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Eventos Sustentáveis: o caso dos Jogos Olímpicos do Rio

O Brasil foi sede de grandes eventos nos últimos anos, e atualmente ocupa a 7° posição entre os países que mais recebem eventos internacionais. Em 2013 sediamos a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, em 2014 foi a vez da Copa do Mundo e este ano recebemos os Jogos Olímpicos.

Estes eventos têm enorme benefícios para a imagem do Brasil: movimenta a economia, gera empregos, aumenta a renda, capta investimentos em infraestrutura, e valoriza a cultural.  Mas os benefícios só realmente acontecem se o evento é bem planejado e estruturado com tempo suficiente para ser concretizado. Sem esse cuidado, o evento pode causar impactos econômicos, sociais, ambientais e culturais, como por exemplo a violência, a banalização da cultura local, mudança no dia-a-dia da população, desperdício de energia, emissões gasosas e uma enorme produção de resíduos.

Todo megaevento exige muita matéria-prima, água, e energia do país que o sedia, e por isso os Jogos Olímpicos do Rio teve um Plano de Gestão de Sustentabilidade bastante elogiado e digno de premiações. O documento foi construído sob três pilares: uso eficiente de recursos, baixa emissão de carbono e gestão de resíduos.

A estrutura temporária da sede foi construída à base de contêineres, o suficiente para abrigar até 2,4 mil pessoas. O abastecimento de água contava com um sistema de aproveitamento de águas da chuva e a energia era feita através de luminárias de led que utilizam até 90% menos de energia. Também foram utilizadas placas de captação de energia solar. Além disso, toda madeira utilizada para os Jogos usaram a certificação da cadeia de custódia.  Depois de desmontada, 80% do material foi reaproveitado em outras instalações.

Em relação aos gases liberados, foram feitos estudos da pegada de carbono e a partir disso foi elaborada uma estratégia para o gerenciamento das emissões. Os ônibus e caminhões utilizados usaram diesel e um composto de 20% de óleo de cozinha reciclado, o que resultou em menos carbono e enxofre que o diesel mineral. Outra medida importante foi o modelo de rotas inteligentes para um tempo de transporte menor, consumindo menos combustível.

Mas, e os resíduos sólidos? Para minimizar sua geração, foi feita conscientização do descarte adequado e reciclagem com foco tanto nos atletas quando nos espectadores, e funcionários. Eliminou-se a compra de copos e a reduziram ao máximo a quantidade de impressoras e lixeiras individuais.

A gestão de resíduos foi posta em prática desde a preparação da estrutura do evento, até a fase de desmonte, já que os resíduos de construção também devem ser alvo de cuidados. A estratégia com os resíduos focou em evitar a geração de resíduos, que é a medida número um para qualquer plano de gerenciamento; reduzir o volume; promover mudança de comportamento; e para os resíduos que são inevitáveis encaminhar para um gerenciamento correto. Para não sobrecarregar os aterros, foram usados também tratamento de resíduos orgânicos através da compostagem.

Apesar de todos esses cuidados, houve problemas ambientais e muitas das metas não foram alcançadas, como por exemplo o caso da poluição da Baia de Guanabara, local de competições de modalidades como remo e vela. O projeto previa uma despoluição de 80% do corpo d’água, o que não foi cumprido, deixando os atletas em risco de contaminação.

Sabemos que é impossível fazer um evento desse porte e não causar algum impacto no meio ambiente, mas mesmo assim é importante ter metas ambiciosas para que possamos evoluir nesse sentido cada vez mais. O plano de gestão dos Jogos Olímpicos foi inovador e exemplar, mas esbarramos em inúmeros problemas de desorganização e falta de verba, em parte como reflexo da crise que vivenciamos no nosso país. Temos agora que colher os frutos dos esforços que foram feitos, usando o Plano de Gestão de Sustentabilidade como exemplo para futuros eventos e pegar casos de insucesso e usa-los como objeto de conscientização para mudanças – no caso dos Jogos Olímpicos, a despoluição da Guanabara e o tratamento de esgoto no Brasil.

*Hiram Sartori é Engenheiro Sanitarista, possui doutorado em Engenharia Civil e atua como consultor e professor do Ensino Superior.

Site: hiramsartori.com.br
Twitter: @hiram_sartori
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