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Perfuração desenfreada de poços pode agravar crise da água em São Paulo

A crise da água gerou uma corrida na perfuração de poços que pode ter ao menos duas consequências sérias. Em primeiro lugar, a quantidade é insuficiente para o tamanho da demanda. Além disso, há o risco de essa retirada interferir na vazão dos rios que fornecem água para os sistemas Cantareira, Guarapiranga, Alto Tietê e outros.

“Já era um problema que estava acontecendo antes da crise hídrica no Estado e a gente via descaso do Estado em regular e planejar esta questão. É uma coisa que não aparece, né? Agora, com uma situação de corrida, vemos a situação como uma forma caótica”, afirma o geólogo Reginaldo Bertolo, diretor do Cepas-USP.

Só na Região Metropolitana de São Paulo, estima-se cerca de 400 poços foram construídos em 2014, segundo dados de Centro de Pesquisas de águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo (Cepas-USP). Os dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), que dá as outorgas para a criação de novos poços no Estado de São Paulo, são mais modestos. Eles mostram que neste ano foram perfurados 39 poços na capital e outros 1.717 no restante do Estado. Até setembro de 2014 existiam 2.082 poços outorgados na capital e 27.312 em todo o estado.

Especialistas afirmam, no entanto, que nem 30% dos poços existentes estão cadastrados ou autorizados. Os outros 70% seriam clandestinos.

Não tem para todo mundo

Na região metropolitana de São Paulo, a água dos poços artesianos vem dos aquíferos Cristalino e Sedimentar. Calcula-se que eles teriam a capacidade de 16 mil litros/segundo – o equivalente ao sistema Guarapiranga, que serve para abastecer parte da cidade de São Paulo. A questão é que desse montante, estima-se que 10 mil litros/segundo já são retirados pelos 12 mil poços privados já existentes.

Logo, achar que perfurar poço resolve o problema, não é verdade. Não tem água para todo mundo. Hoje, o abastecimento de água encanada na região metropolitana usa 67,7 mil litros por segundo.

“Estes uso já existente nunca é considerado nos planos de governo. Não é oficializado, mesmo sendo 60% do recurso total. O Estado precisa orientar sobre o assunto e planejar o uso das águas subterrâneas “, afirma Bertolo.

Além disso, ratifica o geólogo, a demanda é muito maior que o potencial de água subterrânea. “Mesmo porque a vocação da água subterrânea não é para o abastecimento público, porque as vazões de cada poço é pequena. Só seria interessante se usassem mil poços de uma vez, captassem a água e a levassem para a unidade de tratamento, sendo distribuída pelos canos da cidade. Mas isto é inviável. É muito caro. Exige muita obra”, diz Bertolo. O geólogo está fazendo um estudo de viabilidade para o uso da água do aquífero Guarani – mais a norte do Estado – para abastecer a região de Piracicaba, aliviando o Sistema Cantareira.

Privatização da água

Para o geólogo Luiz Fernando Scheibe, coordenador do projeto Rede Guarani/Serra Geral, a tendência é que até a normalização do abastecimento, mais poços sejam perfurados. ”Já faltou planejamento para a água superficial, para a água subterrânea é pior ainda. O Estado não tem se quer a dimensão total e o controle de quantos poços são perfurados”, disse.

“Essa água subterrânea, assim como a superficial, é um bem comum para o uso de todos. Ao perfurar de forma clandestina, sem a autorização, a pessoa está privatizando um bem de uso comum”, afirma Scheibe. “Se fosse possível administrar o quanto de cada um está retirando de água subterrânea você teria uma divisão muito mais justa.”

Fonte: IG

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