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Energia nuclear no Japão

Quase três anos depois do acidente de Fukushima, o Japão tem um projeto de política energética que envolve a reativação das usinas nucleares. Lançado pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria, o projeto destaca a importância do fornecimento de energia para manter a base industrial do país e lembra que, durante a década de 1970, o Japão teve que importar 90% do seu combustível, até que a implantação de usinas nucleares se mostrou uma fonte segura de energia elétrica confiável e de baixa emissão.

Com o desligamento prolongado de reatores nucleares, essa situação estava se reaproximando. O ministério observou que o Oriente Médio é a fonte de 83% do petróleo bruto do Japão e de 29% de seu gás natural, que vem sendo muito utilizado para substituir as usinas desligadas.

No Japão, um dos pontos do projeto que serão abordados em março é a abertura dos monopólios regionais de abastecimento do país, de modo que as novas organizações, como os governos locais e as pequenas distribuidoras possam começar a fornecer energia. Esta competição visa aumentar a eficiência do setor e promover novas indústrias, além de dar opções aos consumidores.

Os pedidos já estão com a Autoridade Reguladora Nuclear Japonesa para o reinício de 17 reatores. O projeto está previsto para ser aprovado pelo gabinete nesse mês, e os primeiros reatores poderão voltar a operar ainda em 2014.

O presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), que é a entidade de maior representatividade do setor em nosso País, Antonio Müller, que participa do Programa Nuclear Brasileiro desde o seu início, ocorrido na década de 1970, fala do tema.

A decisão do governo japonês foi sensata?
Antonio Müller – O Japão precisa da energia nuclear para sobreviver. É um país com uma economia fortíssima e Fukushima teve um impacto psicológico muito forte em sua população. Mas é preciso ter calma para se analisar toda a situação. O problema é que o maremoto teve uma força absurda, inclusive rompendo uma barragem que acabou destruindo quase toda cidade, afetando também a usina. O medo que se estabeleceu girou em torno de um acidente nuclear, que efetivamente não aconteceu. Esta decisão do governo japonês acaba trazendo à tona novamente a importância da energia nuclear no país.

Esta decisão pode afetar outros mercados?
Antonio Müller – Com certeza vai. Veja o caso da Alemanha. Depois do tsunami, o país decidiu abandonar a energia nuclear. E o resultado para sua economia não foi nada bom. Ela passou a comprar energia elétrica de geração nuclear de países vizinhos. Países vizinhos passaram a investir em usinas nucleares para vender energia elétrica para a Alemanha, indústrias começaram a deixar o país pelo alto custo que a energia passou a ter. Inglaterra e França se uniram para investir neste segmento. Acho que o governo alemão vai repensar esta decisão. Neste momento, há dezenas de novas usinas nucleares sendo construídas no mundo inteiro.

Como está a avaliação das usinas nucleares no mundo?
Antonio Müller – Olha, a geração nuclear deixou de ser um tabu. Você encontra uma ou outra reação aqui e ali, mas por puro desconhecimento. Ainda há pessoas que confundem usina nuclear como se fosse uma bomba nuclear. É a associação que algumas pessoas fazem. E muitas entidades, também por desconhecimento, acredito, incentivam a divulgação desta imagem. E nem se importam ou não se dão conta dos benefícios que a energia nuclear proporciona na Medicina, por exemplo. Os equipamentos nucleares que ajudam a fazer diagnósticos com precisão. Veja o caso da Suíça. Foi feita uma pesquisa pelo governo e identificaram que 64% da população eram favoráveis a energia elétrica com geração nuclear. É uma energia barata, a mais limpa e segura. Isso é uma constatação. Quanto mais informação, mais conhecimento. Nós não temos nada a esconder, muito pelo contrário. Queremos falar para que as pessoas conheçam do que estamos falando e dos benefícios que estamos proporcionando.

E no Brasil? O País vai depender de novas usinas nucleares?
Antonio Müller – Com certeza. Temos dito isso. Os recursos hídricos do nosso País para geração de energia estarão esgotados em 2025. Não teremos outra alternativa. Energia a base de combustíveis fósseis é cara. Veja, recentemente, no mercado ela foi vendida a mais de R$ 1.700 o MWh. A eólica e a energia solar são importantes, mas elas não podem ser a nossa matriz energética, porque são intermitentes. Uma usina nuclear precisa de pelo menos dez anos para estar gerando energia. Cinco para licenças e cinco para sua construção. A EPE precisa tomar a decisão urgentemente. Já está passando da hora.

Mas o Brasil tem recursos para investir?
Antonio Müller – Há inúmeras empresas privadas que querem investir neste segmento no Brasil. Empresas estrangeiras e brasileiras. Criam os projetos, financiam, constroem e vendem a energia para o mercado. Mas o investidor quer pelo menos 51%. Quer ter o controle sobre as decisões. É preciso mudar a nossa legislação. E a ABDAN está conversando com o governo, que reconhece esta necessidade. Já propusemos uma PEC mudando e modernizando a legislação e estamos aguardando o congresso brasileiro.

Fonte: DM
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