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Modificação no design de tampinhas de pet pode reduzir impactos ambientais no oceano

Houve um tempo, em um passado não muito distante em que, as amadas latinhas de cerveja e refrigerante não possuíam nenhum tipo de dispositivo de abertura, uma época em que, quem quisesse apreciar uma bela cerveja ao ar livre não poderia jamais se dar ao luxo de esquecer seu abridor de latas em casa.

Mas claro, como todos nós sabemos muito bem, a humanidade adora conforto e, por este motivo, estas latinhas originalmente lançadas em 1935 nos Estados Unidos, não fizeram muito sucesso cedendo espaço para as suas precursoras, que poderiam ser magicamente abertas com o auxílio de um lacre de metal batizado de pull-tab.

A revolução começou em um belo dia de sol quando o engenheiro norte-americano Ermal Cleon Fraze saiu para mais um piquenique em família. Só que, desta vez, cometeu o grave deslize de esquecer seu abridor de latas. Sem outra alternativa, Fraze acabou por abrir suas cervejas no para-choque do seu carro e, se irritou tanto, mas tanto, que, naquele mesmo dia, passou a noite inteira em claro inventando uma forma mais simples de abrir latas de cerveja.

Pouco tempo depois, o novo sistema criado por Fraze já estrelava seu primeiro comercial na televisão (vídeo abaixo). Só que, em muito pouco tempo, esse lacre passaria de ‘queridinho da nação’ para um dos maiores vilões ambientais da história.

O dispositivo criado por Fraze – o primeiro lacre à automatizar a abertura de latinhas de cerveja e refrigerante – se destacava por completo da embalagem e, exatamente por isso, acabou sendo descartado no meio ambiente facilmente, gerando uma quantidade gigantesca de resíduos.

Só que o prejuízo causado por estes lacres não se restringiu ao meio ambiente. Em 1976, artigo publicado na revista The Journal of the American Medical Association, intitulado Aluminum “pop tops”. A hazard to child healthabordou uma série de acidentes com crianças que engoliram os lacres. A partir daí, mais e mais artigos científicos foram publicados e os problemas em torno deste sistema deixaram de ser “apenas” ambientais para se tornar uma grave ameaça à saúde pública.

E foram justamente as centenas de casos de crianças que engoliram lacres de alumínio – como aponta o artigo Swallowed Coke can tab: is it still stuck in the esophagus? – que, impulsionaram a opinião pública a apoiar o físico Lee Rogers na guerra contra estas embalagens.

Durante painel em um congresso científico de radiologia, Rogers – que, aliás, já havia engolido também um lacre de latinha -, com o apoio de mais de 400 veículos de mídia, iniciou um movimento contra a utilização dos lacres pull-tab.

Foi o começo do fim desses lacres e. em pouco tempo, um novo modelo seria adotado por todas as companhias. Criado por Daniel F. Cudzik e lançado em 1975, o novo lacre não se destacava mais da embalagem, ao contrário, ele permanecia preso à latinha, mesmo após a sua abertura. Este elegante sistema de abertura apresentado por Cudzik – que, ficou conhecido como sta-tab ou stay-on-tab –, é praticamente o mesmo utilizado hoje nas latinhas de alumínio modernas.

Detritos plásticos matam 5% das espécies de aves marinhas

Segundo o livro Inventions by Design estimativas apontam que a implementação do uso deste novo sistema fez com que as indústrias do ramo recuperassem e reciclassem nada menos que 4 milhões de toneladas de alumínio, resíduos que, antes, teriam sido descartados na natureza.

A simples modificação de um dispositivo de abertura, transformando um lacre descartável em um lacre que, mesmo após a abertura da latinha, permanece fixo a embalagem, revolucionou para sempre todo o mercado de embalagens de alumínio para bebidas. Além disso, evitou a produção de toneladas de resíduos e diminuiu os riscos de acidentes com crianças e adultos. Uau!

Em 2016, novamente um subestimado sistema criado para a abertura de embalagens volta a ameaçar o meio ambiente, se tornando nada menos que um dos maiores poluentes plásticos do planeta e colocando em risco milhões de aves marinhas por todo o mundo.

São as tampinhas de garrafas pet!!

Felizmente, hoje as grandes companhias de bebida do mundo podem se inspirar nos erros e acertos do passado e investir em uma ideia genial: a alteração do design das tampas tradicionais, criando facilmente um lacre de segurança que impeça as tampinhas de se separar das garrafas mesmo após abertas (veja imagem abaixo).

bottle cap x

Segundo o último relatório publicado pela Ocean Conservancy, todos os anos, aproximadamente 8 milhões de toneladas métricas de plástico acabam nos oceanos, incluindo bilhões de tampinhas. Os níveis de poluição por plástico aumentam tão rapidamente que, até 2025, poderemos atingir a surpreendente marca de 1 tonelada de plástico para cada 3 toneladas de peixe nos oceanos.

Mas e as aves? Bem, as aves confundem os detritos plásticos à deriva na superfície dos oceanos com suas presas naturais e os engolem. O artigo Bringing Home the Trash: Do Colony-Based Differences in Foraging Distribution Lead to Increased Plastic Ingestion in Laysan Albatrosses?, publicado em 2009 na revista PlosOne, aponta que a ingestão acidental de plástico pelas aves leva à obstrução do trato digestivo, à redução do consumo de alimentos, à intoxicação por substâncias tóxicas e até à morte.

Publicada em julho de 2015, a pesquisa Threat of plastic pollution to seabirds is global, pervasive, and increasing chegou a resultados ainda mais graves. Enquanto, em 1960, detritos plásticos eram encontrados no estômago de menos de 5% das espécies de aves marinhas, em 2010 este número subiu para 80% e, pesquisas científicas apontam que, se nada for feito, até 2050 este número subirá para 99%.

Entretanto, diferente de outros tipos de detritos plásticos, as tampas de garrafas pet extremamente coloridas, com altíssima flutuabilidade e tamanho suficientemente pequeno para serem engolidas possuem as características ideais para se tornarem uma das maiores ameaças a vida de milhões de aves marinhas.

Como estas tampas são quase sempre descartadas sem nenhum cuidado, a grande maioria chega facilmente ao mar e se torna “presa fácil” para aves famintas, um impacto gigantesco sobre algumas das mais belas espécies do mundo. Na verdade, segundo o artigo científico Population Trend of the World’s Monitored Seabirds, 1950-2010, que avaliou o estado de conservação de mais de 500 espécies de aves marinhas, todas as populações destas espécies entraram em declínio de até 70%, a partir de 1950.

Mas, assim como ocorreu no passado com os lacres das antigas latinhas, é possível sim modificar as tampas das garrafas pet e diminuir significativamente os detritos plásticos disponíveis nos oceanos e o impacto dos mesmos sobre as aves marinhas.

Uma petição para salvar os oceanos e os bichos que nele vivem

Como já disse no início deste post, nós do Instituto Passarinhar acreditamos que podemos agir em prol da conservação das espécies e lutar para proteger o patrimônio das próximas gerações, por isso criamos uma petição no site da AvaazExija a substituição de uma tampinha e ajude a salvar milhões de aves marinhas.

O objetivo é coletar o maior número de assinaturas possível e enviar à Câmara e ao Senado, requisitando a elaboração de um projeto de lei que regulamente a implementação de um novo tipo de tampa para as garrafas pet. A petição também tem o intuito de falar com empresas e associações do setor, exigindo que modifiquem, o mais rápido possível, as tampas atualmente adotadas.

Uma simples alteração no design das tampas das garrafas pet poderá evitar que milhões de aves e outros animais tenham o mesmo destino trágico da ave da foto abaixo.

Fonte: Conexão Planeta

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