Como alternativa ao uso exclusivo do Aquífero Guarani, o Daerp (Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto) pretende construir uma ETA (Estação de Tratamento de Água) e captar 3 mil litros por segundo do rio Pardo – mesma quantia retirada hoje, por segundo, pelos 107 poços artesianos. O maior entrave é o custo: R$ 324,4 milhões.
A Cidade teve acesso, por meio da Lei de Acesso à Informação, ao projeto básico de engenharia da ETA, em poder do Daerp desde o ano passado. O ponto de construção seria no final da estrada do Pirapau, e necessitaria de 11,4 km de adutoras para trazer a água ao centro urbano.
Esse é o estudo mais consistente que o Daerp já teve da estação, que chegou a ser orçada no dobro do valor atual. Os custos atualizados, entretanto, são 24% superiores a todo o orçamento da autarquia para este ano, e a obra só sairá do papel com ajuda do governo federal.
Questionada na quarta-feira (18), a autarquia não se posicionou sobre o tema. Desde 2006, o Daerp realiza, em parceria com a Unaerp, análises da qualidade da água do rio Pardo. Nas amostras foram encontrados, embora em pequenas quantidades, diuron e hexazinona, agrotóxicos utilizados principalmente no cultivo de cana-de-açúcar.
Para que a água do Pardo não ofereça riscos à saúde, a ETA teria que ter tecnologia de ciclo completo de tratamento para a purificação do recurso.
Apesar de a água do rio Pardo hoje ter qualidade considerada boa pela Cetesb, há o risco de ele ser contaminado no futuro.
“Está suscetível à deterioração da qualidade devido ao uso e ocupação da bacia, apresentando problemas frequentes com coliformes, alguns metais (principalmente ferro e alumínio) e nutrientes, além de problemas ocasionais com microcontaminantes”, alerta o projeto básico.
Em 2013, 25% das coletas no ponto do clube Regatas apresentaram não conformidade para mercúrio, que pode causar câncer. A tecnologia de tratamento prevista na ETA deixaria a água potável e sem riscos para a população.
Relatório aponta que tratamento tem falhas
O relatório do Plano Municipal de Saneamento Básico mostra que tanto o tratamento como o monitoramento da água em Ribeirão Preto têm problemas, o que põe em risco a qualidade do líquido que chega às torneiras dos consumidores.
Em cada unidade de tratamento há dois reservatórios, um para hipoclorito de sódio (cloro) e outro para ácido fluossilícico (flúor). Segundo o estudo, o ideal é que esses produtos sejam armazenados em ambientes cobertos e com áreas separadas para evitar o contato entre os produtos.
“Contudo foram encontradas situações onde o abrigo não existe e todo o sistema fica exposto ao ambiente, tanto reservatórios quanto bombas dosadoras, expondo uma grande fragilidade do sistema quanto à garantia da qualidade da água”, informa um trecho da análise.
O relatório aponta ainda que o laboratório de monitoramento de água tem cerca de 30 anos de construção, estrutura obsoleta, incluindo equipamentos de análise e de proteção coletiva. “Alguns equipamentos estão localizados em zonas inseguras, como maquinários quentes em zonas frias e dispositivos de esterilização ao lado da área administrativa”.
O Daerp informa que existe um projeto para construção de um laboratório de monitoramento de água em terreno de propriedade da autarquia. O departamento, no entanto, não deu prazos.
“Esse projeto está equipado com toda a estrutura para equipamentos atuais e modernos, estrutura para deficiente físico, estacionamento e tudo que se faz necessário”.
Sobre o tratamento, a autarquia não se pronunciou.
Fonte: Jornal da Cidade