Apenas 75 cidades criaram o documento que prevê estratégias para conter a disseminação do novo coronavírus, principalmente entre profissionais da limpeza pública e catadores. Apesar de sua importância, ele não é obrigatório
Em período de pandemia da Covid-19, o manejo de resíduos sólidos exige ainda mais atenção já que são possíveis transmissores do novo coronavírus. Diante deste cenário, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema) propôs aos gestores das cidades a elaboração de um Plano de Contingência Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos com intuito de reduzir a disseminação da doença. Até agora, apenas 75 dos 184 municípios enviaram o documento que não é obrigatório, mas funciona como importante ferramenta nesta crise sanitária que vivenciamos.
Com quase 60% das cidades sem elaborar seus planos, a situação se torna ainda mais grave uma vez que a maioria não dispõe de aterros sanitários. O material coletado é despejado em lixões. De acordo com o gestor da Coordenadoria de Desenvolvimento Sustentável (Codes), André Pereira, o documento gera estratégias importantes no manejo do lixo. Mas, como isso é uma tarefa de responsabilidade do Município, a Sema apenas auxilia na política. “A gente entendeu ser importante ter um documento norteador, chancelado pela Sema”.
O professor Francisco Humberto de Carvalho Junior, doutor em Saneamento Ambiental, que auxiliou na elaboração no plano, destaca que dentre as estratégias estão orientações à população quanto ao lixo domiciliar. “Resíduos com característica infectante, como máscara e luvas, devem ser acondicionados de duas maneiras: em dois sacos plásticos separados, não cheios e identificados como perigosos, ou junto ao papel higiênico, pois, o catador rapidamente identifica como infeccioso”, explica.
LEIA TAMBÉM: ATERRO É DESTAQUE NO USO DE TECNOLOGIAS PARA TRATAR RESÍDUOS
Limpeza urbana
Para Humberto, o ideal era que os catadores dos lixões não estivessem trabalhando durante a pandemia, mas como isso é difícil, a orientação seria reuni-los e passar instruções, entregar máscaras e luvas. “Pode ser que tenha contato com o lixo de um portador de Covid-19 ou alguém assintomático e está misturado”, alerta.
Já os caminhões de coleta devem ser higienizados diariamente, não só na cabine, mas nas carrocerias ou no compactador. “Se possível, em postos de gasolina, que normalmente são fiscalizados. Verificar se essa água que escorre, não está indo para a rua. Nos postos, essa água tem uma caixa de areia, pré-tratamento, onde é mais seguro”, acrescenta.
Outro aspecto trata dos trabalhadores da limpeza urbana. O fardamento deve ser trocado diariamente, com distribuição de máscaras e equipamentos de proteção individual (EPIs). A máscara trocada a três horas. “São obrigações que já deveriam ser cumpridas”, ressalta Humberto.
“O principal problema da limpeza urbana é a desorganização. Não tem informação, cuidados com EPI’s, fiscalização. Quando chega uma pandemia como essa, percebe-se os problemas e entram em desespero. Vai ter que fazer e, agora, bem feito”.
Preocupação
O superintendente do consórcio de Resíduos Sólidos da Região Centro-Sul do Ceará, André Wirtzbiki, mostra preocupação com a baixa adesão. “Estamos atrasados, mas ainda é tempo de começarmos, porque essa pandemia ainda vai persistir e as cidades precisam fazer o descarte correto dos testes, das máscaras e de outros produtos”.
Wirtzbiki chama a atenção para o fato de que os catadores e os garis do serviço da limpeza pública não usam equipamentos de proteção individual. “Isso é um risco elevado”, frisou. “O lixo de uma casa com moradores doentes pode contaminar o pessoal da limpeza e todos nós devemos ter responsabilidade compartilhada, moradores e gestores”. O desafio, segundo os especialistas, é conscientizar os gestores para que cresça o número de planos, mesmo que não seja obrigatório e, por consequência, não haja penalização aos municípios.