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Pannunzio admite que abastecimento de água em Sorocaba vive momento de crise

“Crise”. Esse foi o termo adotado ontem pelo prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) para o problema da falta de água enfrentado por milhares de sorocabanos nos dias mais quentes, desde o início do verão no ano passado. “Estamos vivendo uma crise no abastecimento de água na cidade, isso não é novidade“, declarou Pannunzio durante entrevista em que apresentou um novo diretor-geral para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto, o Saae (leia matéria abaixo).

O diretor-geral que deixará a função amanhã, Wilson Unterkircher Filho, prevê que a falta será reduzida com os investimentos em andamento para elevar a capacidade de distribuir a água processada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Cerrado. Segundo ele, hoje a ETA Cerrado tem mais capacidade para tratar do que infraestrutura para distribuir à população. Contudo considera “utópico” afirmar que Sorocaba deixará de ter problema com a falta da água.

Segundo Unterkircher, as regiões mais prejudicadas atualmente são os bairros da zona norte, as imediações do Ibiti do Paço, Boa Vista, Jardim Saira, Dois Corações e região do Maria Eugênia. Preferiu deixar de estimar quantas mil pessoas são afetadas com o desabastecimento em Sorocaba. Na coletiva com o prefeito foi ressaltado que nas piores situações a falta da água não ultrapassa as 12 horas. O prefeito Pannunzio disse que para este ano está previsto o investimento de cerca de R$ 30 milhões, considerando apenas os recursos do município.

O empenho é para elevar a capacidade média de bombeamento da água já tratada, dos atuais 1.750 litros por segundo para 2.250 litros por segundo, um aumento de 28%. 2,2 mil litros por segundo é a atual capacidade máxima de tratamento daquela ETA, ou seja, inferior à futura capacidade de bombeamento. Mesmo assim a intenção é que as bombas injetarão 49% a mais do que atualmente no sistema, ou cerca de 2,6 mil litros por segundo.

Para injetar mais do que é tratado usará o líquido armazenado no reservatório da ETA Cerrado. Questionado se não vai faltar água tratada para alimentar as novas bombas, Unterkircher explicou que o sistema foi dimensionado para a capacidade máxima daquela estação. Lembrou haver R$ 55 milhões em recursos no Ministério das Cidades e que o prefeito já autorizou estudos preliminares para recuperar mais uma adutora de 500 milímetros para levar água bruta da represa de Itupararanga até a ETA Cerrado. Opinou que outros novos grandes investimentos naquela ETA precisam ser feitos com prudência, sob a pena de aplicar ali o que pode ser usado para instalar um outro produtor de água na zona norte, ou seja, dar preferência para a região que está em crescimento.

Segundo Pannunzio a última ampliação na ETA Cerrado ocorreu há cerca de 20 anos, durante o governo dele, quando elevou a capacidade para 1,6 mil litros por segundo. Depois disso foram aumentando até chegar aos 2,2 mil litros por segundo, mas dentro da ampliação feita na anterior administração dele próprio. Considera que também houve algum investimento em caixas d”água para o armazenamento, mas que hoje claramente precisa de mais reservas nas partes altas da cidade.

Disse que os equipamentos, bombas, painéis e válvulas que controlam o fluxo de entrada e saída da água na ETA Cerrado são os mesmos daquela época. “Evidente que a cidade cresceu bastante, a demanda de água aumentou substancialmente, e nesse meio tempo foi feita a ampliação de anéis adutores (tubulações pela cidade) para melhorar um pouco as condições dos bairros mais distantes“, afirmou Pannunzio. Segundo ele, nos últimos 16 anos o Saae priorizou os investimentos na coleta, afastamento e tratamento de esgoto, enquanto a água ficou sem grandes investimentos. “Não quero dizer que o Saae tenha ficado inerte“, declarou.

 Troca é atribuída a convite profissional
A saída do diretor-geral do Saae, Wilson Unterkircher Filho, foi atribuída tanto por ele quanto pelo prefeito à proposta profissional recebida no setor privado. A partir da próxima segunda-feira a função será ocupada pelo atual diretor operacional de água da mesma autarquia, o engenheiro Adhemar José Spinelli Júnior. Em outubro de 2011, quando secretário de Obras e Infraestrutura Urbana (Seobe) da administração do ex-prefeito Vitor Lippi (PSDB), Unterkircher também abriu mão da função na Prefeitura alegando ter surgido “uma ótima oportunidade profissional na vida dele”.

Ontem, Pannunzio lamentou o desligamento de Unterkircher elogiando a contribuição dele e afirmando que já previa esse fato, pois quando o convidou para ocupar o cargo, o profissional havia dito que tinha excelentes propostas na iniciativa privada, mas cedeu à solicitação do prefeito. Adhemar José Spinelli Júnior assumirá o mais alto posto do Saae de Sorocaba em 1º de fevereiro.

Disse que o seu principal desafio será sair da atual crise da falta d”água. Está confiante que no próximo verão, ainda neste ano, a situação será mais tranquila do que a atual. Diz que para isso dará continuidade a todas as obras em execução ou já projetadas pelo diretor que deixa a função. “Dentro do planejamento do abastecimento de água nós vamos com certeza sair dessa fase mais crítica e prosseguir com o trabalho planejado para as demandas futuras da cidade“, afirmou. A exemplo de Unterkircher, declarou que nunca dá para dizer que acaba a falta da água porque sempre tem pontos a serem investidos e aprimorados.

Funcionário de carreira
Adhemar José Spinelli Júnior, 48 anos, é profissional concursado do Saae, onde ingressou há 21 anos, na função de engenheiro eletricista em 1992. É formado pela Universidade de São Paulo, campus São Carlos e mestre em engenharia industrial. Também lecionou como professor universitário na Escola de Engenharia de Piracicaba -EEP, de 1990 a 2008. Na autarquia já passou pelos cargos de chefe do setor de manutenção elétrica, chefe da área de eletromecânica, chefe do departamento de drenagem, assessor técnico e diretor operacional de esgoto e de água.

Investimentos visam superar os problemas
Na intenção de vencer a crise do abastecimento o Saae está investindo na substituição de cinco bombas, na troca de um painel elétrico e na instalação de tubulações pela cidade, os denominados anéis adutores. O painel é responsável pelo sistema elétrico, pesa 2,5 toneladas e o trabalho para a troca dele será o mais complexo, pois exigirá o desligamento do fornecimento de toda a água produzida pela ETA Cerrado por cerca de até dez horas, desabastecendo a cidade. Essa ETA é responsável pelo tratamento de 80% da água consumida pelos sorocabanos.

A troca das bombas será menos complicada, já que é mais rápido, será uma por vez e aos finais de semana. Como as novas cinco bombas são mais potentes, apenas quatro ficarão em funcionamento em tempo integral, enquanto hoje, todas elas são mantidas ligadas e quando ocorre algum problema há dificuldades para abastecer a cidade. Pannunzio afirmou que a troca do painel será em março, quando reduzir as altas temperaturas e o elevado consumo de água. Disse também que foram feitos apenas dois quilômetros da obra de susbtituição de uma das adutoras da Serra de São Francisco até a Estação do Cerrado e com isso faltam dez quilômetros.

O prefeito lembrou que já foi construído um anel adutor que atende à região do bairro Campolim e que neste momento estão sendo instalados outros dois para atender a zona norte. Também há a previsão de um novo anel adutor para a região da Vila Santana, que também atenderá os bairros Saira, Ibiti do Paço e Dois Corações.

Protesto volta a reclamar de falta dӇgua
A falta de água no bairro Jardim Aeroporto foi mais uma vez motivo de protesto por parte dos moradores. Ontem, por volta das 17h, dezenas de jovens e adolescentes voltaram a interditar a avenida Adão Pereira de Camargo, com entulhos e pedaços de madeira, que foram queimados, impedindo a passagem de veículos nos dois sentidos da via. O trânsito precisou ser desviado. Alguns motoristas que tentavam descer a avenida tiveram que retornar para evitar confronto com os manifestantes.

O mesmo aconteceu com dois policiais militares que tentaram se aproximar da manifestação com duas motocicletas e foram recebidos com pedradas. Eles recuaram e permaneceram numa distância segura, aguardando orientação do comando sobre as providências que seriam tomadas.

Por outro lado, crianças, adolescentes, adultos e idosos demonstravam toda a indignação pela falta d”água. “Moro no bairro desde que nasci. Nunca tivemos tantos problemas com a falta de água como no último mês. Todos já reclamaram. Mas a solução ainda não chegou“, comentou a dona de casa, Rosanira, de 53 anos.

Entre os jovens, o sentimento era de revolta. “Ninguém resolve nada. Inclusive vocês da imprensa, que passam por aqui, tiram fotos, fazem filmagens, publicam o material, mas a falta de água continua“, afirmou um manifestante que não quis se identificar.
Antes de se aproximar do local, a reportagem do Cruzeiro do Sul também foi hostilizada. Mas em seguida, foi recebida pelos jovens manifestantes, que fizeram denúncias em relação à atuação da polícia na manifestação que havia ocorrido no mesmo local na última segunda-feira: “Eles chegaram atirando. Acertaram balas de borrachas em crianças“, afirmou outro manifestante, mostrando a perna de um garoto alvejado por um tiro de bala de borracha.

Por outro lado, os policiais militares que atenderam a ocorrência ontem deram sua versão. “Você viu que quando chegamos perto, eles começaram a atirar pedras. Nós retornamos e agora vamos aguardar as ordens do nosso comando. Espero que o problema que provocou mais esse protesto seja resolvido o mais rápido possível“, informou um dos policiais. Os policiais também negaram que tenha ocorrido força excessiva no protesto anterior.

Aparentemente resolvido
No Residencial Altos do Ipanema, onde moradores também protestaram contra a falta d”água na última segunda-feira, a situação parecia normalizada na tarde de ontem. O Cruzeiro do Sul passou pelo condomínio, mas foi impedido de entrar no local pelos funcionários da portaria. “Os problemas foram resolvidos. Hoje (ontem), o Saae enviou seis caminhões pipa para encher os reservatórios e a construtora responsável pela obra, também está realizando os reparos nas bombas d”água“, informou uma das porteiras, que sem apresentar motivos, tentou impedir que a reportagem fotografasse um dos caminhões-pipa.

Fonte: Cruzeiro do Sul
Veja mais: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/528589/pannunzio-admite-que-abastecimento-de-agua-em-sorocaba-vive-momento-de-crise

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