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Presidente da Caesb prioriza investimentos para garantir abastecimento de água

Aumentar os investimentos, e, ao mesmo tempo, reorganizar a casa para garantir  equilíbrio financeiro. Nessas condições  trabalha a atual gestão da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), chefiada por Maurício Leite Luduvice. O presidente da companhia  concedeu   entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília e comentou as prioridades, o reajuste da tarifa da água e as medidas para garantir o abastecimento do DF.

O senhor assumiu  a presidência da Caesb  e já tem uma vasta experiência, por ser do quadro da companhia. O que muda agora na Caesb com a gestão Rollemberg?

Muda o desafio. Nós devemos recolocar a empresa no lugar do qual nunca deveria ter saído. Uma empresa de excelência, com um excelente quadro, mas que estava numa condição muito complicada, muito difícil.

 

A que o senhor credita essa situação?  Ingerência política? Muita mudança no quadro técnico?  

Eu diria que não há um único motivo, são vários ao mesmo tempo. Acredito que há uma sucessão de fatos. Acho que a Caesb precisou expandir, e expandiu em uma velocidade que não estava preparada de certa forma.  Atuamos em vários condomínios ao mesmo tempo, por exemplo. Também tivemos dificuldade de gestão e estamos tentando corrigir isso, voltar a ser uma empresa profissional, onde a gente valorize o trabalhador e, principalmente, valorize a cidade. Temos a obrigação de entregar a água em quantidade e qualidade para a população brasiliense.

 

O senhor mencionou a questão dos condomínios. As ocupações irregulares em geral são um problema para a Caesb?  

O uso e a ocupação do solo do Distrito Federal devem ser feitos de maneira disciplinada. Isso é fundamental. Então, não é um problema só para a Caesb, assim como não é só do governo. É um problema de toda a sociedade. Nós vivemos em um quadrilátero relativamente pequeno, que está com uma população extremamente adensada e essa distribuição de espaço e de uso da ocupação do solo deve ser disciplinada para que a gente consiga ter locais que possam ser preservados. Você precisa dar moradia, educação para a população, mas é necessário preservar os recursos hídricos e ambientais. Isso é fundamental. Então, como fazer isso é que precisa de estudo. Do contrário, você pode ter um impacto muito grande, principalmente nos recursos hídricos, sobrecarregando os nossos mananciais.

 

Houve  um reajuste significativo da tarifa da água neste ano. A Caesb pediu 24%, mas conseguiu 16%. Esse índice foi suficiente para garantir   equilíbrio financeiro à companhia?

Não. Pura e simplesmente a tarifa, não. Estamos sendo obrigados a fazer cortes, reduzir despesas, otimizar a nossa gestão. Reduzimos o número de comissionados, otimizando o nosso organograma, ou seja, estamos fazendo também a nossa parte. O que a gente pediu foi para justamente remunerar os investimentos, o que não é fácil. Investimentos que estamos fazendo para atender essa população que não para de crescer, distribuída de maneira desigual. E, para isso, precisamos viver da nossa tarifa.  Quando pegamos empréstimos, a Caesb se responsabiliza por isso, tem que honrar esses compromissos. Por isso, devemos ser remunerados pela tarifa. Reconhecemos que 24%, aparentemente, é um valor  elevado, mas estávamos simplesmente remunerando os investimentos que a empresa fez ao longo dos últimos anos. E, se você for ver hoje, São Paulo fez uma solicitação maior, Goiás   também. É um impacto da sociedade em que vivemos.

 

Brasília está preparada para enfrentar uma possível crise hídrica? Técnicos já até dataram o “fim” da água para 2026.     A crise vai atingir ou já atingiu o Distrito Federal? Há como escapar dela?

A crise  não está chegando ao DF do jeito que chegou ao Sul e ao Sudeste. Felizmente,   o nosso maior manancial já está vertendo. Vejo pessoas dizendo sobre São Paulo, que está usando 22% da capacidade de abastecimento de reservação, enquanto nós estamos com 100%. No Descoberto e em Santa Maria, segundo maior manancial,   está aberto com 95% da capacidade. O período de chuvas de março e abril também favoreceu muito. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que a Caesb tem que pensar a médio e longo prazo, se planejando  para as grandes obras dos futuros sistemas de abastecimento, que nós já começamos. O governador, inclusive, esteve presente no reinício das obras do Corumbá, sistema conjunto entre Caesb e Saneago. Também estamos preparando a licitação do manancial do Bananal, que é fundamental para nós. A ideia é elevar a capacidade de abastecimento  para garantir que tenhamos água em quantidade e qualidade até 2050. Os estudos de concepção começaram lá atrás, sobre como trazer essa água, onde você irá tratá-la e como será o sistema de distribuição. A expectativa é justamente garantir água para que não tenhamos essa dificuldade em 2026. Esses novos sistemas   vão reforçar e aumentar em até 60% a capacidade de produção de água.

 

E como estão os trabalhos no Lago Paranoá, de captação de água para   consumo?

É extremamente gratificante falar do Paranoá. Eu participei do projeto de despoluição. E a atual situação é um motivo de orgulho para qualquer cidadão brasiliense. É uma história de sucesso,  um exemplo para o mundo inteiro. Nos anos 1980 , 1990, ninguém usava o lago, diferentemente do que ocorre hoje. Minha geração cresceu em Brasília de costas para o lago. Atualmente, nós temos um lago disponível para toda a população e é importante dizer que a Caesb está chegando, mas preservando os usos múltiplos. Ou seja, o nível do Lago Paranoá não vai variar. Não vamos atrapalhar os outros usos. Pelo contrário, foi limitada nossa tomada da água.

 

Nos períodos de  estiagem, há uma diminuição dos espelhos d’água. Então, há o pensamento de que tirar a água do Lago Paranoá, mesmo que para o nosso consumo, poderia ser um risco maior…

Isso está sendo feito de forma que não prejudique os outros usos. Por isso, estamos limitados a essa vazão máxima. Começaremos retirando 2,1 mil litros por segundo para atingirmos, no máximo, 2,8 mil litros por segundo, justamente para preservar o lago e seu nível, que varia   um metro ao longo do ano – o que, aparentemente, é muito, mas não é. E isso será mantido, mesmo   a     Caesb utilizando o lago como manancial. E aí tem outro ponto que é legal, pois você imagina a responsabilidade da população   por esse lago que vai ser o nosso futuro manancial. Por isso, peço a atenção de todos para que preservem o lago, pois ele não é um patrimônio que pertence à Caesb ou ao governo,   é um patrimônio da população brasiliense. Para isso, é importante não se fazer ligações clandestinas de esgoto; não lançar lixo nas ruas, pois, durante uma chuva, ele irá chegar ao lago; o uso e a ocupação do solo disciplinados… A transformação do Lago Paranoá em um  manancial é a coroação de um processo de recuperação, mas que vai exigir de nós uma grande responsabilidade e respeito, tanto por parte da Caesb como da população.

 

O senhor falou da utilização das bacias hidrográficas comuns. Esses rios são majoritariamente goianos. Como é essa relação com os órgãos ambientais? A gente depende do governo goiano para ter acesso à água? A Caesb tem sentido uma boa parceria com o governo? 

Tem.  Não podemos viver isolados nesse quadrilátero. Nós temos que ter uma interação muito grande com Goiás, com Minas Gerais. Com a Saneago, somos parceiros em dois  empreendimentos. Temos o exemplo de Corumbá, que é um empreendimento financiado 50% pela Saneago e   Governo   de Goiás, e os outros 50%   pela Caesb junto ao GDF. Nós também atuamos em conjunto em Águas Lindas (GO). Nossa parceria é excelente e não poderia ser de outra maneira porque o recurso hídrico não respeita fronteiras. Além disso, estamos no planalto,  então, os rios são relativamente de montanha. Ou seja, são rios com alta velocidade, mas de vazão relativamente pequena. Com a tendência de crescimento de Brasília, fomos buscar água em Corumbá, que é um grande manancial. Espero que, até 2017,  estejamos trazendo água de Corumbá para reforçar os sistemas atuais, entrando pela parte sudoeste de Brasília, que abrange a região de Gama e Santa Maria.

 

Enquanto há o trabalho para garantir o abastecimento, por outro lado é preciso garantir a fiscalização e o controle disso. Como a Caesb faz para combater os problemas dos “gatos”, tão constantes e visíveis em Brasília?

É constante, visível e extremamente prejudicial, tendo um impacto direto no caixa da empresa. Imagina a fuga de receita que temos… Além disso, vemos a qualidade de nosso serviço cair, pois, muitas vezes, quem está regularizado e hidrometrado não recebe água, pois há uma retirada de água indevida, em que pessoas consomem mais água sem estar pagando o que deveriam. Há um problema muito sério de desabastecimento de pessoas que precisam consumir essa água e, ao mesmo tempo, uma perda financeira forte, que, inclusive, quase nos prejudicou num financiamento com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Nós queremos fortalecer   isso, reduzir as perdas. A Caesb não pode viver só de aumento de produção. Como isso acontece? Reduzindo as nossas perdas, que já detêm o menor índice do Brasil. Mas não estamos contentes com isso, queremos reduzir ainda mais. E uma coisa que nos impacta muito é justamente o “gato”, pois é extremamente pernicioso para todo mundo. Nós vemos também que é um problema de dimensão maior, não só da Caesb, concessionária de saneamento básico do DF. Deve haver todo o empenho do governo e da sociedade para disciplinar o uso.

 

O senhor vê um evolução na mentalidade da população com relação aos recursos hídricos? A população está mais consciente?

Eu vejo. A gente pode ver que as pessoas estão começando a se conscientizar. Um exemplo disso é a diminuição do consumo de água per capita. Há um uso mais responsável, mais racional. As pessoas já não desperdiçam água como antigamente,   têm a consciência de que a água é um bem finito. São Paulo está aí para nos mostrar isso. Vemos que a consciência ambiental e ecológica da população tem crescido muito. O que nos trás muita satisfação.

 

No ano passado, quando os servidores da Caesb pleitearam  reajuste salarial, uma das questões levantadas por eles foi  o sucateamento da rede. Inclusive, houve  a morte de um funcionário na EPTG, quando uma adutora se rompeu. Como a Caesb avalia a  estrutura da rede atual?

Sobre a questão da morte de um dos nossos funcionários, isso é lamentável. Temos que levar como lições aprendidas. A morte dele nos serve de lição para que se evite esse tipo de coisa e que nunca mais volte a acontecer. A realidade que vemos na Caesb agora é de investimento, recuperando diversas obras que tínhamos nas melhorias de nossas instalações que estamos retomando. Isso é fundamental. Por isso, é tão importante o equilíbrio econômico e financeiro da empresa para conseguir realizar esses investimentos. Também temos a realidade de que a Caesb já é uma “senhora”. Pois, se você for parar para pensar, temos redes no Plano Piloto, Taguatinga e Ceilândia de 55 anos, redes que precisam ser recuperadas, revitalizadas. Nós assinamos um contrato com o BID com essa finalidade, substituir alguns emissários mais antigos, vamos ter que reformá-los, exatamente pelo tempo de execução, onde há um desgaste natural. É uma outra prioridade da Caesb para essa gestão, sem sombra de dúvida. Sempre visando o bom atendimento para a população brasiliense.

 

Quais são outras prioridades desta gestão? 

Nós temos que  garantir o equilíbrio financeiro e econômico da Caesb. Isso é fundamental. Nós já estamos iniciando um programa para trocar os hidrômetros, pois, depois de cinco ou oito anos, eles perdem a capacidade de medir.  Também temos a prioridade de iniciar   obras. Retomamos o Corumbá, vamos lançar agora o sistema do Paranoá, que é enorme e vai beneficiar diretamente 600 mil pessoas em todo o Distrito Federal. O Bananal também é uma prioridade, pois temos licença de instalação há mais de dois anos e estava parado.   Com isso, você garante a produção de água. Ao mesmo tempo, também estamos investindo muito na redução de perdas com a instalação de 150 válvulas redutoras de pressão justamente para regulá-la, diminuindo, principalmente, durante a noite, para que não haja rompimentos em nossa rede nem na casa do usuário. Isso é uma maneira de você otimizar e preparar a empresa para os desafios que vêm posteriormente, sendo uma empresa sólida, forte e que, acima de tudo, atenda bem a comunidade, e que esta  fique satisfeita com o serviço prestado.

 

Fonte: Jornal de Brasília

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