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Segundo relatório do ano aponta 74 locais impróprios para banho em Santa Catarina

De Norte a Sul, muitos dos balneários mais populares entre os gaúchos não são recomendados. O caso mais grave é o de Canasvieiras, em Florianópolis

Os gaúchos sempre invejaram as maravilhas do litoral catarinense, mas neste verão os sentimentos despertados pelas praias de SC tornaram-se muito distintos, incluindo a compaixão, a indignação e a repulsa. Com uma das orlas mais apreciadas do país, Santa Catarina atravessa um início de veraneio tenebroso, devido à poluição da água.

De Norte a Sul, muitos dos balneários mais populares entre os gaúchos, como Garopaba ou Bombinhas, estão impróprios para banho. O caso mais grave é o de Canasvieiras, em Florianópolis.

Ao longo do litoral, há turistas abreviando ou cancelando seus períodos de férias à beira-mar. Centenas estão precisando procurar atendimento devido a viroses. Faixas de areia onde era impossível encontrar lugar para abrir o guarda-sol, em verões passados, agora encontram-se quase às moscas.

A extensão do dano foi delineada em documento divulgado na sexta-feira pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma). No começo da semana, a instituição havia realizado coletas em 211 pontos do litoral. Nada menos do que 74, mais do que uma em cada três praias, apresentavam condições perigosas para receber os banhistas, por excesso de coliformes fecais na água. Nesses lugares, a recomendação oficial é de que as pessoas não entrem no mar. Uma semana antes, no primeiro relatório do ano, 71 de 208 localidades mostraram-se impróprias.

Canasvieiras tem todos os pontos impróprios para banho, aponta Fatma

Márcio Luiz Alves, diretor de proteção dos ecossistemas da Fatma, atribui a contaminação ao esgoto despejado sem tratamento nas praias, quase sempre por meio de rios litorâneos, um problema que se agrava com a chegada da alta estação. Ele cita casos de residências com capacidade para quatro pessoas, que, na temporada, recebem 10, multiplicando o potencial poluidor:

— A principal razão é esgoto, coliformes fecais. Registramos um número alto de pontos impróprios. Poucas vezes chegamos a esse número. Precisamos de sensibilização do poder público e das pessoas.

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Em Florianópolis, a Vigilância Epidemiológica registrou um aumento de 500% nos casos de virose. Na penúltima semana de 2015, ocorreram 200 atendimentos por diarreia aguda no município. Na primeira semana do ano, os casos saltaram para 1,2 mil. Também foram relatados sintomas como vômito, dor abdominal e febre. A maior parte dos pacientes havia visitado praias do norte da Capital, principalmente Ingleses, Canasvieiras e Ponta das Canas.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde orientou população e turistas a seguirem as indicações da Fatma quanto aos pontos de balneabilidade, evitando os lugares impróprios.

— Existe relação de virose do trato digestivo com o tratamento inadequado de esgoto. Então, podemos inferir que existe relação entre a questão sanitária deficiente e os casos de virose. Precisamos de melhorias de saneamento. Esgoto sendo despejado diretamente no mar representa vírus e bactérias. Mais pessoas na região significa mais esgoto sendo eliminado e mais pessoas expostas — afirma o infectologista Gustavo de Araújo Pinto, professor de doenças infecciosas na Universidade do Sul de Santa Catarina.

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Para dizer se um ponto é próprio ou impróprio para banho, é necessário comparar os resultados das análises feitas em amostras coletadas cinco vezes consecutivamente. O fator analisado é a presença da bactéria Escherichia coli, presente em fezes de animais e humanos e que pode causar doenças, além de indicar a possibilidade de outros organismos que podem prejudicar a saúde do banhista. Quando em mais de uma das amostras a quantidade de bactérias passa de 800 por 100 mililitros, o ponto é considerado impróprio para banho. Se o resultado for maior do que 2 mil, o ponto é declarado impróprio mesmo que não haja um segundo teste negativo.

Nesta segunda-feira, as atenções se voltaram para a praia de Perequê, em Porto Belo, entre Bombinhas e Balneário Camboriú. O aparecimento de uma mancha escura no Rio Perequê, que avançou para o mar, levou a diretoria de fiscalização da Fatma a notificar a Companhia Nacional de Saneamento (Conasa — Águas de Itapema), que opera uma Estação de Tratamento de Esgoto na região, a solicitar esclarecimentos. O órgão ambiental quer saber se houve incidente nos últimos dias. Os bombeiros recomendaram que os banhistas mantivessem distância da água no trecho atingido pela mancha.

Nas análises preliminares desta segunda-feira, que incluíram uma visita à estação de tratamento da companhia, o gerente regional da Fatma, Arno Gesser Filho, disse que a aparência não condiz com características de vazamento de esgoto sanitário. Segundo Gesser Filho, trata-se de uma análise visual, e uma afirmação mais contundente só será possível após a avaliação das amostras retiradas do mar e do Rio Perequê.

— A princípio não se trata de esgoto, a característica física não condiz — afirma.

A expectativa é de que os resultados dos exames sejam divulgados no final da tarde desta terça-feira. De acordo com o gerente regional, é possível que a mancha seja causada por proliferação de algas (que precisaria ter os motivos estudados) ou decomposição de matéria orgânica como raízes das árvores que ficam às margens do rio.

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A mancha no rio tem uma coloração marrom avermelhada e, segundo o relato de moradores, não chega a liberar fortes odores. A Lagoa do Perequê também apresenta as mesmas características — o que pode indicar outra fonte de poluição. O aparecimento de peixes mortos na praia foi o que alertou os banhistas no domingo.

Em nota à imprensa, a Conasa afirmou que a estação de tratamento de esgoto “opera na mais absoluta normalidade, obedecendo a todos os parâmetros de qualidade exigidos na legislação” e que o “efluente tratado não tem qualquer relação com o despejo irregular de esgoto identificado na praia do Perequê”. Declarou, ainda, que “afirmações apressadas” buscaram “responsabilizá-la de maneira irresponsável”, e que “é de domínio público que já foram identificadas diversas fontes de lançamento irregular de efluentes”.

Canasvieiras é epicentro da contaminação no litoral de Santa Catarina

Mas é a praia tradicionalmente disputada palmo a palmo por turistas gaúchos e argentinos, Canasvieiras, o epicentro da contaminação em território catarinense. Nenhum outro trecho de litoral do Estado vizinho gera tanta preocupação. Há duas semanas, todos os oito pontos analisados no balneário estavam poluídos. Na semana passada, o número havia caído para dois, mas a situação ainda era alarmante. Banhistas usando máscaras à beira-mar, por causa do cheiro.

O foco do problema é o Rio do Braz. No local onde ele encontra o mar, a água tem se apresentado turva, fétida e com alta concentração da bactéria Escherichia coli. Na véspera do Ano-Novo, a Agência de Regulação de Serviço Público de Santa Catarina (Aresc) constatou vazamento de esgoto bruto na Estação Elevatória de Esgoto do rio, que escorre para a praia, e notificou a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). “Mesmo sendo somente em dias de precipitação e mesmo sabendo de toda a influência de água de chuva que a Estação Elevatória recebe, o extravasamento de esgoto não pode continuar ocorrendo”, alertaram os técnicos, em documento. O Ministério Público abriu inquérito civil para investigar a poluição do rio.

A questão envolvendo a estação é uma parcela do drama. Em Canasvieiras, grande parte do esgoto produzido por comércio e residências é despejado diretamente no mar. Segundo dados da prefeitura de Florianópolis, uma fiscalização realizada em 3.010 imóveis do balneário constatou que 51,6% apresentavam ligações sanitárias inadequadas. Em Cachoeira de Bom Jesus, praia vizinha, as irregularidades foram flagradas em 57% dos imóveis. A prefeitura promete multar quem não regularizar a situação.

O quadro transtornou o veraneio de muitos visitantes. Em um grupo de 20 turistas argentinos, só três escaparam das manchas na pele, diarreia e febre. Luciana Zurlo, de Caxias do Sul, teve de buscar atendimento médico para o filho de dois anos, Lucas, acometido por vômitos. Morador do balneário há três anos, o argentino Gaston Mestre, 30 anos, pretende se mudar depois de junho por causa do mau cheiro provocado pelo esgoto despejado no Rio do Braz. Segundo ele, muitos turistas argentinos estão indo embora por causa da poluição no mar.

O turista gaúcho Anderson Fagundes Alves, 59 anos, frequenta Canasvieiras desde 2005 e diz que nunca viu nada parecido ao que está presenciando em 2016. Ele pensa em não voltar no ano que vem, depois que a mulher e a a filha tiveram uma virose após tomar banho na água suja da praia.

Donos de hotéis e bares estão apreensivos com o futuro da temporada e estimam que cancelamentos e prejuízos sejam inevitáveis.

— A reação é a pior possível. Muita gente já foi embora. Não se sabe o que vai ser — lamentou o presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de Santa Catarina, Estanislau Bresolin.

Fonte: Zh
Foto: Betina Humeres/Agência RBS

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