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Abastecimento de água, crise hídrica e Projeto Taquaril no Rio de Janeiro

O abastecimento de água e a segurança hídrica são atividades essenciais para o desenvolvimento sustentável de uma cidade.

Justamente por terem essa importância, a falta de qualidade nesses serviços afeta diretamente ( e negativamente ) a competitividade de uma cidade, como pode ser observado em recentes estudos divulgado pela ONU, no qual 78 % dos empregos no mundo dependem de recursos hídricos. O abastecimento inadequado de água, além de refletir na competitividade e geração de empregos de uma cidade, também permeia fortemente os campos de saúde e educação, afetando até a capacidade de aprendizagem de crianças e jovens.

Para se avançar na qualidade da prestação do serviço, é fundamental entender o sistema de abastecimento da cidade como um todo, tendo uma visão holística sobre os problemas e as possíveis soluções para superar essa grave ameaça à saúde pública e ao equilíbrio ambiental.

Uma peça-chave para entender o abastecimento do Rio de Janeiro é a Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul ( Figura 1 ), que abastece 77 municípios, sendo 66 no Rio e 11 em São Paulo. O sistema leva água diretamente para 11,2 milhões de pessoas. Cabe ressaltar que atualmente está em andamento a primeira fase da obra de transposição do Paraíba do Sul ao Sistema Cantareira através do reservatório Jaguari-Atibainha, com previsão de entrega da primeira fase do empreendimento em abril de 2017 com a transferência de uma vazão média de 5,13 m³/s, podendo atingir a capacidade máxima de 8,5 m³/s. O empreendimento prevê a construção de uma adutora de 13,4 km de extensão e um túnel de cerca de 6,2 km, com investimento de R$ 555 milhões.

Figura 1: Transposições na Bacia Paraíba do Sul

Fonte : CEDAE

O abastecimento de água da RMRJ é atendido através de quatro principais sistemas produtores de água (Figura 2). Sendo três deles interligados e pertencentes à região oeste ( Acari, Guandu e Ribeirão das Lajes ) e outro sistema, que está isolado desses outros três e promove o abastecimento de água na região leste, conhecido como Sistema Imunana / Laranjal.

Figura 2 : Sistemas produtores de água da RMRJ

Fonte : Atlas Brasil De Abastecimento Urbano De Água

O sistema produtor de água da região metropolitana do Rio de Janeiro (Tabela 1) abastece 18 municípios que concentram 75% da população do Estado, equivalente a 12 milhões de pessoas. Seu principal corpo hídrico para o abastecimento é o Rio Guandú, que recebe a maior parcela ( 54 % ) de suas águas da transposição do rio Paraíba do Sul que, antes da crise hídrica, sua vazão era de 190 m³/s, sendo 71 m³/s para atender aos usos a jusante à barragem e 119 m³/s para a transposição para o rio Guandú, conforme era estabelecido pela Resolução nº 211/2003, que foi revogada pela Resolução nº 1382/2015, reduzindo a vazão de 190 m³/s na barragem de Santa Cecília para 110 m³/s.

Tabela 1 : Sistemas produtores de água na RMRJ

Fonte: Elaborado pelo autor com informações do Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Água.

Em seu leito estão quatro importantes reservatórios e hidrelétricas, como pode ser observado na Figura 3 abaixo :

Figura 3: Reservatórios do rio Paraíba do Sul (volume útil)

Fonte : Adaptado de CEDAE.

Em novembro de 2014, conforme noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o rio Paraíba do Sul teve seu mais baixo nível em 80 anos, e, consequentemente, os quatro reservatórios do rio Paraíba do Sul apresentaram o nível mais baixo de sua história. Em janeiro de 2015, o reservatório do Paraibuna ( o maior de todos ) estava com 0,08 % de reservas, enquanto que as reservas de Santa Branca ficaram em 0,41 %, Jaguari em 1,93 % e Funil em 3,49 % ( G1, 2015 ).

A cultura de extrair água e esvaziar os rios e aquíferos subterrâneos está levando tais mananciais ao colapso hidrológico e pode colocar a segurança hídrica dos Estados de SP e RJ em risco em um cenário de maior demanda e menor oferta dos recursos hídricos e crescimento populacional.

Para piorar o quadro, de acordo com estimativa de engenheiros da Coppe/UFRJ, feita a pedido do Jornal O GLOBO, diariamente são despejados 600 milhões de litros de efluente sanitário em toda a bacia do Paraíba do Sul. Com área de 40 km², o reservatório do Funil (RJ) recebe toda carga de poluentes. Tais dejetos, ricos em nutrientes como nitrogênio e fósforo preocupa pesquisadores, pois os nutrientes despejados no reservatório são responsáveis pela proliferação de cianobactérias – microorganismos que podem gerar toxinas nocivas à saúde humana. Além disso, devido a estiagem, a diluição dos efluentes sanitários será reduzida, aumentando o nível de contaminação e agravando ainda mais esse cenário.

Cabe ressaltar que a distância entre a barragem de Santa Cecilia e o ponto de captação de água da ETA Guandú faz com que a maior parte desta poluição acabe diminuindo pelo processo de autodepuração natural do rio. Porém, próximo à estação de tratamento, ocorre o despejo de águas dos poluídos rio Abel, rio dos Poços, rio Queimados e dos córregos de Seropédica (PINTO, 2010).

Devido a enorme quantidade de nutrientes lançado sem a devida remoção que deveria ser feito nas ETEs, os rios dos Poços e Queimados são frequentemente cobertos por macrófitas aquáticas (Relatório de Impacto Ambiental – Obras de Proteção da Tomada D’água da CEDAE no Rio Guandú, 2007). No Plano Diretor de Abastecimento de Água, elaborado pelo engenheiro Jorge Rios para a CEDAE em 1985, estava previsto o desvio do rio dos Poços para jusante da tomada de água da ETA.

Atualmente, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos ( CEDAE ) possui em seu planejamento o desvio das águas dos rios Poços, Queimados e Ipiranga, que irá aumentar a segurança do sistema, melhorando a qualidade da água captada e diminuindo o custo do tratamento, já que reduzirá o consumo de produtos químicos.

Como medida preventiva para o enfrentamento da crise de escassez hídrica, a ANA vem emitindo resoluções que buscam preservar os estoques disponíveis de água nos reservatórios. As resoluções foram elaboradas levando em conta os encaminhamentos das reuniões do Grupo de Trabalho Permanente de Acompanhamento da Operação Hidráulica na Bacia do Rio Guandu (GTAOH) do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), que conta com a participação de representantes dos órgãos gestores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

De acordo com o Centro Regional de Informação das Nações Unidas para a Europa Ocidental (UNRIC), o crescimento populacional está contribuindo para o agravamento da crise da água, tornando-se necessário a implantação de novas obras para aumentar a oferta de água para que os sistemas de abastecimento de água não colapsem e atendam com regularidade a população.

Com as obras do Novo Guandu anunciadas pela CEDAE, à capacidade de abastecimento do Grande Rio (região leste da Baia de Guanabara) irá aumentar em 30 %, contribuindo também com a flexibilidade do sistema em caráter estratégico, pois a ausência de outro sistema para suprir eventuais reduções, pode vir a prejudicar as programações de manutenção preventiva e preditiva necessárias ao sistema atual. Com o Novo Guandu esse cenário muda, pois será possível interligar os dois sistemas de adução de água tratada, fazendo com que um possa suprir a falta ou redução do outro, facilitando em muito a manutenção e obras de recuperação da ETA existente. Com tais obras, a oferta de água pelo Sistema Guandu irá suprir a demanda futura pelo crescimento populacional.

Já o lado oeste da Baia de Guanabara, não está preparado para o crescimento da demanda, como pode ser observado na Tabela 2 abaixo, tendo a necessidade de obras estruturantes para aumentar essa oferta.

Fonte : Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro

Uma das alternativas para aumentar a oferta de água potável foi discutida em 19 de outubro de 2016 no Clube de Engenharia. A proposta, conhecida como Sistema Taquaril foi apresentada pelo Prof. Jorge Rios, ex-Superintendente de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro.

A proposta do projeto Taquaril prevê a construção de um grande túnel subterrâneo com extensão de 47 km e diâmetro entre 4 e 6 metros, com captação no Rio Paraíba do Sul – único manancial de porte da região – tendo sua captação abaixo da confluência do Paraibuna e do Piabanha. A vazão inicial do Taquaril seria de 10 m³/s, podendo chegar a até 50 m³/s em um túnel com 5m de diâmetro, afirmou Jorge Rios.

O projeto Taquaril apresenta-se como uma proposta interessante ao abastecimento da região oeste da Baia de Guanabara por estar em uma cota de captação de 250m de altura em relação ao nível do mar, portando, a adução da água seria operada por gravidade sem uso de energia elétrica para o bombeamento. Com uma declividade de 0,15 % a chegada da água no final do túnel, no rio Guapiaçu, estaria com uma cota de 190m, podendo ser aproveitado para geração de energia limpa.

Em relação aos impactos ambientais do projeto Taquaril, o trajeto do túnel não passa por unidades de conservação federais, estaduais e municipais de proteção integral e de uso sustentável, além de minimizar as desapropriações necessárias para implantação do empreendimento.

Devido a não necessidade de bombeamento e consumo de energia elétrica, conclui-se que o preço por m³ de água fornecida, levando em conta o OPEX ( custos de operação e manutenção ) teria custos razoáveis e abaixo das outras soluções conhecidas atualmente.

Conclui-se que com as experiências anteriores do estado do Rio de Janeiro na construção do túnel Guandu-Macados de aproximadamente 43 km entre 1955-1965 confirmam a capacidade técnica do estado viabilizar tal empreendimento.

Mais informações podem ser acessadas no canal do Clube de Engenharia no Youtube, através do link: https://youtu.be/-VaxsEcBgmg. A apresentação elaborada pelo Prof. Jorge Rios está disponível no link : http://www.seaerj.org.br/pdf/SistemaTaquaril.pdf.

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Cleyton Cardoso

[email protected]

Depto. Técnico

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