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‘Usina caseira’ é opção para reduzir conta de luz

Minas Gerais disparou na corrida de implantação da geração distribuída, modalidade em que empresas e residências produzem a própria eletricidade e injetam na rede, para compensação, o que não consomem. Dos 723 projetos instalados no Brasil, 128 estão no Estado, o equivalente a quase 18% do país. O mais recente interligado em Minas é uma usina fotovoltaica de 300 kilowatts-hora/mês (KWh/m), implantada na filial da Loja Elétrica da avenida Pedro II, em Belo Horizonte. A usina é capaz de reduzir em 5% a conta de luz na unidade. Além disso, serve de apoio para um novo projeto: o de cursos na área de gestão de projetos fotovoltaicos.

Para que o projeto pudesse ser viabilizado, 10 painéis de 250 watts foram implantados no telhado da loja. A usina funciona quando há luz solar. Nesse período, se a empresa está em atividade, ela é abastecida com energia própria. Nos finais de semana, por exemplo, quando não há expediente, a energia excedente é injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN) para uso dos demais consumidores do país.

Toda a operação é apurada por um medidor bidirecional, instalado na empresa pela concessionária, no caso, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O interessado paga pelo medidor e o custo vem na conta de luz. Ao final do mês, há um encontro de contas. “O que injetamos na rede é descontado do que consumimos e nós pagamos apenas a diferença”, explica o consultor técnico da Loja Elétrica, Herbert Abreu.
custo

De acordo com ele, a elevação do custo da energia no Brasil e a tecnologia utilizada nos painéis andaram em caminhos opostos nos últimos anos.
Isso significa que, enquanto a energia ficou mais cara, os equipamentos utilizados para gerar a própria eletricidade ficaram mais em conta. Como consequência, o retorno do investimento de quem apostou na geração distribuída chegou mais rápido.

Uma estação fotovoltaica para produzir 300 KWh por mês custa em média R$ 25 mil. Para produzir 150 KWh por mês são necessários R$ 15 mil. Hoje, a previsão de retorno gira em torno de sete anos. Em 2012, quando a geração distribuída saiu do papel, a previsão de payback era de 12 anos. Vale lembrar que a geração distribuída pode ser implantada a partir de usinas eólicas, fotovoltaicas e hidráulicas, entre outras.

Comércio

A Loja Elétrica comercializa todos os equipamentos para produzir energia em casa ou na empresa a partir da luz solar. No último ano, de acordo com Abreu, foram vendidos 300 painéis de 250 watts. “É um mercado em crescimento. E sem volta”, diz o consultor técnico. Os cursos voltados para o setor ministrados pela empresa também registraram uma alta expressiva. Com carga horária de 24 horas, dez turmas já foram formadas. “As pessoas sabem que é uma área promissora”, diz.

Retorno do investimento para a geração pode ser antecipado

Quem investiu na geração distribuída e viu a economia na ponta do lápis foi o presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes. Há cerca de um ano e meio, ele usou R$ 82 mil para implantar uma usina fotovoltaica no telhado de casa. O objetivo era zerar a conta de luz. Na época, ele imaginava que o retorno viria em 14 anos, expectativa que foi achatada. “Nos próximos três ou quatro anos o aporte deve se pagar”, prevê.

A usina de Fróes possui 36 placas de 250 watts cada. Ele estima que, se estivesse pagando uma conta de luz, o boleto giraria em torno de R$ 2 mil por mês. E, além de economizar, ele não sobrecarrega as demais fontes de energia, como as térmicas.

Atualmente, os reservatórios do Sudeste e Centro- Oeste, que respondem por cerca de 70% da produção de energia do país, estão em pouco mais de 37%. O ideal é que eles estivessem próximos de 70%. Em julho do ano passado, o índice ficou próximo, em 34%. Isso significa que o problema se arrasta há mais tempo. Para driblá-lo, a solução é ligar as térmicas, cujos combustíveis (óleo diesel, carvão vegetal e óleo natural, entre outros) são mais caros, impactando diretamente na conta de luz.

Para desafogar o caixa das distribuidoras, o governo instituiu “bandeira vermelha” sempre que os reservatórios baixarem o suficiente para que as térmicas sejam acionadas. Nesse caso, a cada 100 quilowatts-hora (KWh) o consumidor pagará R$ 5,50. Isso sem contar os impostos, como o ICMS, que gira em torno de 40%. O pagamento já acontecia, mas o repasse era anual, no vencimento dos contratos das concessionárias. “Ao produzir a energia em casa ou na empresa, a sociedade contribui, inclusive, para reduzir o custo para os demais”, comenta o presidente da CMU Energia.
Nem tudo são flores

O consultor do setor energético e membro do Instituto de Desenvolvimento do Setor Energético (Ilumina), Roberto D’araújo, diz não ter dúvidas de que a geração distribuída é uma tendência mundial. No entanto, ele ressalta que o Brasil já está atrasado nesse tipo de produção energética.

A Alemanha, principalmente, utiliza esse tipo de tecnologia há algum tempo, com sucesso, destaca D’Araújo. “E a incidência solar no Brasil é bem mais forte do que lá”, diz. Ainda segundo o especialista, embora a quantidade de projetos implantados desde 2012 pareça grande (hoje são 723), ainda deixa a desejar. No Rio de Janeiro, por exemplo, apenas 63 usinas estão implantadas.

Caro

O que emperra a produção própria de energia no Brasil, de acordo com o consultor do setor, é o alto custo dos equipamentos, pressionado pelos impostos. “É necessário que o governo invista na desoneração dos equipamentos para o próprio bem do setor. A geração distribuída acarreta um alívio enorme para as hidrelétricas e térmicas”, diz.

Ele ressalta, ainda, que a cobrança do ICMS também vai na contramão do processo de incentivo de uso da modalidade. Afinal, a eletricidade injetada na rede tem o mesmo peso, ou seja, o mesmo valor, daquela que é produzida e utilizada por ele. “Isso significa que sobre a energia gerada em casa também é cobrado o imposto. O correto seria desonerar para incentivar. Do contrário, andaremos a passos lentos”, alerta.

 

Fonte: Hoje em Dia

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