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Problemas de drenagem são as principais causas de alagamentos em Fortaleza

Há cerca de uma semana, Fortaleza amanhece com chuvas e as precipitações constantes têm mantido moradores de áreas mais vulneráveis a alagamentos, como arredores do Lago Jacarey e a Comunidade do Gengibre, no bairro Dunas, em alerta, temendo perder tudo o que têm.

De acordo com o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jader Santos, a reincidência de alagamentos em áreas específicas de Fortaleza se deve a dois fatores preponderantes: a urbanização desordenada e a ocupação irregular ao longo de planícies fluviais e lacustres.

“A ocupação pelas casas impede que a água seja drenada. Mesmo aterrando completamente a lagoa (do Gengibre) de forma adequada, para nunca mais alagar, o alagamento seria deslocado para outro canto”, ressalta o professor, que considera as causas do problema comuns à “cidade inteira”.

Ele ainda cita uma “analogia clássica do banheiro” para explicar que, assim como em um box de banheiro (barreira), a água flui naturalmente quando derramada aos poucos. Porém, se o conteúdo de um balde com mais de 20 litros for despejado bruscamente, no mesmo local, é possível notar um pequeno alagamento, com um escoamento lento da água.

O governador Camilo Santana (PT) e o prefeito Roberto Cláudio (PDT) visitaram algumas áreas alagadas, como a avenida José Bastos na manhã deste domingo, 3. A partir dos problemas registrados, o Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza criaram, em conjunto, um comitê de ações emergenciais e de prevenção, mas Jader alerta que a medida não previne e é apenas “paleativa”.

“O Estado, nas três esferas, não conseguiu regular áreas de risco. Isto (criação do comitê) é apenas paleativo, algo para defesa civil. Não se trabalha com prevenção pois, para isso, é necessário estabelecer um grupo de trabalho que vai ter resultado daqui a cinco a dez anos”, estima.

Lixo na rua

Embora confirme que o lixo jogado em locais impróprios, como ruas e bueiros, prejudique pontualmente a área urbana, o professor não vê uma relação direta entre o lixo e os alagamentos persistentes e/ou de maior proporção.

“Isso potencializa em cantos específicos, mas alagamentos sistemáticos, corriqueiros, não têm relação com isso. Ali no (viaduto do) Makro não tem bueiro e alaga. O problema é a ocupação de área de risco, de ambientes frágeis por quem não tem outra alternativa”, complementa.

Além da falta de projeto de drenagem para a Cidade, o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento do Ceará (IAB-CE), Custódio Santos, observa que a pavimentação asfáltica na Cidade impede a devida absorção da água pelo solo.

“Com asfalto, bueiros entupidos, e riachos e canais sem a devida limpeza, a água não corre. No final, os alagamentos são somatórios de várias questões”, pondera.

Ainda segundo o presidente do IAB-CE, uma porcentagem “muito alta” (40%) da população vive em aglomerados subnormais (favelas), onde o problema nunca é solucionado, levando em conta agravantes como assentamento precário, ausência de drenagem, saneamento básico e tratamento de esgoto.

Fonte: O Povo
Foto: Geílson Araújo

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