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Como o Grupo Boticário quer usar a gestão de resíduos para reduzir a desigualdade social no Brasil

Imagem Ilustrativa

Tal qual as matrioskas, aquelas bonecas russas que saem uma de dentro da outra, a pegada ambiental de pessoas e empresas parece uma cadeia sem fim. Porque tudo tem impacto no mundo: do tênis que você usa quando decide poluir menos e andar a pé à borracha do pneu que faz girar o carro elétrico.

O Grupo Boticário tem 16 compromissos para o futuro. E dois deles estão relacionados com a gestão de resíduos e seu impacto na sociedade.

Foi olhando para esse sistema complexo e desafiador de impactos inevitáveis que o Grupo Boticário – dono das marcas O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice?, Beautybox, Multi B, Vult e Beleza na Web – estabeleceu dois compromissos ambiciosos e complexos: mapear e solucionar 150% de todo resíduo sólido gerado pela cadeia e reduzir a desigualdade social de 1 milhão de brasileiros por meio da transformação da realidade da gestão de resíduos no Brasil.

“Quando falamos no propósito de permitir que a beleza transforme a vida das pessoas e o mundo ao seu redor, não estamos falando apenas de estética, mas de como fazer com que o mundo seja um lugar com uma condição melhor para todos os seres humanos”, explica Eduardo Fonseca, diretor de ESG e Assuntos Institucionais do Grupo Boticário, empresa com 44 anos de mercado, 12 mil colaboradores e 4 mil lojas no Brasil.

Esse um milhão de brasileiros impactados pode ser qualquer pessoa, mas, segundo Eduardo, inevitavelmente serão aquelas que fazem parte de populações mais vulneráveis. Seja porque elas formam a grande força de catadores de resíduos no país ou porque vivem em áreas periféricas, sempre mais afetadas por problemas gerados por resíduos, como a falta de saneamento básico.

“Os grupos minorizados são geralmente os mais impactados pelos problemas sociais. Nosso objetivo não é voltado para essas pessoas, mas naturalmente vai ter um envolvimento maior delas.

“Não queremos criar subempregos, mas trazer dignidade e alternativas para que o resíduo deixe de ser um problema ambiental e possa ser uma solução social. Para isso funcionar tem que ser por desenho de negócio e não por uma campanha de marketing.”

A TRANSFORMAÇÃO DEVE VIR DA GERAÇÃO DE OPORTUNIDADE

A principal ideia por trás de mapear e solucionar 150% do resíduo sólido gerado pela cadeia –o que significa receber embalagens também da concorrência– e reduzir a desigualdade social de 1 milhão de brasileiros é conectar as iniciativas de gestão de resíduos à geração de trabalho e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Ao mostrar o que pode ser feito com os resíduos, a expectativa é aumentar o engajamento dos consumidores no programa de logística reversa da empresa, o BotiRecicla, que existe desde 2006 e tem 4 mil pontos de coleta em lojas pelo País. A meta de 150% significa que a empresa receberá e processará também as embalagens da concorrência.

“Não queríamos parar no lugar comum de assumir o compromisso de neutralizar as emissões. Nosso entendimento é que qualquer empresa deveria olhar pra isso como um ponto básico de partida. A gente quis se desafiar a ir além. E os 150% foi uma forma de cravar esse ir além, pensando no que a gente pode fazer além do básico.”

Na prática, estão sendo desenvolvidas diversas iniciativas que buscam resolver algumas questões. Uma das mais recentes, lançada em novembro deste ano, é a Estação Preço de Fábrica, parceria do Grupo Boticário com a Green Mining e a Prefeitura de Carapicuíba, município da Grande São Paulo.

O projeto instalou uma estação de recebimento de vidro no shopping Plaza Carapicuíba. Todo material que chega até lá é pesado e classificado de acordo com a cor. A partir daí, um recibo é gerado e o valor acumulado é depositado semanalmente na conta da pessoa. A meta inicial é recolher 25 toneladas de vidro por mês até fevereiro de 2022. Qualquer pessoa pode levar vidro até a estação, mas existe uma expectativa de que isso movimente, especialmente, os catadores da região.

“A ideia desse projeto é criar valor para o vidro pós-consumo, que ainda tem um valor de mercado muito baixo e não desperta o interesse dos catadores, que são os grandes habilitadores da gestão de resíduos no Brasil. Ao mesmo tempo, estamos falando para os nossos fornecedores que vamos pagar mais caro pelo vidro feito com matéria-prima pós consumo.”

Com isso, espera-se que mais catadores queiram recolher vidro porque terão uma remuneração melhor e a indústria queira produzir vidro a partir de material pós-consumo porque terá demanda de empresas como o Grupo Boticário.

Outra iniciativa para fomentar a cadeia de reciclagem e impactar na qualidade de vida das pessoas é a transformação do plástico pós-consumo em espaços e mobiliário sustentáveis.

O projeto piloto dessa ideia aconteceu no Natal de 2020, quando o grupo construiu uma loja em São Paulo em que o piso, as paredes e o teto foram feitos com plástico reciclado pós-consumo recebidos pela empresa em suas iniciativas de logística reversa. Essa mesma tecnologia é usada na construção de mobiliários e luminárias utilizadas em algumas lojas da companhia.

Neste ano, ela está sendo usada em uma parceria feita com a ONG Gerando Falcões para produzir os contêineres que abrigam as lojas do projeto Bazar do Bem, que emprega jovens em vulnerabilidade social e vende produtos a preços baixos.

O primeiro foi instalado no Shopping Center Norte, em São Paulo, e foi construído usando 2 toneladas de plástico que vieram do descarte da indústria e do consumidor.

“Com isso, não estamos solucionando apenas aquele volume de resíduo como ajudando a gerar oportunidades através deste resíduo”, avalia Eduardo.

O DESAFIO DE IR ALÉM DA RECICLAGEM

Para colocar a logística reversa em funcionamento, não basta criar iniciativas e projetos. É preciso envolver toda a cadeia, incluindo os consumidores, parte fundamental quando se fala em resíduo pós-consumo. Esse é o maior desafio no momento.

“Por sermos multicanal e termos venda direta e e-commerce muito fortes, precisamos falar com o consumidor de formas diferentes. É um processo de conscientização que vai levar tempo. É por isso que a gente não pode atacar simplesmente a reutilização ou retorno das embalagens. Temos que ir, também, para o lugar da reutilização e da redução para realmente repensar nossa forma de consumo. É isso que a gente está tentando trazer pra mesa agora”.

Hoje, o grupo já trabalha com refil para alguns produtos de pele e estuda como fazer isso para a parte de perfumaria, onde esbarra em questões regulatórias, como liberação da Anvisa. Segundo Eduardo, a empresa não pode, por exemplo, ter um sistema de recarga de embalagens – como as máquinas de refrigerante – porque a lei não permite manipular produtos nas lojas e comercializar.

“Aqui, o desafio é como construir esse ambiente de uma forma conjunta para mostrar os benefícios à sociedade e comprovar que isso não traz risco pro consumidor.”

Nesse caso, é fundamental a parceria com a área de Pesquisa e Desenvolvimento para buscar alternativas que ajudem a reduzir o uso de embalagens nos produtos e também a ter embalagens mais sustentáveis, como os frascos de xampu, condicionador e loções da linha Nativa Spa Orgânico, feitos com plástico de origem vegetal e renovável ou com PET 100% reciclado pós-consumo.

“Os objetivos relacionados a resíduos não podem ser uma agenda da área de ESG ou da presidência, porque a materialização depende de todos os lugares. É um lugar de ecossistema, de fazer um processo integrado com toda a organização.”

Uma das estratégias para essa integração foi atrelar uma parcela da remuneração variável de gerentes e vice-presidentes ao atingimento de objetivos de sustentabilidade, incluindo a meta de aumentar o percentual de embalagens recuperadas por meio da logística reversa.


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ALÉM DE REDUZIR, REGENERAR

No Boticário há 3 anos e meio, mas lidando com questões ESG há 8 anos, especialmente na International Paper, onde foi responsável pela área de Sustentabilidade e Comunicação, Eduardo enxerga o ESG como uma oportunidade para que as empresas tenham uma contribuição para o planeta que vá além de reduzir os impactos e ajude a regenerar aquilo que foi perdido ao longo da história.

“As pessoas estão tentando encontrar um nível de maturidade maior. Essa agenda faz com que as empresas olhem para isso como uma forma de fazer os seus negócios e não mais como algo que vai custar mais caro. O Artur [Artur Grynbaum, vice-presidente do conselho administrativo do Grupo Boticário] sempre fala que o ESG hoje é o que qualidade era na década de 90, quando todo mundo falava que as empresas tinham que olhar para qualidade. Hoje, qualidade é óbvio e ninguém fala disso. ESG é isso.”

Fonte: Net Zero.

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