Moradores dizem que vazamento da substância tem origem no aterro sanitário. Empresa alega que alto volume de chuvas levou líquido tóxico para lavouras.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) investiga a suspeita de um canavial em Franca (SP) tenha sido contaminado por chorume, líquido poluente resultado da decomposição de resíduos orgânicos.
A água escura percorre um caminho de terra na zona rural, como se fosse um riacho, até atingir a lavoura de cana-de-açúcar e um córrego próximo a uma área de preservação ambiental.
A suspeita é de que o vazamento de chorume tenha origem no aterro sanitário do município. Para o ambientalista Orlando Cintra, a situação oferece riscos, como morte de peixes na região, porque a substância pode conter metais pesados.
A Empresa Municipal para o Desenvolvimento de Franca (Emdef) justifica que as chuvas podem ter ocasionado o problema e informa que monitora a situação no local.
Preocupação
O caseiro da fazenda, Luiz Carlos Ferreira do Nascimento, afirma temer que o líquido contamine o lençol freático e a nascente de água, único meio de abastecimento dos moradores na região.
“Dependemos dessa água na fazenda para tomar banho, para fazer comida, para regar as plantações, para tudo. Se contaminar, a gente vai ter que cavar um poço artesiano para poder sobreviver e manter a fazenda. Hoje, isso fica caro”, diz.
Já a arquiteta Beatriz Vieira, uma das proprietárias da fazenda, afirma que o problema é recorrente e acontece em época de chuvas intensas, como as que atingiram Franca na última semana. Segundo Beatriz, neste ano o vazamento de chorume tem sido mais intenso que em anos anteriores.
“Quando está chovendo, principalmente mais forte, a gente consegue ver e identificar que a água vem dessa área onde fica o aterro sanitário. Quando a chuva está mais forte, chega a formar quase um rio em direção à nossa nascente”, reclama.
Riscos à saúde
O ambientalista Orlando Cintra explica que os principais riscos ao meio ambiente e à saúde dos moradores estão relacionados à presença de metais pesados no chorume e à alta demanda bioquímica de oxigênio.
“O chorume lançado em uma nascente vai consumir em quantidade muito grande o oxigênio disponível, comprometendo a vida aquática e resultando na mortandade dos peixes”, esclarece.
Ainda segundo Cintra, a substância tem alto índice de poluentes. Por isso, a suspeita de que alimentos plantados no local, bem como o lençol freático, sejam contaminados pelo chorume não está descartada.
“Isso não deveria transbordar para os mananciais. Independente de qualquer questão meteorológica, deveria haver contenção desse chorume no aterro sanitário”, diz o ambientalista.
Monitoramento
A Empresa Municipal Para o Desenvolvimento de Franca (Emdef), responsável pela gestão do aterro sanitário, informa monitorar a situação e estar retirando o excesso do material para que não atinja as lavoras.
A empresa comunica ainda que realiza o controle permanente da área com dispositivos de contenção, que serão ampliados, se necessário. A substância, de acordo com a Emdef, teria sido levada pelo grande volume das chuvas.