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Contaminação da água coloca Amazônia em risco de crise hídrica

MANAUS – A crise hídrica por escassez se instalou em todo País. No entanto, o que tem chamado atenção para a região amazônica mesmo sendo a maior bacia hidrográfica do planeta em reservas de água doce, corre o risco de desencadear uma crise hídrica por contaminação da água. Para especialistas tudo depende de qual é o ponto de vista da crise hídrica em cada região.

Segundo o coordenador do Programa (Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) na Amazônia Legal, Bruno Abisaber, a crise que acontece nas regiões Sul e Sudeste é por escassez de volume e falta de planejamento. “Lá é uma crise muito mais de quantidade, vamos dizer assim. E muito em decorrência da ausência de um planejamento mais racional da área da bacia hidrográfica”, comentou.

Abisaber completa dizendo que as pessoas atribuem essa crise muito à falta de chuvas, às mudanças climáticas, mas o fato é que precisa ser observado o que aconteceu antes desse processo. “Os planos de recursos hídricos eles não são, muitas vezes, implementados”, observou.

O coordenador ainda completa afirmando que as áreas de recarga de aquíferos de nascentes dos rios sofrem um processo de ocupação que muitas vezes compromete a geração desses recursos hídricos. “A somatória disso tudo nas regiões Sul e Sudeste tem desencadeado um processo de estresse hídrico”, alertou.

Na Região Norte, o coordenador do ZEE, observou principalmente uma questão problemática relacionada com a qualidade dos recursos hídricos. “As redes de abastecimento de água, de saneamento básico, ainda são muito frágeis aqui na região”, relatou. Mesmo com os picos de enchentes, gerando abundância de recursos hídricos, percebe-se que em muitas dessas regiões, principalmente aquelas que estão passando por um processo de urbanização cada vez mais acelerado, o saneamento básico tem comprometido a qualidade dos recursos hídricos. “E a crise que nós podemos ter aqui é na verdade, mais de qualidade do que de quantidade de água”, avaliou.

Estudos estimam que a perda entre a geração e a distribuição é de cerca de 30% a 40%, tanto de energia quanto para a água. Por isso é preciso pensar em mecanismos cada vez mais limpos e eficientes para diminuir, até chegar a eliminar esse desperdício ao longo do processo. “Com essa perda há um estresse ainda maior, porque o sistema tem que investir cada vez mais em geração e não pensa de fato no aumento da produtividade no aproveitamento”, conclui Bruno Abisaber.

Segundo o chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Marcelo Rossi, em Manaus não existe crise hídrica. “Até porque nós temos um rio aqui próximo. Na realidade o que precisa é investimento no manejo dessa água”, disse. Ele defende o manejo da água tanto dos rios e seus afluentes quanto água servida (eliminada pelos esgotos públicos e industriais). “Obviamente que tem que ter manejo dessa água, tem que cuidar da água, se não, pode poluir”, alertou.

Para Rossi a maioria das crises no país não é por escassez de água, mas pela falta de planejamento e de conscientização da população quanto ao uso racional desse produto natural não renovável. “Mesmo em São Paulo a crise hídrica na verdade é uma falta de planejamento porque a água existe e tem que ter formas de organizar essa água. E saber que esse tipo de consumo não é eterno”, disse.

Ainda segundo Rossi, hoje o planeta tem a mesma quantidade de água para cada vez mais consumo, com a população mundial aumentando e as indústrias consumindo cada vez mais, por isso é necessário ter planejamento e muito controle sobre o consumo de água. “Alguém tem que retirar essa água dos rios e represas, tratar e distribuir de forma sustentável para o consumidor. Aqui em Manaus sempre teve esse problema no tratamento e distribuição da água. Mas é mais uma questão de infraestrutura, investimento e planejamento de forma sustentável”, reconheceu.

A Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) destaca que tanto o município quanto o governo do Estado vêm tratando a questão hídrica de forma prioritária, sempre levando à discussão os problemas que permeiam o tema e buscando, em conjunto com todos os setores, mas principalmente com a indústria, alternativas e soluções viáveis para a manutenção dos estoques aquíferos disponíveis no Amazonas, para que estes não sejam afetados pela crise que assola o Sudeste do País.

Segundo a coordenadora da assessoria técnica na Fieam, Renée Fagundes Veiga, a crise hídrica existe, mas as potencialidades da região, incluindo as relacionadas aos recursos hídricos, serão avaliadas pelas indústrias que pretendem se instalar no Polo Industrial de Manaus (PIM) e que elas possuem visão de futuro e planejamento estratégico a longo prazo. “Entendemos que o Amazonas não será afetado por esse problema, pois temos volume profuso de água doce, somente sendo necessária a continuidade da preservação ambiental e a utilização racional dos recursos hídricos disponíveis para que se mantenha a capacidade de utilização dos mesmos”, avaliou

 

 

 

Fonte: Portal Amazônia

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