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Dia Mundial da Água: será que conseguiremos protegê-la reduzindo também as perdas de água tratada?

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Na segunda-feira, dia 22 de março, celebramos o Dia Mundial da Água, data criada pela ONU em 1992 para reflexão mundial sobre a importância de preservarmos os recursos hídricos.

Hélio Samora*

Porém, apesar do crescente alerta global no Brasil e em muitos outros países, os persistentes e elevados índices de perdas de água tratada refletem o baixo nível de preocupação das empresas de saneamento, das agências reguladoras e dos governos com o problema.

Para ficarmos apenas no caso brasileiro, os índices de perdas seguem elevados e estão piorando, pois segundo a média nacional apresentada pelo SNIS, as perdas totais (perdas totais = água tratada produzida – consumo medido) chegaram a 51% em 2019, superando os 50% de 2018.

Analisando rapidamente o saneamento brasileiro, os números assustam: 40 milhões de brasileiros não têm água tratada; outros 40 milhões vivem com racionamento de água diversos meses por ano (inclusive em capitais de estados) e um pouco mais de 100 milhões não têm esgoto recolhido em suas casas. Além de tudo isso, como já mencionado, temos 51% de perdas, porém as empresas de saneamento públicas ou privadas têm lucratividade semelhante às das empresas de tecnologia, ou seja, obtêm lucros superiores a 30%, e algumas até chegam a 40%.

Esses fantásticos e invejáveis números de lucratividade são celebrados anualmente pelo setor, porém escondem uma ineficiência que tem que ser atacada de maneira efetiva: a de perdas de água. No entanto, são poucas as empresas que têm investimento contínuo e sistemático no combate às perdas, sejam físicas (vazamentos) ou comerciais (sub-medição, fraudes, etc.). Em estudos que realizamos, caso as perdas de água no Brasil fossem reduzidas de 51% para 25% (número ainda alto, porém mais aceitável), mais 38 milhões de pessoas poderiam ter água em suas casas, os racionamentos seriam apenas pontuais e o aumento de faturamento do setor poderia ser aumentado em pelo menos R$18 bilhões anuais, sem contar com a significativa redução de doenças geradas pela falta de água tratada e pela redução dos impactos ambientais que a produção de água traz para rios, lagos e represas.

Perdas de Água

No início de 2019, juntei forças com o Eng. Enéas Ripoli, profissional com 40 anos de experiência no mercado de saneamento e uma referência no setor, para desenvolvermos uma solução focada no combate às perdas de água – o SmartAcqua (www.smartacqua.com) – e desde então tento traçar paralelos de eficiência no saneamento com a indústria de manufatura, onde atuo há 35 anos.

A indústria de manufatura viveu, e ainda vive,  diversos ciclos de melhoria de qualidade e produtividade na engenharia, no chão de fábrica, na cadeia de fornecedores; um dos mais importantes foi na segunda metade da década de 1980 onde assistimos a Motorola implementar uma metodologia de melhoria de processos e controle de qualidade conhecida com 6σ (six sigma), baseada em conceitos matemáticos desenvolvidos no final do século 19; na década seguinte, a General Electric adotou e centrou sua estratégia de negócios na metodologia, já então mais conhecida na indústria, e obteve, sob o comando de Jack Welch, os melhores resultados da empresa desde sua fundação, comprovando de vez a eficácia da metodologia.

Além da melhoria de processos, uma métrica de qualidade perseguida pela metodologia 6σ é de apenas 3.4 defeitos em 1.000.000, ou seja, índice de conformidade de 99.99966%. Parece um sonho, porém há várias empresas de tecnologia que oferecem produtos com esse nível de qualidade. Se analisarmos a indústria de aviação, os índices de qualidade chegam a 7σ, ou seja, 0.019 defeitos por 1.000.000, e por esses motivos ocorrem tão poucos acidentes aéreos. Ainda bem!

Caso analisássemos os índices de perdas de água tratada de países e empresas de saneamento sob a ótica da metodologia 6σ, o resultado seria bastante perturbador. Os melhores países no ranking de perdas de água – um pequeno e seleto grupo de países que inclui Israel, Japão, Dinamarca, dentre poucos outros – o índice seria 3σ com perdas inferiores a 8% (3σ equivaleria a 6.7% de perdas). Um segundo grande grupo com perdas de 10% a 30% estaria entre 3σ (6.7%) e 2σ (31%), porém inúmeros países, incluindo o Brasil, estariam entre 2σ (31%) e 1σ (69%).

Podemos dizer que o setor de saneamento tem um desafio enorme a frente, quando comparado com as melhores indústrias do planeta, sejam de tecnologia, de aviação, automobilística, entre outras. Esse desafio só será vencido com a conscientização de governantes, executivos e conselheiros das empresas de saneamento públicas e privadas sobre a importância do combate às perdas de água e do investimento em tecnologias modernas, dentre as quais se destaca a inteligência artificial, para identificar e atacar o problema das perdas que afeta o setor e penaliza inúmeras cidades e suas populações.

*Hélio Samora é graduado em Engenharia Mecânica (Mackenzie), com pós-graduação em Marketing Industrial (ESPM)e sócio fundador e CEO da SmartAcqua.

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