As pessoas que moram na parte mais alta do bairro Coqueiral, Zona Norte de Aracaju, estão sem água desde o último sábado (9), dia em que a ponte caiu e a adutora São Francisco rompeu em Laranjeiras. A queda provocou falta de água para 70% dos moradores da Grande Aracaju. A solução para muitos, é descer até a parte baixa e pedir aos vizinhos ajuda.
O problema, segundo moradores, é que a água chega fraca e que encher um balde virou um desafio.A obra da adutora foi finalizada na sexta-feira (15), e segundo a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), a água voltou a passar pela adutora São Francisco e o abastecimento voltou a ocorrer de forma gradativa. A previsão é que seja totalmente restabelecida até esta segunda-feira (18). O Governo de Sergipe decretou estado de emergência e as obras foram concluídas, mas a população da Zona Norte continua enfrentando dificuldades.
“Estamos em um sofrimento sem fim, a água não sobe na parte alta do bairro. A gente desce e vem pegar aqui na casa de uma amiga, a água é bem fraquinha, mas enche um balde. Desde o dia 9 essa situação, está muito difícil! Para facilitar um pouco alugamos carroça ou carrinho-de-mão. O negócio é levar na brincadeira para não ficar estressado”, relata sorrindo o porteiro Igor Calixto dos Santos.
Segundo morador, água virou negócio na comunidade.“Não temos outra opção, temos que pagar R$ 5 por viagem da carroça para encher as vasilhas. A água está valendo o preço do ouro aqui”, diz o morador Fábio Monteiro dos Santos.
Obras
A base da estrutura da ponte que sustentava duas tubulações da Adutora São Francisco pode ser reaproveitada para fazer outra. A informação foi dada pelo secretário de Estado de Infraestrutura de Sergipe (Seinfra), Valmor Barbosa.
“Nossa preocupação inicial era fazer a obra de emergência. Feito isso, na próxima semana vamos iniciar os estudos para verificar o que causou o desabamento da ponte. Essa investigação vai identificar se a base e os blocos da ponte que caiu foram preservados porque se estiverem em condições nós vamos reutilizá-los na reconstrução.
Essa estrutura poderá ser aproveitada porque a fundação é a parte mais demorada e complexa da construção de uma ponte onde alicerce é feito dentro da água”, explica Barbosa. O secretário observa ainda que a nova ponte poderá ter uma estrutura metálica ou até mesmo de concreto.
Entenda o caso
A ponte sobre o rio Cotinguiba, localizada no povoado de Pedra Branca, município de Laranjeiras, região metropolitana de Aracaju, desabou e rompeu a tubulação de água de duas adutoras da Companhia de Saneamento Básico (Deso), no início da tarde do sábado (09).
A ponte com mais de 60 anos e que fazia a parte da BR-101, mas estava interditada para o tráfego de veículos, possuía na sua estrutura, canos da adutora da Deso. Segundo o Dnit, a ponte liberada para os veículos e que fica ao lado da desabada, não foi afetada.
Segundo testemunhas, a ponte desabou no momento em que um carroceiro e mais algumas pessoas, em cavalos, atravessaram a ponte. Com a queda da ponte, cerca de 40 cavalos chegaram a cair no rio, desses, 17 acabaram morrendo.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência encaminhou quatro vitimas para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). De acordo com o assessor de comunicação da Deso, Wendel Barbosa, o presidente e o diretor de operações do órgão, estão avaliando o caso.
Alternativas
Os bairros da Zona Norte da Grande Aracaju foram os mais prejudicados, por estarem na parte mais alta. A boa vontade dos vizinhos que têm poços artesianos é o que está ajudando a suprir a necessidade dos moradores do bairro Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro. Os carros-pipas e o Exército têm colaborado, mas segundo a população, não está sendo suficiente.
Desesperados, sem água, moradores do Bairro Coqueiral, em Aracaju, invadiram o posto de saúde Eunice Barbosa e levaram a água que estava armazenada na caixa e a bomba também. Apesar disso, a gerente do local informou que os atendimentos estão sendo prestados normalmente.
Falta de manutenção
A falta de manutenção pode ter provocado a queda da ponte.Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (CREA), Arício Rezende, a estrutura estava sem passar por manutenção há cerca de 20 anos.
Segundo Rezende, a documentação do Crea mostra que a última manutenção da ponte foi realizada em setembro de 1994. “Nós temos conhecimento que a última manutenção e reparo feito na ponte, no que consta na documentação encontrada no Crea, foi em setembro de 1994. Acreditamos que essa manutenção deva ser feita, no máximo, a cada cinco anos, a depender das recomendações feitas na última manutenção”, afirmou o presidente do conselho.
No entando, Rezende afirmou que ainda é cedo para apontar causas da queda da ponte, que serão determinadas por um laudo pericial que está sendo elaborado pelo Crea. “Somente depois de concluído este laudo é que nós poderemos afirmar qual o motivo, mas na visão da engenharia, acredita-se que a falta da manutenção tenha sido a causa maior”, disse.
O presidente do Crea ainda lamentou a queda da ponte, que segundo ele, significava uma das grandes obras da engenharia de Sergipe. “Pedimos que as autoridades fiquem mais atentas a essas situações. Só em Aracaju, no nosso conhecimento, existem cerca de 17 pontes que devem ser reparadas com manutenção constantemente”, afirmou Rezende.
Fonte: G1