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Órgãos públicos trocam acusações sobre esgoto nas praias de Maceió

Cartões postais da cidade conhecida como “paraíso das águas”, as praias de Maceió sofrem com esgotos despejados nelas incessantemente por línguas sujas espalhadas em alguns pontos da orla. Um problema longe de ter solução, enquanto os órgãos públicos trocam acusações sobre a responsabilidade da situação.

No último dia 18, uma grande mancha escura apareceu pela segunda vez na praia de Jatiúcaapós fortes chuvas. Análises realizadas pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) em amostras colhidas no mar apontaram mais de 1,6 milhão de coliformes fecais em cada 100 mL, quando o limite seria de 1000 NMP (Número Mais Provável)/100mL.

Homem se exercita na praia da Avenida, local onde é despejada a água que percorre pelo Salgadinho (Foto: Jonathan Lins/G1)Homem se exercita na praia da Avenida, local onde
é despejada a água suja do Salgadinho
(Foto: Jonathan Lins/G1)

“Eu e meu pai trabalhamos aqui [na Jatiúca] há mais de 30 anos. Esses esgotos sempre existiram, mas nunca foi assim, sujo e fedido. Ultimamente, com as chuvas, é que tem sido pior”, explicou a vendedora ambulante Emanuely Alves.

Os esgostos a que ela se refere são as galerias de águas pluviais espalhadas pela orla, que há muito tempo não levam só água da chuva para o mar.

De acordo com o Instituto do Meio Ambiente (IMA), redes de drenagem ou galerias de águas pluviais são projetadas para receber exclusivamente água da chuva, e quaisquer outros efluentes são clandestinos.

Tanto a prefeitura de Maceió quanto a Companhia de Saneamento de Alagoas(Casal) são responsáveis pela resolução do problema de contaminação nas galerias que desaguam em praias urbanas da capital, segundo o IMA.

No último dia 23, o instituto multou a prefeitura em R$ 200 mil por negligência com relação ao despejo do esgoto no mar. No mesmo dia, a Casal foi notificada a elaborar um relatório técnico do sistema sanitário.

Por meio de nota, a Casal informou que a poluição que está ocorrendo nas praias é proveniente de galerias pluviais que recebem desde esgoto proveniente de ligações clandestinas até efluentes que se juntam aos dejetos e correm a céu aberto, sendo despejandos nas tubulações.

A companhia também explicou que cuida das redes coletoras de esgoto e não de galerias de água pluviais, que são de responsabilidade da prefeitura.

Por outro lado, a Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambienta (Sempma) disse que já foram emitidos mais de 1700 autos de infração contra esgotos ligados a galerias pluviais de Maceió desde o início de 2015, e que tanto as residências como a própria Casal vêm contribuindo negativamente para agravar o problema. A Casal repudiou o posicionamento da secretaria.

É triste ver que uma cidade conhecida por suas belezas naturais permita uma situação como esta”
Patrícia Lisboa,
funcionária pública

Enquanto a troca de acusações não acaba, e não há um entendimento sobre o que fazer para resolver a situação, quem paga a conta é o cidadão comum. A vendedora ambulante Emanuely diz que há prejuízo nas vendas, porque a sujeira espanta os banhistas. “Quando o turista chega e vê essa situação, nem pisa na areia”, disse.

Na Ponta Verde, a funcionária pública Patrícia Lisboa, que veio de São Paulo para visitar a família, lamentou ao ver a sujeira sendo jogada na praia. “É triste ver que uma cidade conhecida por suas belezas naturais permita uma situação como esta”, disse.

Um trecho da orla urbana que há muito deixou de ser ponto turístico foi a Praia da Avenida, onde desagua o Riacho Salgadinho. Onde antes havia água cristalina e peixes, hoje só há mato e lixo.

Com as chuvas dos últimos dias, a situação ficou ainda pior no local. Na última quinta-feira (24), a reportagem do G1 esteve no ponto onde o riacho encontra o mar. No local, funcionários da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) tentavam, sem sucesso, conter o lixo levado para o mar.

Para o engenheiro ambiental Marllons Neves, o problema, apesar se destacar na praia, tem sua origem em outro ponto. “A população aumentou e o esgoto não aguenta a demanda. É preciso cuidar dos esgotos desde as bacias, até a orla, porque essa sujeira vai acumulando e chega aqui tudo de uma só vez. No período de chuvas, o problema se agrava ainda mais”, explicou.

Funcionário da Slum tenta recolher lixo que é levado do riacho para o mar (Foto: Jonathan Lins/G1)Funcionário da Slum tenta recolher lixo que é levado do riacho para Praia da Avenida pelo Riacho Salgadinho (Foto: Jonathan Lins/G1)
Algas marinhas misturadas com lixo foram vistas no local onde mancha apareceu (Foto: Jonathan Lins/G1)
Algas marinhas misturadas ao lixo foram vistas no local onde mancha apareceu, na Praia da Jatiúca (Foto: Jonathan Lins/G1)
Na Cruz das Almas, outro ponto joga água de esgoto no mar (Foto: Jonathan Lins/G1)
Na Cruz das Almas, outro canal que deveria ser de água limpa joga esgoto no mar (Foto: Jonathan Lins/G1)
http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2015/12/orgaos-publicos-trocam-acusacoes-sobre-esgoto-nas-praias-de-maceio.html
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