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Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas

“O conceito de perdas hídricas é complexo e confuso sendo necessário equilíbrio para enfrentar todos os desafios que envolvem o tema”

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por meio de seu Departamento de Meio Ambiente (DMA), realizou, entre 05 a 08 de junho de 2017, em São Paulo/SP, a 19ª edição da Semana do Meio Ambiente.

O evento reuniu especialistas do setor para debater questões como código florestal, perdas de água nos sistemas de distribuição, vulnerabilidade hídrica, economia circular, gestão de resíduos sólidos e gestão empresarial.

Para completar a Semana do Meio Ambiente, foi realizada a cerimônia do 23º Prêmio Fiesp de Mérito Ambiental. A premiação reconhece as boas práticas da indústria em ações sustentáveis como redução de consumo e reúso de materiais e recursos naturais.

No dia 6 de junho, foi apresentado o seminário Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas”.

fiespAvalia-se que ocorra uma perda de 40% por problemas na rede de distribuição de água. No entanto o conceito de perdas hídricas é complexo e confuso sendo necessário equilíbrio para enfrentar todos os desafios que envolvem o tema, disse Monica Porto, Secretária Adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, na abertura do evento

Para Monica Porto, as perdas no Brasil são enormes e diversificadas, citou as perdas físicas até as não contabilizadas e os obstáculos a serem superados, como a troca de tubulações antigas do centro de São Paulo. É preciso entender os serviços de saneamento como um programa contínuo de gestão, uma ação contínua, junto com os investimentos. As perdas verificadas são apenas uma das questões, não substituindo outras soluções necessárias, afirmou. Também declarou, que a Sabesp fez parceria com a agência internacional de cooperação do Japão, a JICA, para a transferência de tecnologia, com investimentos de R$ 900 milhões para os próximos dois anos.

Sérgio Ayrimoraes, superintendente de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), prosseguiu afirmando que no Brasil verifica-se a ocorrência de áreas com maior vulnerabilidade quanto à oferta de água, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade dos recursos hídricos.

O Superintendente destacou, os dados sobre a crise hídrica de 2012 até 2017:

  • Concentração e aumento da demanda em áreas de menor disponibilidade hídrica
  • Baixos investimentos em infraestrutura hídrica
  • Anomalias de precipitação extremas (secas)

De acordo com o “Encarte Especial sobre a Crise Hídrica”, citado por Sérgio Ayrimoraes, os fatores que levam a essa criticidade são peculiares a cada região. Na Região Nordeste, por exemplo, especificamente na região Semiárida, a criticidade hídrica se deve principalmente a fatores naturais como a reduzida pluviosidade anual e as altas taxas de evapotranspiração, que favorecem uma menor disponibilidade hídrica nos rios. Já a Região Sudeste apresenta algumas bacias hidrográficas com problemas de criticidade mais relacionados à alta demanda e à poluição hídrica (principalmente devido ao lançamento de cargas orgânicas nos cursos d’água) do que a fatores naturais relacionados à disponibilidade hídrica. Esta é uma consequência direta da maior concentração populacional existente na região (ali residem 42% de toda população brasileira, além da maioria de seus habitantes, cerca de 92%, estarem em áreas urbanas).

Mas, com a escassez atípica de chuvas verificadas na Região Nordeste desde 2012 e na Região Sudeste desde 2013 (e que se intensificou em 2014), essas características de vulnerabilidade dos recursos hídricos já identificadas se agravaram ainda mais. As Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, juntamente com outros municípios vizinhos, foram afetadas pelo menor volume de água armazenado nos reservatórios que compõem seus principais sistemas de abastecimento público no ano de 2014. E na Região Semiárida, apesar dos índices pluviométricos terem sido um pouco mais altos em 2014, ainda não foram suficientes para a recomposição dos estoques de água.

Ações regulatórias da ANA e órgãos gestores também foram implementadas para minimizar os efeitos da crise após análises técnicas e reuniões com os atores interessados. Como consequência da redução da precipitação na bacia hidrográfica do rio São Francisco e na do rio Paraíba do Sul, por exemplo, fez-se necessário reduzir a vazão defluente nos reservatórios de Sobradinho na Bahia (bacia do São Francisco) e em Santa Cecília, no estado do Rio de Janeiro (na bacia do Paraíba do Sul). Quanto ao Sistema Cantareira, resoluções foram emitidas com a finalidade de estabelecer condições especiais de operação dos reservatórios e sobre a suspensão temporária da concessão de outorgas de captações de águas superficiais em bacias hidrográficas da região.

“São produzidas 9.098 toneladas de carga orgânica DBO/dia, sendo que 43% são coletados e tratados; 12% têm solução individual, como fossas; 18% são coletados e não tratados, e 27% não são coletados e nem tratados”. O superintendente afirmou que 45% do território nacional possui abastecimento satisfatório, 46% requer ampliação do sistema e 9% requer novo manancial.

Síntese do diagnóstico e da estimativa de investimentos [Planejamento considera controle de perdas]

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Fonte: ANA / Sérgio Ayrimoraes Soares

“Como carga remanescente, são cerca de 5.516 tDBO/dia (remoção de 39%)”, afirmou.

Complexidade do Tratamento em Função da Remoção de DBO

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Fonte: ANA / Sérgio Ayrimoraes Soares

Como 3 questões importantes, Ayrimoraes mencionou, riscos climáticos e hidrológicos – previsão e regras de operação de reservatórios; uso racional da água – gestão da demanda e controle de perdas; planejamento – investimentos em infraestrutura hídrica e controle da poluição.

O engenheiro Alceu Galvão, pesquisador do Estudo do Instituto Trata Brasil, comentou que os planos de saneamento básico e recursos hídricos não estão devidamente integrados. O volume de perdas, em 2015, nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) chegou a 182 milhões m³/ano em 74 municípios, dos quais 38 conseguiram reduzir perdas de água nos últimos 6 anos (2010-2015) resultando em 50.654 m³/dia (18.488.710 m³/ano). O volume de água economizado proporcionou uma economia de R$ 34 milhões/ano, equivalente a uma população de 216 mil habitantes.

Apesar disso, não foram alcançadas as metas necessárias e, para ele, é necessário que a sociedade se conscientize, defenda o combate às perdas e que as campanhas de comunicação prossigam efetivamente. O problema tende a se agravar.

O estudo “Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas – o caso das bacias PCJ”, foi realizado pela Rede Brasil do Pacto Global e o Instituto Trata Brasil, em parceria com a Braskem e Sanasa, e foi exposto por Alceu Galvão.

CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACIAS PCJ

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O maior consumidor das bacias PCJ é o setor de saneamento/abastecimento público com aproximadamente 81% do total captado. Em segundo, aparece o setor da indústria, representando cerca de 17% do total.

Relação dos dez maiores usuários do setor da indústria nas bacias PCJ em 2016

fiesp-5O estudo concluiu que os programas de redução e controle de perdas, apesar dos volumes de água significativos que poderão ser economizados, por si só não solucionarão o déficit hídrico estimado pelo Plano de Bacias. Esses programas devem estar associados ao planejamento e implementação de outras ações que busquem o aumento da oferta de água, tais como:

  • Aumento dos índices de tratamento de esgotos dos municípios das bacias PCJ, a fim de melhorar a qualidade da água dos recursos hídricos, e consequentemente, aumentar a disponibilidade hídrica;
  • Utilização da água de reuso (água residuária tratada dentro de padrões estabelecidos para a sua reutilização);
  • Redução dos consumos per capita: 36 municípios das bacias PCJ superam o índice médio per capita do Estado de São Paulo (159 l/hab.dia). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma pessoa necessita de consumo mínimo de 110 litros de água por dia. Essa medida supostamente seria suficiente para um indivíduo saciar a sede, cuidar apropriadamente da higiene e preparar os alimentos. Portanto, é fundamental conscientizar a sociedade através de programas ou campanhas de comunicação e mobilização social sobre o tema.

RECOMENDAÇÕES DO ESTUDO

  • Implementação de ações de gestão operacional sistemática nos sistemas de abastecimento que visem reduzir as perdas de água, tais como o controle de pressão, setorização, válvulas redutoras de pressão, busca por vazamentos com métodos acústicos de detecção, hastes de escuta, geofone, correlacionador de ruídos, etc.
  • Ações que visem o controle e redução de perdas aparentes: pressão contra fraudes, implantação e manutenção de medidores e melhorias na gestão comercial
  • Adição de metas de perdas nos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSBs) usando os mesmos indicadores do SNIS, de modo a facilitar o planejamento e o acompanhamento das metas e das ações por todos setores da sociedade
  • Melhor coordenação por parte do Estado, do conselho estadual e do comitê de bacia, a fim de buscarem integração nos tempos de elaboração dos Planos, compatibilidade de horizontes, e sobretudo, convergência das proposições elaboradas
  • Transparência das Agências Reguladoras e Comitê de Bacia Hidrográfica na divulgação de indicadores que permitam que a sociedade acompanhe a evolução da implementação dos PMSBs e dos Planos de Recursos Hídricos;
  • Melhor monitoramento dos usos da água nas bacias, especialmente um melhor cadastramento dos usuários dos meios agrícola e industrial, e sobretudo, uma melhor integração das bases de dados dos cadastros estaduais e na esfera da União
  • Implementação de ações efetivas que elevem os índices de tratamento de esgotos dos municípios das bacias PCJ, a fim de melhorar a qualidade da água dos recursos hídricos, e consequentemente, aumentar a disponibilidade hídrica dessas bacias
  • Elaboração de estudos que visem quantificar que níveis de redução dos consumos per capitas de água poderiam ser estabelecidos e quais ações necessárias, a fim de minimizar os atuais e futuros déficits hídricos encontrados;
  • Melhorar a interlocução entre os diversos atores do saneamento e recursos hídricos, especialmente junto à ANA, atuando no aprimoramento de programas de despoluição de bacias hidrográfica, ampliando os níveis de tratamento de esgotos domésticos

Gheorge Patrick Iwaki

[email protected]
Responsável Técnico

 

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