletor de engate rápido, feito em aço inox, foi instalado no HD. Os técnicos do LCQ usam uma espécie de torneira portátil, que encaixa no engate para coletar a água.

Analises dos resultados

O projeto foi aprovado pela Agência Reguladora da companhia e pela Vigilância Sanitária da cidade. Além do retorno financeiro, o novo método tem proporcionado mais agilidade, facilitando o processo de coleta do laboratório, permitindo, assim, aumentar o número de coletas diárias.

O projeto do PCQO também vem sendo utilizado na área operacional da empresa, para acoplar loggers e medidores de pressão, reduzindo, assim, o retrabalho, incômodos aos clientes e dependência destes para realização dos trabalhos.

No âmbito do investimento, o a economia gerada foi bastante elevada. No modelo antigo (modelo 2013), o orçamento para a implantação dos 220 pontos do PCQO ficou em R$ 285.768,00. Cada ponto custaria para a empresa R$ 1.190,70, além de custos de manutenção, quando necessário. Para o novo modelo, foram comprados materiais suficientes para montagem dos 220 pontos de PCQO, o que teve um custo de R$ 3.163,60, totalizando R$ 14,38 por ponto instalado. Os dois coletores de inox custaram R$ 200,00. Somando os coletores novos nos custos do projeto, o valor total ficou em R$ 3.363,60. Calculando a diferença do valor orçado no modelo antigo, R$ 285.768,00, para o novo modelo projetado pelo grupo, R$ 3.363,60, foi gerada uma economia de R$ 282.404,40 para a empresa.

Na tabela abaixo podemos ver um histórico das análises de qualidade de água executadas de outubro de 2016 a março de 2017. Os parâmetros analisados foram cloro residual, que pode variar de 0,2 a 2 mg/l; pH, que pode variar de 6 a 9,5; Turbidez, que pode ser no máximo 5 NTU, cor, que deve ser menor do que 15 uC; Flúor, que pode variar de 0,7 a 1 mg/l; bactérias heterotróficas, que devem ser menor do que 500. A análise de Coliformes Totais e E Coli devem ser sempre ausentes. Antes que o PCQO fosse instalado é possível identificar diversos pontos de não conformidades (Amarelo), sendo as mais preocupantes de Coliformes Totais e E. Coli, que podem ser decorrentes de contaminação no momento da coleta. Após a implantação do PCQO (verde) não foram mais identificados pontos de não conformidade em Coliformes Totais e E. Coli, nem em nenhum dos outros parâmetros analisados até então.

Conclusões

A experiência da Companhia Águas de Joinville na implantação do seu PCQO mostrou que muitas boas ideias podem surgir a partir da base de conhecimento existente na própria empresa, para isso é fundamental que haja um ambiente propício para o desenvolvimento de ideias inovadoras por parte dos funcionários. O objetivo do projeto foi cumprido, com a redução do número de não conformidades nas análises de amostras coletadas. Além disso, o PCQO passou a ser utilizado também para outros fins, como para acoplamento de loggers e medidores de pressão pelas equipes da área operacional.

Não desistir dos projetos, mesmo quando eles não apresentam os resultados esperados, é uma das premissas básicas da lógica do PDCA e de programas como o CCQ. Assim, após três tentativas, o grupo encontrou uma solução bastante vantajosa para o problema da empresa. Uma ideia que gerou uma economia de R$ 282.404,40 e trouxe mais segurança e qualidade de vida para população de Joinville.

Referências Bibliográficas

ACHON, C. L. Ecoeficiência de Sistemas de Tratamento de Água a Luz dos Conceito da 1S0 14.001. dissertação de doutorado USP – 2008. 2.

BOTERO, W. G. CARACTERIZAÇÃO DE LODO GERADO EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA: PERSPECTIVAS DE APLICAÇÃO AGRÍCOLA. Quim. Nova, Vol. 32, No. 8, 2018-2022, 2009.

CAJ – COMPANHIA ÁGUAS DE JOINVILLE, Projeto de CCQ, PCQO, Ciclo 2016/2017.

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