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Poço é alternativa contra torneira seca

Em tempos de crise no abastecimento no Estado, causada pelo longo período de estiagem, o Estado quer incentivar a instalação de poços artesianos domésticos para captação de águas subterrâneas. A alternativa para evitar torneiras secas é apontada por especialistas como viável, desde que regras sejam respeitadas.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que técnicos analisam a possibilidade de isentar do pagamento da taxa de esgoto o cliente que aderir ao sistema ‘caseiro’.

O poço artesiano, denominação popular de poço tubular profundo, é perfurado por máquinas e tem a profundidade muito maior que o diâmetro. “O incentivo ao uso dessas estruturas, a homologação de poços irregulares e a isenção temporária da taxa de esgoto, até que o usuário possa pagar o investimento, estão em fase de estudos”, informou, em nota, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos.

Segundo o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), condomínios, residências, indústrias ou comércios que desejem abrir um poço artesiano devem solicitar outorga ao órgão e observar todas as normas relativas ao assunto e documentos necessários, disponíveis para consulta no site www.daee.sp.gov.br.

A extração de água pelo usuário privado, ou mesmo público, reduz a pressão sobre o sistema público de abastecimento, que na Região Metropolitana é baseado em mananciais superficiais. O poço aumenta a segurança hídrica do proprietário e também ajuda a reduzir a demanda pelo serviço público”, ressalta o diretor do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea da USP (Universidade de São Paulo), Ricardo Hirata.

Em todo o Estado, havia cerca de 25,5 mil poços outorgados até dezembro de 2013, sendo 2.000 na Capital.
No Grande ABC, três cidades possuem levantamento de reservatórios cadastrados. Santo André concentra a maior quantidade: 125 poços, sendo que 60 estão na categoria de grandes consumidores (industriais e comerciais). O município é seguido por Mauá – 109 – e São Caetano, com 79.

CUSTOS – A construção requer investimento alto. Pesquisas de preço feitas pela equipe do Diário apontam que implementar um poço artesiano custa, em média, R$ 30 mil. “Muitos condomínios e grandes usuários de água acabam pagando os investimentos após um ano, devido à redução na conta de água”, pontua Hirata.

Quem construiu há muitos anos não sentiu o atual peso do valor de mercado. É o caso da merendeira aposentada Maria de Freitas Cascardi, 71 anos, moradora da Vila Guerda, em Ribeirão Pires. Quando chegou ao bairro em 1965, o local não dispunha de água. O poço abastece a casa desde então.

Só não tomo banho com a água porque a localização da caixa-d’água não tem caída para o chuveiro. Pago só R$ 16 na conta mensal (tarifa de água e esgoto), se não fosse esse sistema, pagaria mais de R$ 150, pois lavo roupa de sete filhos, além da louça, que também é muita”, conta.

Dona Maria destaca a qualidade dos recursos captados. “Quando vou na casa dos outros e tomo café, sinto o gosto de cloro da água. Aqui, quando as pessoas tomam, comentam que o café só tem gosto de café mesmo”, garante, orgulhosa.

Água subterrânea também acaba; utilização deve ser racional
As águas subterrâneas não são fonte inesgotável de abastecimento e, assim como as superficiais, devem ser utilizadas de maneira consciente. “As águas subterrâneas constituem fonte de abastecimento alternativa e, como tal, devem ser preservadas, já que não são recurso inesgotável. O estabelecimento de um regime de exploração dessas águas deve estar muito bem alicerçado em estudos. É preciso conhecer as reservas e haver programa de gestão para que a água possa ser garantida em seus diversos usos”, destaca a professora do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea da USP (Universidade de São Paulo), Christine Bourotte.

A docente acrescenta que, se a extração de água for abusiva (bombeamento intensivo ou concentração muito elevada de poços na área), a capacidade de recarga do aquífero pode ser excedida, levando à redução da reserva de água.
Apesar de aprovar o uso doméstico desses sistemas, o diretor do centro, Ricardo Hirata, frisa que uma boa gestão deve avaliar os limites da extração da água e as análises precisam ser feitas de forma regular pelo Estado. No entanto, esse tipo de estudo ainda é raro no Brasil. “Já estamos sentindo alguns problemas de superexploração do recurso, que traz como consequência a exaustão do aquífero, a redução de vazões de poços, o aumento do custo da extração e a necessidade de aprofundar a captação.”

Perfuração pode contaminar água, alerta gestor ambiental
A extração incorreta das águas subterrâneas pode acarretar na contaminação do recurso. É o que alerta o professor de Engenharia e Gestão Ambiental da Universidade Metodista de São Paulo Carlos Henrique Andrade de Oliveira. “Ao fazer um furo para acessar a água subterrânea, do mesmo jeito que você consegue retirá-la, pode introduzir contaminantes. As águas superficiais, de rios, têm capacidade de se autorrecuperar. Quando passam por áreas de corredeiras, cheias de pedras, batem nas pedras e isso reintroduz o oxigênio, que ajuda a água a recuperar a sua qualidade, ao contrário das subterrâneas”, explica.

Segundo o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), o poço tubular deve ser perfurado segundo as normas de proteção do aquífero, ter cimentação do tubo de boca, com no mínimo 20 metros de profundidade, laje de proteção sanitária, com no mínimo 3 m², medidas para preservar a qualidade das águas dos aquíferos.
Com relação à qualidade de água do poço, a legislação de recursos hídricos exige análise da água, feita pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).

O órgão pontua que a água de sistemas irregulares, “abertos irresponsavelmente”, pode não ser de boa qualidade, colocando em risco seus usuários. “A outorga é um instrumento fundamental na gestão do uso da água, pois permite à administração pública equacionar o atendimento às demandas e à disponibilidade deste recurso no Estado de São Paulo”, ressaltou a companhia.

Fonte: Yahoo Notícias
Veja mais: https://br.noticias.yahoo.com/po%C3%A7o-%C3%A9-alternativa-contra-torneira-100000515.html

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