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Iniciativas nas Universidades

Por Hiram Sartori*

No mundo de hoje, com o aumento exacerbado do consumo, da classe média e consequentemente do lixo, é urgente que criemos soluções para lidar com o gerenciamento de resíduos sólidos que seja sustentável e viável para todos os países. O surgimento de tecnologias limpas e eficientes depende de estudos, pesquisas e incentivo do governo nas universidades e empresas privadas.

Como professor de Engenharia Civil da PUC Minas eu dedico grande parte do meu tempo com projetos experimentais que ajudem meus alunos a aprender na prática muito do que já vimos no banco das salas de aulas, mas que permite aos futuros profissionais ter experiência e conhecimento aprofundado no assunto. Uma das coisas mais importantes na universidade é o incentivo para novas ideias, o pensar por si próprio, e iniciativas inovadoras.

Este ano tive o prazer de orientar um grupo de estudantes em um projeto que visa facilitar a implementação de novas usinas de compostagem através do reaproveitamento de contêineres de carga antigos. Isso é possível porque um contêiner só tem vida útil de cerca de 10 anos, depois disso não pode mais armazenar carga para transporte com segurança, mas isso não significa que não pode ter outros usos.
Veja bem, o material orgânico corresponde a mais de 50% do volume total de resíduos gerados no nosso país, que são depositados em aterros sanitários com os demais resíduos, sem tratamento diferenciado. De todo o lixo orgânico, cerca de 60% não é reaproveitado e outros 35% são recicláveis e apenas 5% do material descartado não pode ser reutilizado e por isso é aterrado. Existem poucos aterros no Brasil, e muitos deles estão sobrecarregados. A compostagem, que é um processo de reciclagem biológica do material orgânico, traz, então, muitas vantagens para as cidades e o meio ambiente.

Ao diminuirmos a quantidade de lixo dos aterros, há uma economia nos custos de transportes e de uso do próprio aterro, aumentando sua vida útil. O produto final da compostagem passa a ser valorizado, pois é ambientalmente seguro e serve de adubo orgânico, evitando o uso de fertilizantes inorgânicos, que apresenta vários riscos. Muitos países desenvolvidos usam a compostagem como parte de uma economia sustentável e usam o adubo orgânico misturados à palha em canteiros, jardins e praças públicas, além de plantações.

Muitas cidades brasileiras não usam a compostagem por não ser bem administrada. O projeto dos alunos que orientei consiste em tentar otimizar o espaço e a verba empregados para construção de usinas, facilitando a gestão da iniciativa. Uma das principais vantagens desse projeto é que o uso do contêiner oferece uma maior mobilidade, pois facilita o deslocamento da estrutura da usina para outros locais, e caso seja preciso ampliar a estrutura, basta adicionar novos módulos.

A ideia não é totalmente nova. Esse sistema já é usado no setor de construção civil no Brasil, o que torna o projeto ainda mais sólido, já que foi testado. O que meus alunos fizeram foi pegar essa ideia e trazer para as usinas de compostagem de cidades de pequeno ou médio portes, aumentando o reaproveitamento do lixo orgânico. A proposta é que toda estrutura feita de alvenaria seja disposta dentro dos contêineres. Isso inclui vestiários dos funcionários, banheiros, escritórios, e parte administrativa, e tudo isso poderia ser transportado para outro terreno em caso de necessidade ou ampliação já utilizada pela usina.

Uma ideia simples e prática surgida dentro da universidade tem o potencial de mudar a realidade de muitas cidades e evitar a contaminação de rios, lençóis freáticos e solo. Além de gerar uma economia para o município e aumentar a utilidade do aterro sanitário. Precisamos de mais projetos como esse e Universidades que deem apoio e incentivo para ideias novas e criativas.

*Hiram Sartori é Engenheiro Sanitarista, possui doutorado em Engenharia Civil e atua como consultor e professor do Ensino Superior.

Site: hiramsartori.com.br
Twitter: @hiram_sartori
LinkedIn: https://br.linkedin.com/in/hiramsartori

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