saneamento basico

Sabesp erra com campanha de descontos. E insiste em erros antigos

Sabesp deixou de investir como deveria e agora penaliza cidadãos, mas mantém cobrança mínima na conta
Com a necessidade de racionamento de água em São Paulo, a Sabesp (empresa de captação, tratamento e distribuição de água, além de saneamento básico do governo estadual de São Paulo) tem enviado cartas e feito campanha no rádio, tv e jornais pedindo colaboração à população.

De um lado, o governo Alckmin acena com descontos para os que reduzirem a quantidade de água que usa e, diz a propaganda, o consumo médio por pessoa abastecida pelo Sistema Cantareira é de 161 litros por dia e precisa cair para 128 litros.

A carta ainda diz que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa pode viver normalmente com 110 litros de água por dia (sem especificar peculiaridades como diferença de clima entre países e de reutilização de água em alguns países desenvolvidos).

Na propaganda na TV, a Sabesp diz que água é preciosa, que precisa ser poupada em todo o planeta, e outros argumentos que, a rigor, ninguém de bom senso discorda.

Mas recordemos: durante anos, associações de consumidores brigam na Justiça contra a cobrança mínima mensal de 10 metros cúbicos (mil litros) por domicílio, praticada pela Sabesp. Significa que toda casa ou apartamento paga no mínimo o consumo de 333 litros de água por dia, mesmo que a medida no hidrômetro seja menor do que isso. Se só uma pessoa morar na casa sempre pagou como se consumisse 333 litros por dia. Condomínios com hidrômetro coletivo e que tenham apartamentos fechados, pagam como se essa unidade, mesmo sem ninguém morando, registrasse este consumo mínimo.

Mesmo sem saber se numa casa moram duas pessoas, a Sabesp cobra o consumo mínimo, ou seja 166,5 litros por pessoa – acima da média, portanto, de consumo por pessoa que ela mesma afirma ser a média do sistema Cantareira, em condições normais. E muito acima do que a média da ONU que ela usa para ilustrar a necessidade de obrigar o cidadão ao sacrifício.

Se fizermos as contas, concluiremos que muitos paulistanos pagaram durante anos mais do que consumiram. Comparando, se uma padaria cobrar pelo pão mais do que o peso real ela é multada, mas a Sabesp sempre fez algo semelhante com a água todo mês sem qualquer consequência.

Ou seja, a vida inteira, a estatal paulista desincentivou hábitos de poupar água, pelo menos para quem já consome relativamente pouco, sobretudo em casas com poucos moradores. Para que um casal que consome 200, 250 ou 300 litros por dia, iria agora se preocupar em gastar menos, se foi obrigado a pagar sempre 333 litros por dia?

Só agora, em circunstâncias de racionamento, haverá um desconto se o morador racionar 20%. Mesmo assim a política de consumo mínimo por residência não foi revogada.

As empresas de água costumam cobrar um consumo mínimo, alegando que o sistema de bombas, tubulações, tratamento precisa ser dimensionado para atender ao domicílio ligado à rede, consumindo ou não. Tem um custo mínimo de operação que precisa ser rateado. É um argumento que pode ser válido, apesar de que, em uma metrópole como São Paulo, também seria possível fazer uma estrutura tarifária com base nas estatísticas reais de consumo, sem recorrer à política do consumo mínimo.

O fato é que a gestão tucana na Sabesp errou na falta de investimentos no Sistema Cantareira, previstos desde 2004, mas errou também na política tarifária de consumo mínimo. Se o recomendável era perseguir o objetivo de desenvolver hábitos de consumo menores e até incentivar o uso de instalações hidráulicas mais econômicas, já deveria há muito tempo ter reduzido o piso da tarifa, de 333 litros por dia, para algo como os 110 litros, que diz ser uma recomendação da ONU. Pelo menos, os moradores teriam algum incentivo e compensação financeira para terem investido em sistemas de captação de chuva, de reaproveitamento de algumas águas, ou de individualização de hidrômetros no caso de condomínios.

Fonte: Rede Brasil Atual
Veja mais: http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2014/05/sabesp-erra-com-campanha-de-descontos-e-insiste-em-erros-antigos-1744.html

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