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Na Itália, clientes podem pagar contas de água atrasadas com trabalho voluntário

Diante da crise econômica que atinge a Itália, uma empresa que fornece água adotou uma medida pouco comum para lidar com o crescente número de inadimplentes entre os usuários de seus serviços.

O projeto da companhia pública Padania Acque Gestione, responsável pelo abastecimento de 115 cidades na Província de Cremona (norte da Itália), permite que consumidores com a conta de água atrasada “paguem” o valor devido fazendo algum tipo de serviço social.

“Temos recebido muitos pedidos de consumidores que propõem o parcelamento das contas. E há aqueles que não conseguem mais pagá-las. A água é um direito universal do homem e não podemos cortá-la”, disse à BBC Brasil o presidente da empresa, Alessandro Lanfranchi.

Ele explica que entre os trabalhos estão cuidar de um jardim público da cidade onde mora o consumidor ou ser acompanhante de idosos sem autonomia por algumas horas. Mas Lanfranchi faz um alerta: “Estaremos muito atentos aos espertos que ousem aproveitar deste benefício”.

Seleção
O projeto, chamado Banco d’Água, entrará em vigor a partir de janeiro de 2015. Os agentes sociais devem começar a cadastrar as famílias em sérias dificuldades financeiras neste fim de ano. Segundo a empresa, a iniciativa envolverá apenas consumidores domésticos, ou seja, cerca de 140 mil hidrômetros.

Para selecionar que consumidores inadimplentes serão beneficiados, a empresa terá um comitê ético que vai avaliar caso a caso, além de ter acesso aos financiamentos públicos.

 Para Mauro Platès, tempos de crise requerem 'repensar sistema de bem-estar social'  (Foto: Guilherme Aquino/BBC Brasil)
Para Mauro Platès, tempos de crise requerem
‘repensar sistema de bem-estar social’ (Foto:
Guilherme Aquino/BBC Brasil)

“Criamos um método que permite ajudar os mais necessitados dando a eles uma espécie de ‘crédito’ em litros de água. Por exemplo, o fornecimento de um ano tendo como contrapartida o empenho do cliente de pagar com serviços à coletividade. Ajudamos as famílias em dificuldade, mas deixamos claro que este auxílio não é gratuito”, explica Lanfranchi.

“O tempo é de coesão social e não de exclusão.”

Crise
O projeto dá a medida da crise econômica na Itália, que começou em 2008 e não dá sinais de esmorecimento. Em Cremona, a taxa de desemprego juvenil (entre 15 e 24 anos) é de 37%, contra 42,9% na média do país. A taxa geral de desemprego na região é de 9% contra 12% da média nacional, segundo um relatório apresentado no fim do primeiro semestre pela Câmara de Comércio da Província.

O empobrecimento da população é evidente nos refeitórios públicos da organização católica Cáritas. Se antes o local era procurado principalmente por estrangeiros, agora vem crescendo a presença de italianos, entre 36 e 55 anos, e de aposentados que ganham uma pensão mensal de pouco mais de 500 euros.

“Antes eram os imigrantes que estavam mais expostos, agora são os italianos, com um aumento de 20%. Temos uma crise grave no setor da construção civil, tivemos uma refinaria de petróleo fechada com reflexos dramáticos no território, com o encolhimento do mercado de trabalho”, diz o diretor da Cáritas local, Alessio Antonioli.

A iniciativa de trocar dívidas na conta de água por serviços voluntários não é, entretanto, algo inédito na região.

No rigoroso inverno de 2009, a cidade de Cremona usou o método para inadimplentes de contas de gás e energia elétrica. Eles corriam o risco de morrer de frio com o corte do abastecimento.

A fórmula aplicada na época foi a de trocar a conta pendente por trabalhos voluntários para a comunidade, como a limpeza das vielas dos cemitérios, por exemplo.

Fonte e Agradecimentos: Equipe BBC Brasil /G1

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