No mundo hiper informado e dinâmico em que vivemos, a inovação é questão de sobrevivência.
Eduardo Pavani
Na indústria, a inovação foi impulsionada pelas pressões da legislação, em especial, a ambiental, pela mudança na mentalidade mundial em relação à utilização dos recursos naturais. Isso mesmo, há três décadas, o mundo usava a água sem preocupações porque se pensava tratar de um recurso infinito.
A atitude em relação a água começou a mudar por causa da progressiva escassez e pela introdução de normas mais rígidas para a sua captação e uso. O ponto chave dessa mudança deu-se em 1987, quando o relatório Brundtland definiu o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que permite satisfazer as necessidades presentes sem comprometera a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.
Do ponto de vista empresarial, foi a partir daí que cresceu a consciência de que não bastava que o negócio fosse apenas rentável, ele teria de ser também sustentável. Ser sustentável passou a significar cuidado para que o impacto da atividade econômica no meio ambiente não fosse destrutivo. É esse momento que vivemos hoje na América Latina e no mundo
Em vista dessa conjuntura, a SUEZ tomou a decisão estratégica de setorizar suas divisões em industrial e municipal na América Latina para oferecer soluções completas e sustentáveis. A indústria voltada para óleo e gás (produção, extração e refino de petróleo e gás) é forte no Brasil, Argentina, Colômbia e México. A de alimentos e bebidas está no Brasil, Argentina e México.
Produção de bioetanol
O Brasil é o principal produtor de açúcar e de etanol no mundo. Na Argentina, está crescendo a produção de bioetanol a partir do milho. A indústria da mineração, em especial, a do Brasil, Chile e Peru, é nosso terceiro foco. Argentina e Chile é rica em lítio, componente chave para a produção de baterias de eletrônicos. A siderurgia está concentrada no Brasil, Argentina e México. Todos esses segmentos dependem fortemente da utilização da água.
Usada no processo industrial para gerar energia ou resfriar caldeiras, a água precisa ser tratada de acordo com o seu uso. A indústria eletrônica requer água extremamente pura. Na de alimentos, em que figura como ingrediente, tem de ser pura, livre de elementos químicos e sem bactérias. Na indústria de óleo e gás, tem de ser dessalinizada e limpa de sulfatos. A água utilizada em cada um desses setores requer um tipo de tratamento específico.
A água bruta não tem a mesma qualidade. A água do mar é diferente da encontrada no Rio Paraná, que é diferente da do Rio Amazonas, do Rio de la Plata e assim por diante.
A água não é apenas H2O. Dependendo da fonte, ela vem com outros elementos: sais de cálcio, de magnésio, de ferro, sulfato, carbonato, bactérias etc. No processo industrial, com aquecimento esses sais tendem a se depositar nos equipamentos que, com o tempo, acabam corroídos ou incrustrados. Como esses equipamentos são caros, a prevenção é cuidado-chave para se prolongar a vida deles.
Está claro hoje que ser sustentável é reduzir o consumo dos recursos e reciclar o já utilizado para diminuir o impacto ambiental. Foi isso que estimulou o desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem da água para diversos usos.
A legislação, cada vez mais restritiva, propiciou o desenvolvimento de uma tecnologia alternativa de químicos e equipamentos, assim como soluções avançadas para promover reuso da água na indústria e em outras áreas. Empresas viram nesse caminho uma oportunidade de negócio e usaram a criatividade para descobrir soluções cada vez mais sofisticadas, capazes de atender especificidades de cada indústria.
Crescimento econômico
Na América Latina, o tímido crescimento econômico tem sido um limitador para as empresas focadas em soluções tecnológicas, mas pode-se dizer, sem medo de errar, que o avanço regulatório caminhou junto com o avanço tecnológico que propiciou o surgimento de novas oportunidades para a investigação científica.
O fato é que hoje, o desenvolvimento de tecnologias por si só já não é suficiente. É consenso que, para a solução ser completa, ela deve ser associada à digitalização. Aí é que surge uma grande questão: não basta ter a informação, o importante é saber o que fazer com ela.
No mundo em que vivemos, as informações não podem servir apenas para entregar um lindo relatório para o cliente. Nosso principal desafio é levantar a informação e interpretá-la para saber que ação tomar. Isso significa traduzir o ciclo de trabalho, integrando digitalmente em uma plataforma de serviços.
Uma boa analogia seria a comparação entre o GPS e o Waze. O primeiro mostrava o menor caminho de ponto a ponto. O Waze somou a isso, de forma integrada, outras informações em tempo real: desvios, obras na via, acidentes, volume de tráfego etc. – que facilita a tomada de decisão para se chegar mais rápido. Essa é a diferença entre a SUEZ e os outros. A integração de tecnologias da forma certa reduz a carga de serviços para a tomada de decisões, oferecendo soluções mais eficientes para aumentar a produção, reduzir custos e o consumo de água.
Revolução dos recursos
Dessa forma é que surge a indústria inteligente, cujo conceito é o mesmo da cidade inteligente, nas quais problemas e desafios podem ser enfrentado com uma rede digital que interliga as análises dos dados e os planos de ação. Podemos ir mais longe ainda ao integrarmos mais indústrias na mesma plataforma digital. O resíduo gerado por uma planta pode ser matéria-prima para outra indústria e assim por diante.
Em suma, essa é, na prática, a Revolução dos Recursos para a qual a SUEZ sabe que estamos prontos. A pesquisa de novas tecnologias e sua integração digital mostra uma luz no fim do túnel capaz de iluminar alternativas para se continuar produzindo melhor e sem desperdício.
Eduardo Pavani é engenheiro químico e vice-presidente sênior da SUEZ Water Technologies & Solutions para a América Latina.