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Um estudo do Observatório do Clima, uma rede de 77 organizações da sociedade civil, indica que o Brasil ainda pode reduzir suas emissões de metano em 36% até 2030.
Estudo inédito indica que o país pode reduzir em cerca de um terço as 20,2 milhões de toneladas do gás emitidas em 2020. Meta é importante para a limitação do aquecimento global a 1,5ºC.
A publicação inédita, divulgada nesta segunda-feira (17), leva em conta as emissões de 2020 do gás, um dos maiores responsáveis pelo aumento das temperaturas globais.
Naquele ano, segundo a estimativa do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), o país lançou na atmosfera 20,2 milhões de toneladas de metano, o CH₄.
O índice torna o Brasil o quinto maior emissor mundial do gás, com 5,5% das emissões globais. Num prazo de cem anos, o metano é responsável por esquentar o planeta cerca 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono (CO2), o principal gás responsável pelo efeito estufa.
Por isso, reduzir a emissão desse gás é importante para limitar o aquecimento global a 1,5ºC neste século.
Ainda de acordo com os cálculos do relatório, para que o Brasil reduza suas emissões de metano, políticas públicas e medidas existentes devem ser ampliadas nos setores de agricultura, energia, saneamento e desmatamento (entenda mais abaixo).
A meta é ambiciosa, porém, pois os números recentes do desmatamento, por exemplo, apontam para um caminho desafiador para o nosso país nos próximos anos.
Segundo o Imazon, a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos. Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) também apontam que os alertas de desmate na Amazônia tiveram o pior setembro da série histórica neste ano. Junto com isso, o desmatamento também subiu mesmo em unidades de conservação do bioma nos últimos anos.
O relatório do SEEG estima que, em 2030, o país pode emitir 7% a mais de metano que em 2020 se as atuais políticas de controle de emissões forem mantidas.
“Esse trabalho que estamos publicando hoje prova, porém, que é possível o Brasil entregar o que foi prometido e assinado em Glasgow e ainda fazer mais do que isso, empregando tecnologia e técnicas novas, principalmente para a agricultura”, afirma o ambientalista Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.
“Nós conhecemos o governo que a gente tem e não vamos ficar esperando. Por isso, lançamos esse estudo. Ele prova que o Brasil tem um potencial muito grande na agenda de clima. Nós somos um país imenso nessa agenda, mas infelizmente com um governo minúsculo”, acrescentou.
Metas ambientais e tecnologia no agro
O SEEG estipula ainda que quase metade do aumento da temperatura global observado hoje se deve às emissões desse metano.
E uma das principais causadoras disso é agropecuária. O “arroto do boi” (as chamadas emissões da fermentação entérica) respondem por cerca de 72% da 20,2 milhões de toneladas emitidas pelo Brasil em 2020, segundo as estimativas da rede.
Em segundo lugar, vem o setor de resíduos, com 16% ou cerca 3,17 milhões de toneladas associadas à disposição final de lixo e do esgoto, já que o CH₄ é produzido pela decomposição da matéria orgânica.
Como resultado do desmatamento, segundo os cálculos do SEEG, a fumaça da queima das árvores abrem espaço para pastos e lavouras também respondem por 9% das emissões brasileiras, ou 2,7 milhões de toneladas de metano.
Por isso, para reverter esse quadro e chegar no patamar dos 36%, o relatório do SEEG sugere algumas medidas, como zerar o desmatamento com indícios de ilegalidade (um compromisso do Brasil na COP26), erradicar lixões e incorporar um gestão sustentável de resíduos sólidos, reaproveitando o biogás gerado em aterros sanitários e estações de tratamento.
No caso da agropecuária, o relatório recomenda o tratamento dos dejetos animais, a eliminação da queima da palha da cana — que libera gases poluentes, incluindo o metano —, o melhoramento genético do rebanho bovino e a chamada terminação intensiva, como é conhecido o abate precoce com engorda acelerada dos animais.
“O que chama atenção nas políticas e medidas mapeadas nesse estudo é que todas elas trazem ganho econômico. São iniciativas que o poder público ou os produtores rurais, no caso da agropecuária, já deveriam estar fazendo em grande escala, porque se trata de práticas já conhecidas e utilizadas”, diz Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG.
“Agora temos, pela primeira vez, um mapa do caminho para a aplicação dessas práticas e mostramos que o Brasil pode ser ainda mais ambicioso do que o compromisso global e ganhar dinheiro com isso”, acrescenta o pesquisador.
Fonte: G1.