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Pesquisadores estrangeiros discutem ampliar análise da Bacia Amazônica

Encontro South America Water from Space II em Manaus precede missões espaciais que ampliarão capacidade de análise dos rios da Amazônia. Evento vai até quinta-feira (7)

Em uma região na qual os rios são as estradas e com suas subidas e descidas ditam o ritmo da vida, o monitoramento hidrológico é essencial. Por causa disso, pesquisadores da Europa, Estados Unidos e América do Sul estão reunidos em Manaus na busca de integração e compartilhamento de informações.

Iniciou na capital na última segunda-feira e encerra na quinta-feira (7), a conferência internacional “South America Water from Space II” que é organizada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em parceria com o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França (IRD), a Agência Espacial Francesa (CNES) e a Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

O evento visa também a preparação para a missão espacial SWOT (Surface Water & Ocean Topography), que será lançada em 2021. O CPRM integra a equipe científica dessa missão.

Avanço da tecnologia

Participantes da conferência embarcam, na quinta (7), para uma ilha no Tupé para medir o nível do rio Negro a partir de receptores de satélites que permitem a validação de dados coletados diretamente do espaço. A programação do evento contempla inúmeras palestras para estimular o debate e avanço dessa ciência.

Segundo o engenheiro cartógrafo da CPRM Daniel Moreira, na conferência internacional buscam-se “os avanços na tecnologia de satélite, que chamamos de tecnologia de sensoramento remoto, que são o sensores que estão nos satélites que observam a Terra, e usamos basicamente as aplicações para hidrologia, para as águas, para entender as chuvas e o nível dos rios”.

Para ele, os pesquisadores vêm buscar “intercâmbio”. “Como a CPRM, através da parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), tem a expertise no monitoramento convencional, nós buscamos novas tecnologias; eles buscam esse intercâmbio para aprender como o clima se comporta para saber validar os resultados dessas novas tecnologias também”.

“Há essa magnitude dos rios amazônicos. Não existe nada comparado à bacia amazônica e eles estão maravilhados por estar aqui em Manaus, admirando tudo e ansiosos para fazer a medição de campo na próxima quinta-feira”, destaca Daniel Moreira.

Altimetria especial

Além da missão SWOT, o CPRM também tem expectativa do lançamento da missão SMall Altimetry Satellites for Hydrology (SMASH), que pretende fazer o primeiro teste para uma altimetria espacial operacional com frequência diária, quando serão colocados em órbita 10 nano satélites exclusivos para o monitoramento hidrológico, sendo possível assim obter informações diárias do nível de água nos principais rios da América do Sul.

Grandes nomes da hidrologia

Entre os palestrantes do evento estavam nomes como o líder do grupo de pesquisa na área de Hidrologia da missão SWOT, Jean-François Cretaux do CNES, o cientista Ernesto Rodriguez, da Nasa (Agência Espacial Americana), e o diretor de pesquisa do o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França, Stéphane Calmant, que é especialista na validação e calibração de dados de satélites.

Para Ernesto Rodriguez, a situação climática é preocupante em todo o mundo e o monitoramento hidrológico é vital para as análises. A dinâmica das águas na América do Sul, “onde cai tanta chuva”, pode sugerir fortes inundações em caso de muita água na atmosfera, exemplificou Rodriguez.

Em relação à missão espacial SWOT, que será lançada em outubro de 2021, o pesquisador disse que a equipe está em fase de elaboração de equipamentos e montagem do satélite e, “o mais importante, que é preparar as pessoas para que possam utilizar os dados, ou seja, a capacitação dos pesquisadores para calibrar e validar as informações de toda a América do Sul”. “O diferencial do SWOT é que ele poderá fazer um mapeamento mais global de grandes escalas e projeções”, declarou.

Variáveis ajudam a compreender os extremos climáticos

Participante do encontro, a professora de Hidrologia do Curso de Engenharia Civil da  Universidade Estadual do Amazonas (UEA) Joecila Santos da Silva comentou que a conferência envolve não somente a variação do nível do rio, mas também outras, como vazão. “Hoje, com os eventos extremos que nós temos, sejam eles dos próprios níveis do rio, como também os climáticos, essas variáveis são extremamente importantes”, observou.

A mestre enfoca que a “bacia amazônica, além de ser a maior bacia hidrográfica do mundo, é um grande laboratório, “onde nós temos de rios pequeninos de um  a dois metros de largura, a outros como o rio Negro, de 60 metros”.

Ela enfatiza que, nos próximos anos, um número crescente de missões de observação espacial oferecerá uma capacidade sem precedentes de observar a superfície da Terra, seu interior e a atmosfera, “inaugurando uma nova era na ciência do ambiente da Terra e no ciclo da água”.

Monitorar para usar os rios da melhor forma possível

O pesquisador Estefan Calmon, do IRD, destacou a importância do evento internacional ser sediado no coração da Amazônia.  Segundo ele, bacia do rio Amazonas precisa ser estudada para ter sua dinâmica compreendida.

No monitoramento, explicou ele, é preciso cruzar com o tamanho dos rios e da população. “São as duas coisas quer você tem que tomar em conta. Aqui é um rio maior, com certeza, mas com a população pequena. Em outros lugares há rios menores com população muito maior. Isso é o que temos  que tomar em conta para ter todas as situações possíveis para usar os rios do melhor jeito possível para a humanidade”, defendeu.

“Todos os rios maiores, que seja Amazonas, Congo, Ganges na Índia, são as estradas da população e importantes para a economia das populações ribeirinhas. É mais importante para a região amazônica usar os rios como estradas e vias de deslocamento do que sair desflorestando e criando estradas pela floresta. Uma das aplicações do satélite é melhorar o monitoramento para esse uso dos rios”.

Fonte: A crítica.

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