saneamento basico

Atrasos, poluição e dúvidas: o Rio de Janeiro a um ano das Olimpíadas

Quando a candidatura do Rio de Janeiro para cidade-sede das Olimpíadas de 2016 foi anunciada, em 2008, o governo brasileiro calculou que, ao todo, o evento custaria R$ 28 bilhões aos cofres públicos. Com a confirmação da capital fluminense como sede, no ano seguinte, a prefeitura prometeu projetos e obras que visavam deixar um legado olímpico ao município, buscando beneficiar futuras gerações com o maior incentivo esportivo em diversas modalidades.

Mas a um ano do início dos Jogos, a realidade do Rio de Janeiro é contemplada por atrasos de repasses financeiros da União, obras inacabadas e superfaturadas, além de polêmicas envolvendo alguns dos locais onde serão disputadas determinadas modalidades. Se antes a estimativa financeira para o evento não alcançava a casa dos R$ 30 bilhões, hoje já ultrapassa os R$38,2 bi, superando os gastos da Copa do Mundo de 2014, que ficaram em torno de R$ 27,1 bi.

Do valor estimado, R$ 24,6 bilhões são destinados ao legado olímpico, que prevê também melhorias na infraestrutura da cidade. De acordo com o Comitê Organizador do Rio, R$ 7,4 bilhões de despesas são de orçamento privado, que é responsável pela logística do evento – incluindo o transporte dos atletas e a organização das competições e cerimônias. O restante, portanto, ficaria para a compra de equipamentos especializados e a construção de ginásios e arenas.

Obras atrasadas obrigam Rio a acelerar processo no ‘contra-relógio’

Segundo o jornal Valor Econômico, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, teria reclamado da demora em receber a verba da União para a realização das obras, fruto dos cortes de orçamento feitos em 2015 pelo governo de Dilma Rousseff. Sem o dinheiro em mãos de prontidão, a própria prefeitura estaria gerenciando os preparativos. Para ele, o principal inimigo na organização dos Jogos Olímpicos tem sido a burocracia imposta no repasse financeiro.

Se no início do ano o discurso era de que não haveria atrasos na entrega das instalações para o evento mundial, a realidade já aponta o contrário. O próprio portal de transparência do governo já dá a construção do velódromo como atrasada – com 51,24% dos procedimentos concluídos, a expectativa é que a obra fosse entregue em dezembro deste ano. Localizado na região da Barra da Tijuca, o local contém 14 das 31 instalações e é considerado o principal ponto dos Jogos, principalmente por abrigar a Vila Olímpica. Também na Barra, o Centro Olímpico de Tênis é outra obra que deve ser entregue após o prazo final, apesar do status de “normal” apontado pela organização do evento. Com a data de finalização prevista para o dia 21 deste mês, apenas 60.62% da construção foi concluída.

Os procedimentos do Parque Olímpico têm sido realizados pelo consórcio Rio Mais, formado pelas construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. As duas primeiras têm sido investigadas na operação Lava-Jato, embora algumas autoridades afirmem que a situação não deve interferir no planejamento das Olimpíadas.

“Sabemos que a cobertura da imprensa sobre o assunto é grande, mas as obras olímpicas estão sendo feitas em consórcios robustos. O que o Comitê Organizador informou aos membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) é que não há qualquer problema com as obras”, afirmou o diretor executivo do COI, Christophe Dubi, em fevereiro deste ano.

Outras três regiões da cidade ficarão encarregadas de receber as modalidades: Deodoro, Maracanã e Copacabana. Na primeira, o complexo esportivo deveria ser entregue em fevereiro de 2016, mas já consta como atrasado no cronograma: apenas 42,98% da obra está pronta. O local abrigará modalidades como basquete, pentatlo, hóquei sobre grama, rúgbi, hipismo, tiro esportivo e ciclismo.

Já na Região Maracanã, o Engenhão deveria estar livre de reparos desde novembro de 2014. No entanto, uma reforma no reforço estrutural da cobertura do estádio ainda é prevista pelo consórcio que cuida da obra, formado pelas empresas Odebrecht e AOS. Interditado em março de 2013, o local só foi reaberto em fevereiro deste ano.

Baía de Guanabara: risco à saúde e ao evento

Além da atenção com as obras inacabadas, outra preocupação passou a rondar o cenário pré-Olimpíadas no Rio de Janeiro: a poluição na Baía de Guanabara, na praia de Copacabana e na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Atletas de modalidades como vela, canoagem, triatlo e maratona aquática precisarão encarar águas semelhantes ao esgoto, com altas taxas de poluição. Uma reportagem divulgada pela AP (Associated Press) no mês de julho mostrou níveis perigosos indicando a presença de vírus e bactérias nos locais, colocando em risco a saúde dos competidores. A rota de fuga à Baía seria levar as competições da vela para o mar aberto.

Na ocasião da candidatura olímpica, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, falou em realizar mais investimentos na infraestrutura de saneamento básico da cidade, prometendo a limpeza de até 80% da Baía de Guanabara. Sete anos depois, com a investigação da AP vindo à tona, o político até lançou uma tentativa de ampliar o programa de despoluição, mas admitiu que nada pode ser feito a tempo dos Jogos.

“Nós erramos, eu não vou errar de novo, é minha fala. Quero acertar, estou trazendo as universidades, os ambientalistas, a população e todos os órgãos do governo”, anunciou o governador na última semana ao apresentar o novo projeto. Um acordo foi feito entre sete universidades e três institutos de pesquisa para apresentar soluções e melhoras na limpeza do local. “Vamos juntar todas as opiniões ver o quanto isso que estamos investindo vai impactar para poder falar esses números”, complementou.

O legado olímpico

Mesmo com as dificuldades citadas acima, há quem enxergue a execução dos Jogos em 2016 com otimismo. Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de esportes do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), avaliou o rendimento de atletas brasileiros em competições olímpicas de alta relevância em 2015.

“Está sendo o melhor quadriênio da história olímpica brasileira. Depois de Londres nós acompanhamos que em 2013 foram 27 medalhas em Campeonatos Mundiais ou competições equivalentes e em 2014, conquistamos 24 medalhas. Duas marcas nunca antes atingidas nos primeiros e segundos anos do ciclo. Agora, em 2015, tivemos os Jogos Pan-Americanos de Toronto, onde ficamos na terceira colocação do quadro de medalhas. Neste ano, ainda temos vários importantes mundiais, que servirão de parâmetro para o que pretendemos avaliar em relação aos Jogos Rio 2016. Já estamos na fase de atacarmos os detalhes, mas os ajustes sempre podem ser feitos”, afirmou Freire.

Com 353 vagas garantidas, a expectativa do COB é de ter 400 atletas participando das Olimpíadas. O gerente geral de performance esportiva, Jorge Bichara, já traçou a estratégia brasileira para os Jogos observando a demanda de medalhas em cada modalidade.

“Desde que montamos o mapa estratégico do COB em 2009, identificamos a necessidade de conquista de medalhas de no mínimo 12 modalidades em 2016. Desta forma, focamos o investimento em um número superior a isso. Seria impossível selecionarmos as 12 e ganhar medalhas em todas elas. Por isso temos uma abrangência maior. A preparação é a melhor possível, mas a diferença entre um atleta medalhista e outro não será definida em centímetros ou milésimos de segundo”, disse.

Evento-teste inicia contagem regressiva

A contagem regressiva para as Olimpíadas do Rio de Janeiro inicia já nesta quarta-feira. A presidente Dilma Rousseff se encontrará com o presidente do COI, Thomas Bach, o governador Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, em um evento realizado na própria capital fluminense. Medalhistas de edições anteriores e representantes de delegações internacionais também estarão presentes.

No mesmo dia, terá início o Campeonato Mundial Júnior de Remo, que servirá de evento-teste da modalidade. Já na quinta-feira, as instalações do hipismo, na Região de Deodoro, também serão testadas.

Fonte: Gazeta

Por: Juliana Arreguy

Últimas Notícias:
Gerenciando Montanhas Lodo

Gerenciando Montanhas de Lodo: O que Pequim Pode Aprender com o Brasil

As lutas do Rio com lodo ilustram graficamente os problemas de água, energia e resíduos interligados que enfrentam as cidades em expansão do mundo, que já possuem mais de metade da humanidade. À medida que essas cidades continuam a crescer, elas gerarão um aumento de 55% na demanda global por água até 2050 e enfatizam a capacidade dos sistemas de gerenciamento de águas residuais.

Leia mais »