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BH tem 750 pontos clandestinos de lixo; por dia, 285 toneladas são recolhidas

Alguém passa por um lote vago e resolve deixar a sacola de lixo por lá. Aos poucos, o lugar começa a acumular sujeira, entulho e até móveis e eletrodomésticos que não têm mais uso.

Levantamento da prefeitura de BH indica 750 pontos críticos de depósito clandestino de resíduos na capital. Desses, 172 estão só na região da Pampulha, campeã de descartes irregulares.

Áreas desocupadas e de proteção ambiental, esquinas pouco movimentadas e córregos são os locais preferidos dos sujões. Por dia, 285 toneladas de resíduos dessa natureza são recolhidas na metrópole. O número corresponde a 12% do total de lixo gerado em BH a cada 24 horas.

A equipe de reportagem do Hoje em Dia visitou alguns locais identificados no mapeamento feito pela administração municipal. Embaixo de um viaduto que passa acima da rua dos Operários, no Cachoeirinha, Nordeste da cidade, foram encontrados pedaços de madeira, folhagens, comida e até a carcaça de um animal. O marceneiro Francisco Geraldo Rodrigues, de 60 anos, trabalha ao lado do bota-fora e conta que a limpeza da área acontece a cada duas semanas.

“Já virou bagunça. As pessoas vêm de bairros diferentes, geralmente à noite, e deixam o lixo. Tem muita gente que passa de carro e joga as sacolas pela janela. Infelizmente, virou um ponto de acúmulo. Agora, por exemplo, tem um gato morto, que atrai outros bichos, como ratazanas e moscas. O mau cheiro é ainda mais forte no calor”, afirma.

Na rua

Outro espaço irregular toma praticamente dois canteiros da avenida Itaituba, esquina com a rua Gomes Pereira, no bairro Boa Vista, na zona Leste. A população insiste em deixar os resíduos espalhados na via, conforme relata uma moradora da região.

A mulher de 50 anos, que preferiu não ser identificada, conta que saiu para fazer compras às 10h (na última quarta-feira), quando o caminhão da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) recolhia o lixo. Ao voltar, uma hora e meia depois, a área já estava novamente tomada por sujeira. “Os ratos, moscas e baratas que ficam por aqui já chegaram em casa. Fico com medo de ter uma doença”, diz.

Reforço

A quantidade de bota-fora no município será atualizada pela SLU no mês que vem. Nesta semana, o órgão irá criar uma comissão permanente de discussão e combate ao lixo clandestino. O grupo analisará o diagnóstico atualizado, além de traçar novas ações para enfrentar o problema.

Hoje, os resíduos irregulares são retirados pela prefeitura. Embora alguns lugares sejam limpos todos os dias, em outros o serviço é feito quinzenalmente. “Muitas vezes, há itens tão grandes que precisamos utilizar uma pá carregadeira”, diz o chefe do Departamento de Serviços de Limpeza da SLU, Pedro Assis Neto.

Depósitos irregulares provocam doenças, enchentes e degradação visual

O acúmulo de lixo não prejudicado apenas o meio ambiente. O descarte clandestino pode trazer complicações para a saúde dos moradores. Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano ressalta que os resíduos podem estar contaminados com bactérias. Dentre os problemas causados por elas estão diarreias e hepatites. O depósito irregular também atrai animais como ratos, que causam a leptospirose.

A situação piora em épocas de chuva. “Água parada nessa sujeira possibilita a proliferação do mosquito Aedes, que transmite dengue, chikungunya e zika”, reforça o médico. No período de tempestades, como destaca o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, os moradores sofrem, ainda, com o lixo concentrado em locais inapropriados. O material é carregado pelas águas até os bueiros, entupindo estruturas e provocando inundações.

Na avaliação do engenheiro sanitarista Hiram Sartori, os pontos críticos tendem a aumentar. Ele ressalta que os bota-fora desvalorizam o espaço urbano. “É uma poluição visual tremenda, dá mau cheiro, o chorume atrai moscas e outros vetores de doenças. As crianças em contato com esse lixo estão vulneráveis se houver, por exemplo, seringas e objetos pontiagudos”, diz.

Alternativa

Para os especialistas, a saída para resolver o problema passa pela conscientização da população. “A percepção sanitária das pessoas precisa mudar. Existe uma chance grande de adoecer por causa disso. Elas precisam entender a quais riscos estão sujeitas e o quanto isso é prejudicial”, afirma Sartori.

Além dos trabalhos educativos, Sérgio Myssior afirma que uma alternativa seria implementar a coleta automatizada. Nesse processo, moradores e empresas têm contêineres de plástico padronizados para o acondicionamento dos materiais por mais tempo até o recolhimento pelo serviço de limpeza em horário e dia estipulados. Um diagnóstico preliminar sobre a implantação da medida já foi realizada, revela a SLU. Agora, o órgão faz estudos para checar a viabilidade do processo.

Lei prevê multa de até R$ 5,5 mil para sujões 

Ao ser flagrado por fiscais da prefeitura depositando lixo em local inadequado, o sujão pode pagar multas que variam de R$ 185 a R$ 5,5 mil. Essa é uma das estratégias do município para combater a formação de bota-fora. Outra aposta é a instalação da placa “Ponto Limpo”, que proíbe o depósito de resíduos.

A ação é acompanhada de um trabalho de conscientização dos moradores e comerciantes sobre a importância da coleta seletiva, explica o chefe do Departamento de Serviços de Limpeza da SLU, Pedro Assis Neto.

Embora existam 280 Pontos Limpos na capital, a prefeitura reconhece que a medida nem sempre funciona. Segundo a SLU, cerca de 30 dessas áreas tiveram o desempenho esperado.

“A ferramenta de combate depende da adesão da população, que precisa se apropriar do espaço. Estamos analisando a instalação de novos e a revitalização dos que estão dando errado”, afirma o gestor.

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Transferência

Uma das placas foi instalada há cerca de um mês na Praça Clemente de Faria, no Prado, na região Oeste. O lugar, que ficava abarrotado de garrafas de vidro, lixo orgânico e ratos, está menos sujo. Porém, ainda é possível observar sacos espalhados por lá.

Cibele Hermógenes Bezerra, que tem uma loja em frente ao Ponto Limpo, comemora a iniciativa. “Antes, aqui tinha até sofá velho e outros móveis quebrados. Melhorou bastante depois dessa mudança. A rua está mais limpa”, afirma.

Mas, segundo a comerciante, o acúmulo de lixo só migrou para outra área. Agora, os resíduos são depositados em quarteirão próximo, na esquina da rua Matosinhos com a Pampas, onde está instalado um bazar beneficente.

Vendedora da loja, Deiseane Romano conta que pessoas chegaram a achar que os descartes eram da instituição. “Nunca colocamos nada. É péssimo, porque passa a impressão de que o bairro está à mercê”.

Fonte: Hoje em dia

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