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Escassez de água chega à análise de crédito dos bancos

“Vai chover no Cantareira?” É a pergunta que os paulistas não se cansam de fazer nos últimos tempos. Dentro dos bancos, porém, mais do que uma questão de saber se a torneira vai ficar seca, a resposta a essa incógnita pode valer muitas centenas de milhões de reais.

Diante da possibilidade de perder dinheiro com a histórica falta de chuvas, departamentos de análise de risco de instituições financeiras como Itaú BBA, Votorantim, ABC Brasil e Indusval começam a incluir a água em seus modelos matemáticos de análise de crédito para empresas, ao lado de itens já costumeiramente avaliados como endividamento, liquidez e geração de caixa.

Antes restritas às análises de crédito para o setor agrícola, previsões meteorológicas e avaliações sobre a oferta de água passam a ser avaliadas antes da liberação de empréstimos para o setor industrial.

“Como não tínhamos escassez de água, a seca era tratada antes só como um risco climático que podia afetar o agronegócio. Agora, a preocupação chega na manufatura”, diz Cláudio Cusin, diretor de crédito do Banco Indusval & Partners. Principal sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo, o Cantareira operava com 8,2% de sua capacidade na sexta-feira.

Se não chover o suficiente, a avaliação de executivos de bancos é que as companhias podem enfrentar problemas para produzir pela falta do insumo ou ter custos de fabricação elevados. Como consequência, terão dificuldade de honrar o pagamento de empréstimos.

Bastante dependentes da água, indústrias como as sucroalcooleira, têxtil, química, farmacêutica e de papel e celulose, de bebidas, e empresas do setor elétrico podem ser mais afetadas.

Por isso, a previsão do tempo vai determinar a quantidade de recursos liberados e a taxa de juros dos empréstimos e financiamentos bancários demandados pelas empresas.

Até agora com o problema da água fora do radar, um grande banco de varejo, que preferiu não ter seu nome divulgado, decidiu incorporar nas últimas semanas a seu questionário de liberação de crédito perguntas sobre a importância do insumo na produção.

O Votorantim criou um grupo para avaliar quão afetadas as empresas podem ser pelo baixo nível dos reservatórios de água, segundo disse João Roberto Teixeira, presidente do Votorantim, durante recente encontro com jornalistas. Em uma análise preliminar, o banco percebeu que um dos setores que mais podem ser afetados é o sucroalcooleiro.

Reportagem publicada pelo Valor na quarta-feira mostrou que a falta de chuvas, principalmente em São Paulo, já traz problemas para uma série de segmentos industriais. Algumas empresas já dependem de caminhões-pipa, enquanto outras congelaram a produção por algumas horas no dia.

Para o Itaú BBA, que atende empresas com faturamento anual a partir de R$ 300 milhões, é principalmente pela consequência energética que a água passou a ser monitorada como um fator de risco de crédito pelo banco ainda no fim de 2012, quando as termelétricas foram acionadas para suprir uma queda no nível dos reservatórios.

“Se as chuvas nos próximos seis meses repetirem o padrão observado em qualquer um dos últimos três anos, os reservatórios chegarão ao fim do período chuvoso em níveis ainda mais baixos do que em abril de 2014, o que deve exigir algum tipo de racionamento”, afirmou João Carlos de Gênova, diretor de crédito do Itaú BBA.

A avaliação do banco é que, isoladamente, o problema hídrico conseguiria ser contornado pelas grandes empresas instaladas em São Paulo, principalmente pelo deslocamento da produção para outras plantas fora do Estado.

Entre os bancos é quase consenso que são as pequenas e médias empresas aquelas que mais podem sofrer com a escassez de água. É comum entre grandes companhias, por exemplo, fazer o reuso da água, o que reduz o consumo.

Ainda no começo, a análise de risco de crédito pelo viés da água não chegou a ser incorporada às taxas de juros cobradas. Isso não significa, porém, que esse risco deixará de ser incorporado.

“Se avaliarmos que a água é fundamental para a empresa e que ela não tem um plano B, não vamos abrir limite de crédito. E se já temos exposição a essa companhia, vamos pensar numa saída organizada”, disse Cusin, do Indusval. “Achamos que esse tipo de caso vai aparecer.” Entre as alternativas buscadas por empresários estão a perfuração de poços e a contratação de fornecedores de água.

Fonte e Agradecimentos: http://www.valor.com.br/financas/3807398/escassez-de-agua-chega-analise-de-credito-dos-bancos#ixzz3LJT1JhKL

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