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Revitalização de riacho gera impasse entre prefeitura de Maceió e Estado

Dona Maria Aparecida dos Santos, 46, mora com quatro filhos e dois netos na Grota do Rafael, no bairro do Jacintinho, e não imaginava que todo o esgoto que eles produzem fosse parar no mar. “Desde que vim morar aqui o esgoto é jogado aí. Soube que isso era um riacho, mas sempre cheirou mal”, conta. O riacho que Dona Maria se refe é o Riacho das Águas Férreas, ou Águas do Ferro, que nasce no coração do bairro do Barro Duro, em Maceió, e percorre seis outros bairros até chegar em Cruz das Almas, onde deságua no mar.

O curso do Riacho das Águas Férreas foi modificado várias vezes, em uma delas foi no local onde ele deságua, que passou do final da Jatiúca para Cruz das Almas, por causa da expansão urbana. O grande problema desse riacho é que todo o leito está completamente poluído e com altos índices de toxidade.

Duas pesquisas feitas entre os anos de 2010 e 2013 pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) revelam que o riacho é intermitente, ou seja, o fluxo de água superficial desaparece durante seu período de estiagem. No verão, toda a água vista no que seria o rio vem dos esgotos das grotas que ficam no entorno da bacia do riacho, no Barro Duro, passando por Feitosa, Jacintinho, Jacarecica, São Jorge, Mangabeiras, até chegar em Cruz das Almas.

As pesquisas constataram ainda que de cinco riachos analisados na capital alagoana, o Águas de Ferro é o mais poluído, ou seja, apresenta a maior toxidade. Outro fator que contribuiu durante décadas para a degradação do riacho foi o chorume produzido pelo antigo lixão, localizado no São Jorge, que chegava até o rio.

A toxidade do riacho era agravada por causa do chorume, mas isso já foi solucionado. O lixão foi tratado e o curso do riacho foi modificado por causa da construção de via que liga os bairros de Jacarecica e Barro Duro. Mesmo com toda essa modificação de curso, como o chorume é produzido durante anos, mesmo com o lixão desativado e, consequentemente ele iria para o Ferro. Mas deve haver um tratamento adequado para esse chorume, que hoje é sugado e levado para uma estação de tratamento no Benedito Bentes e, depois disso, segue para o emissário submarino. Se isto parasse, nem a pista nova conteria o chorume em épocas de chuva muito intensa“, diz Roberto Caffaro.

Grotas
Segundo a pesquisa, cerca de 15 mil pessoas moram em favelas e, assim como a família de Dona Maria Aparecida, lançam o esgoto no riacho. Essa população corresponde a 30% do total de habitantes na bacia do Águas de Ferro. “Essas pessoas não possuem saneamento básico e, além disso, também jogam lixo no riacho porque o caminhão coletor não passa no local, que é de difícil acesso”, afirma Caffaro.

Para o professor Roberto Caffaro, a solução do problema é simples, porém é bastante difícil de ser colocada em prática: levar saneamento básico para todas as pessoas que moram em grotas. “Isso é viável do ponto de vista técnico, mas difícil do ponto de vista social. Até mesmo o Riacho Salgadinho [um dos mais conhecidos da capital e que desagua na Praia da Avenida] pode ser recuperado, é simples, mas demanda tempo e uma dose de boa vontade”, reforça.

A reportagem do G1 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), com a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinfra), com o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e com a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) para saber o que vem sendo efeito a fim de sanar a agressão ao meio ambiente provocada pela poluição do Riacho das Águas de Ferro. Cada órgão, entretanto, se eximiu da responsabilidade e indicou os outros órgãos para falar do problema.

O Instituto de Meio Ambiente disse que intermediou uma conversa entre a Seminfra e a Casal na tentativa de acabar com as línguas sujas na praia. O Município disse que está sendo colocando em prática um projeto de 2006, da gestão passada, para transpor o Águas de Ferro para o Riacho do Sapo, no bairro de Mangabeiras, e, assim, impedir que o esgoto seja lançado na Praia de Cruz das Almas.

Estamos recuperando a estação de elevatório para fazer uma transposição de águas. Antigamente, a água ia diretamente para o esgotamento sanitário, mas como ia com muitos detritos, começou a danificar os equipamentos da Casal, por isso estamos tocando o projeto da transposição. Temos um outro projeto para tentar limpar de vez o Águas de ferro, mas ainda está em análise e não há previsão para ser colocado em prática”, afirma o integrante da Coordenação de Controle Ambiental da Seminfra, Roberto Barbosa Denis.

Sobre a questão do saneamento básico nas grotas, a prefeitura disse que a concessão para o esgotamento sanitário é de responsabilidade da Casal e que ela, ou o Estado, devem proporcionar uma melhor qualidade de vida para essas pessoas. Disse ainda que só em Maceió existem 77 grotas e que é preciso um esforço conjunto para melhorar as questões ligadas ao meio ambiente.

Nós temos projetos para a parte alta da cidade de esgotamento sanitário, mas não temos um projeto para essa região e nem há qualquer previsão para uma melhoria no local”, afirma o representante da Seminfra.

A Casal, por sua vez, disse que não constrói esgotamento sanitário e que isso é de responsabilidade do Estado ou da prefeitura. Disse ainda que só faz manutenção dessa estações e que cuida de distribuir água e tratar do esgoto.

Já a Seinfra disse que é preciso um esforço entre vários órgãos para proporcionar um saneamento básico na região. Disse ainda que os locais citados na reportagem não estão contemplados em qualquer projeto de revitalização e que não há previsão para a solução do esgoto das famílias que moram em grotas. Entretanto, estima que em até dois anos 80% da capital estarão saneados.

Entretanto, pelos resultados semanalmente divulgados pelo IMA sobre os índices de toxidade no mar, parece improvável a extinção das línguas sujas em trechos do litoral de Maceió. E como, no verão, o que corre no Riacho das Águas Férreas é puro esgoto doméstico e sem união entre os órgãos públicos competentes, o Ferro deve continuar poluído por muitos anos e levando essa poluição à Praia de Cruz das Almas.

Fonte: G1
Veja mais: http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2014/02/revitalizacao-de-riacho-gera-impasse-entre-prefeitura-de-maceio-e-estado.html

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