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A reutilzação da água para o desenvolvimento

Em meio à crise hídrica no Estado de São Paulo, a eficiência da gestão das águas no nosso país nunca foi tão questionada. As chuvas deste ano foram escassas, porém isto apenas evidenciou a fragilidade e falhas do nosso sistema de tratamento e distribuição de águas.

Já passamos do momento de criação de um plano de contingência, e a situação é emergencial, porém diversas ações podem ser tomadas para evitar que isso se repita em longo prazo. Em 2011, por exemplo, o nível de chuvas foi muito elevado e não pôde ser armazenado pelas represas, que atingiram 100% da capacidade. Como os sistemas não prevêem as alternâncias mais extremas de chuvas e secas, essa água acabou sendo desperdiçada.

De acordo com um estudo divulgado pela instituição Trata Brasil, cerca de metade da água que escorre pelos ralos ainda chega na forma de esgoto sem tratamento aos rios, córregos e represas de São Paulo. Com apenas 38,7% do volume tratado, a capital paulista está ignorando um estoque de água equivalente a dois sistemas Cantareira. Com o devido tratamento desse volume, a crise atual poderia ser amenizada.

A reutilização da água não é um conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo há muitos anos. No Brasil, as estações tratam o esgoto em nível inicial, por isso a água é utilizada apenas para limpeza de calçadas, irrigação de jardins e na produção industrial. Adicionando mais etapas para completar o tratamento, a água se tornaria potável, como é feito em países como EUA, Austrália e Bélgica.

A eficiência dos sistemas de tratamento de efluentes também é um fator a ser levado em consideração. Atualmente, emprega-se sistema de aeração por ar difuso no tratamento de efluentes sanitários e efluentes industriais. Porém já é possível encontrar no mercado novas tecnologias mais eficientes produzidas com diferentes tipos de polímeros. Essa opção, apesar de ter o custo mais alto de instalação, possui a vida útil cerca de 200% mais longa, o que reduz consideravelmente os custos com manutenção. Em longo prazo, o investimento é compensado, já que não há a necessidade de instalar um novo sistema nos próximos dez ou 12 anos.

Nesse cenário, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, já que dos 62,8 milhões de domicílios, quase 27 milhões de residências não possuem ao menos rede coletora de esgoto. Para reverter essa situação, segundo um relatório divulgado em março pelo IBGE, o Brasil precisa investir pouco mais que R$ 313 bilhões até 2033 para que o saneamento básico alcance 100% da população.

Outro estudo realizado pelo Trata Brasil revelou que alunos sem acesso à coleta de esgoto e água tratada sofrem um atraso escolar maior em comparação aos estudantes com as mesmas condições socioeconômicas, mas que moram em locais onde há saneamento. Além da redução em 6,8% do atraso escolar, de acordo com a pesquisa, a universalização do saneamento refletiria no ganho de produtividade do trabalho e aumento na remuneração futura. O turismo também pode se beneficiar, e o país arrecadaria anualmente R$ 7,2 bilhões com atividades turísticas em áreas onde atualmente não há serviços de coleta de esgoto.

É um investimento alto, porém extremamente importante para a utilização dos recursos hídricos. O tratamento de efluentes acaba representando um potencial emergente que visa não somente a racionalização do uso de um bem finito, mas também auxilia indiretamente no desenvolvimento da sociedade ao redor.

Renato Rossato

Engenheiro de Desenvolvimento da Rehau no Brasil.

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