A aridez da terra rachada dá lugar ao cinza metálico de 19 mil placas de energia solar fotovoltaicas. Entre mandacarus, umbuzeiros e xique-xiques, os equipamentos passaram a compor o cenário do sertão de Caetité, no sudoeste da Bahia, a 635 quilômetros de Salvador.
Metros adiante, no mesmo cenário, despontam no horizonte oito torres e aerogeradores que geram energia pela força dos ventos.
Juntos, os dois parques formarão um dos primeiros complexos híbridos de energia solar e eólica do Brasil, que deve ser inaugurado ainda neste semestre.
Iniciativa da Renova Energia, uma das principais empresas de energia renovável do país, o complexo terá 26,4 MW de potência instalada, sendo 21,6 MW de eólica e 4,8 MW de energia solar.
Terá capacidade de geração média de 12 MW, equivalente ao consumo de uma cidade com 130 mil pessoas.
“Será uma espécie de projeto-piloto em que vamos avaliar a combinação das duas fontes. Temos a expectativa de um ótimo retorno e, caso dê certo, pensamos em fazer complexos com maior escala”, diz o diretor de Projetos da empresa, Carlos Rogério Freire de Carvalho.
Com o parque em funcionamento, serão analisados fatores como a eficiência da operação conjunta das duas fontes de energia e a distribuição por uma mesma linha de transmissão, além de possíveis mudanças regulatórias no setor.
O projeto custou R$ 108 milhões e teve financiamento da Finep (agência de fomento à inovação vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia). Quando estiver em funcionamento, vai gerar 80 postos de trabalho.
FONTE COMPLEMENTAR
A escolha do local para instalar o complexo híbrido não foi à toa. Nessa região do sertão da Bahia, o regime de ventos e de radiação solar é complementar.
Os ventos mais fortes costumam soprar à noite, e os mais fracos, durante o dia, entre as 11h e as 15h. E é justamente no período com menos ventos que a radiação solar atinge o seu pico.
A combinação das duas fontes de energia reduz os períodos de ociosidade dos sistemas, aumentando a eficiência e tornando mais competitivo o custo do megawatt gerado.
Nos períodos de ventos mais fracos, um complexo exclusivamente eólico chega a operar com apenas 20% da sua capacidade de produzir energia. Combinado com um parque solar, esse patamar pode chegar a 50% nos momentos de baixa.
Segundo Carvalho, da Renova, o principal desafio é criar um arcabouço legal para viabilizar a operação de complexos híbridos.
Pela atual legislação, mesmo funcionando de forma combinada, os parques eólico e solar são tratados como empreendimentos distintos.
POTÊNCIA RENOVÁVEL
Com o parque híbrido, a Bahia ganha mais um complexo de energia solar, segmento no qual o Estado começa a se destacar. Atualmente, há 32 projetos em andamento que darão uma capacidade instalada de 893 MW de energia fotovoltaica.
No setor eólico, o Estado possui um parque consolidado com 65 usinas em operação e já é o segundo maior produtor de energia eólica do país, atrás apenas do Rio Grande do Norte.
Há ainda outros 44 empreendimentos em construção e 112 projetos que iniciarão as obras nos próximos anos.
A maioria dos parques fica no sertão, numa faixa que vai do sudoeste, passa pela chapada Diamantina e vai até o vale do São Francisco.
Fonte: Carlos Rogério Carvalho / Folha.uol.com.br