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Sabesp fez o que poderia ter feito, diz especialista

São Paulo – De acordo com especialistas do setor de saneamento, a questão do baixo nível de armazenamento de água na Grande São Paulo enfrentado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) não é de planejamento, mas decorre, realmente, da situação climática atípica. “O grande problema é climático. O que a Sabesp poderia ter feito, ela fez”, afirmou o presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs), Luiz Roberto Gravina Pladevall.

Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Pladevall afirmou que, neste verão, o volume de chuvas está cerca de quatro vezes abaixo da média para o período. Além disso, as altas-temperaturas têm elevado o consumo de água, afetando, diretamente, as reservas dos mananciais. Nesta segunda-feira, 3, o Sistema Cantareira, que abastece 9,5 milhões de moradores na região metropolitana de São Paulo, atingiu 21,4% da capacidade, pior nível dos últimos dez anos. No mesmo dia de 2013, o volume das reservas era de 52,3%.

“Em Engenharia, nenhum sistema é dimensionado para os extremos e a situação climática atual é extrema, a Sabesp não poderia ter previsto”, afirmou ele, que destacou os investimentos da companhia no programa de redução de perdas ao longo do sistema. A

pesar de também apontar a escassez de chuvas e as altas-temperaturas como causa principal para atual situação, o presidente do Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon), Giuliano Dragone, afirma acreditar que a Sabesp iniciou tardiamente o programa de redução de perdas. “As perdas são hoje o principal problema de gestão das empresas de saneamento. A Sabesp é hoje uma das empresas estaduais com o menor índice de perda, mas deveria ter começado antes.”

Segundo Dragone, a média de perdas nas redes de abastecimento de água no Brasil é de 40%. A Sabesp iniciou o programa em 2009 e tem por meta reduzir o índice dos atuais 24,7% para 18% até 2020. Conforme ele, a estatal precisaria aumentar a velocidade do ritmo do controle de perdas. “O único jeito de acelerar é através de parceria com o setor privado”, apontou, citando como exemplo Limeira (SP), onde a empresa Foz teria reduzido o índice de perdas de 40% para 17% em quatro anos.

Pladevall lembrou que os planos de investimentos da Sabesp para os próximos anos é alto e que a construção do novo Sistema São Lourenço deve “dar uma folga” para empresa se uma situação semelhante ocorrer no futuro. Em entrevista ao Broadcast na sexta-feira, 31, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, afirmou que a conclusão das obras está prevista para 2018.

“Mas não adianta fazer novas reservas se o índice de perdas é alto. É preciso focar investimentos em melhorias de gestão e não em expansão”, afirmou Dragone. Na avaliação do presidente do Sindcon, além da questão de redução das perdas, o setor de saneamento em geral precisa investir pesado no tratamento do esgoto urbano, que limita a captação de recursos hídricos nas grandes cidades.

Impacto financeiro

Neste sábado, 1, a Sabesp anunciou um desconto de 30% na conta de água e esgoto para os consumidores abastecidos pelo Sistema Cantareira que economizarem 20% do gasto médio mensal. O objetivo da companhia é reduzir o consumo de água na Grande São Paulo, de uma média diária por morador de 161 litros para 128 litros e, consequentemente, evitar a necessidade de um racionamento.

Analistas de mercado foram unânimes em considerar que o reflexo da medida para a receita da companhia será negativo. O analista Sérgio Tamashiro, do Banco Safra, calcula que se todos os consumidores do Sistema Cantareira reduzirem em 20% o gasto para mensal, o impacto financeiro da receita chegará em 9%. Na avaliação da analista Lilyanna Yang, da corretora UBS, a medida representa um risco para a distribuição de dividendos da companhia no curto prazo. Lilyanna reduziu o preço-alvo das ações da Sabesp de 25 reais para 24,50 reais.

Além do impacto causado pelo descontos nas receitas, a companhia deve enfrentar ainda uma alta dos custos operacionais. Com o baixo nível do Sistema Cantareira, a empresa já alterou o abastecimento da zona leste da capital paulista, que concentra 1,6 milhão de consumidores, bombeando água do Sistema Alto Tietê, o que eleva os gastos com energia elétrica. Se houver necessidade de racionamento, também haverá aumento de custo, lembrou Pladevall. “Toda vez que você interrompe o sistema, há problemas na retomada. O custo operacional para empresa interromper o serviço é muito maior do que deixar ligado continuadamente”.

Fonte: EXAME

Veja mais: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/sabesp-fez-o-que-poderia-ter-feito-diz-especialista?page=2

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