Presentes em diferentes bairros de Juiz de Fora, as minas se tornaram uma opção para refrescar e matar a sede no período de quase 20 dias sem chuva na região. Porém, um ambientalista alerta para os riscos do consumo de água sem a comprovação de tratamento adequado. E mesmo com exames mensais realizados pela Vigilância Ambiental da Superintendência Regional, a orientação tanto deles quanto da Companhia de Saneamento Municipal (Cesama) é para que os moradores não consumam água das minas.
O ambientalista Wilson Acácio reforçou que a população não deve confiar que a água transparente esteja própria para consumo. “As aparências enganam, o ato de a água estar limpa não quer dizer que ela está pura para ser consumida. Ela tem que passar por um processo de purificação em estação de tratamento de água”, disse. O ambientalista listou quais problemas podem ser causados por esta água. “É possível que tenhamos coliformes fecais, porque como tem muitas casas, existe infiltração que pode levar até a água lixo, animais e fezes. Você pode ter até produtos químicos e metais pesados que podem gerar problemas para a saúde da população. Portanto deve-se saber primeiramente como está a qualidade desta água para depois decidir se vai ser consumida ou não”, ressaltou.
Sabendo desses riscos, o representante comercial Paulo Raposo Braga usa a água para lavar o carro. “É uma água limpa, porém a gente não sabe o que tem de impureza, né? Mas para o carro não tem problema”, comentou.
No Bairro Jardim Glória, a dona de casa Maria Eugênia França destacou que bebe água do local, porque tem em mãos os resultados de testes feitos pela Prefeitura e pela Secretaria de Estado da Saúde. “Antigamente não tinha tantos prédios, casas e apartamentos. Agora eu fico com medo. Mas, com os exames, vejo que é excelente para o consumo”, explicou.
Os últimos documentos que atestam a qualidade da água foram divulgados em outubro de 2013, mas não detalham quais procedimentos foram adotados na realização dos exames. Segundo o ambientalista Wilson Acácio, este tipo de avaliação deve ser feita com frequência. Ainda que a pessoa não sinta nenhum sintoma, os prejuízos à saúde podem aparecer a longo prazo. “Muitas das pessoas que tomam desta água podem ter o problema de hepatite, febre amarela ou malária. A pessoa não percebe, mas pode ser que a origem da doença que ela vai ter pode ser a água que está ingerindo aos poucos”, disse.
Não beber água da mina
A Companhia de Saneamento Municipal (Cesama) informou que cabe à eles monitorar a qualidade da água dos mananciais do município e das redes de distribuição. Este monitoramento segue as determinações da legislação federal e está dentro dos padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde. A Cesama destacou ainda que não recomenda o uso da água proveniente de fontes alternativas, principalmente para uso doméstico, por não passar por processos de tratamento e monitoramento.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a fiscalização das minas de água públicas é feita pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde. As análises são feitas pela Vigilância Ambiental da Superintendência Regional. De acordo com a portaria do Ministério da Saúde, essas análises são feitas todos os meses. E mesmo assim, o alerta é para que as pessoas não consumam as águas dessas minas, porque, de um dia para o outro, a chuva ou a seca, podem alterar a característica da água.
De acordo com o técnico em Vigilância Ambiental, Eder Rosa Ribeiro, são acompanhadas cerca de 50 minas cadastradas pelo município. “Eu recomendo muita prudência e muito cuidado para que as pessoas, ao consumirem, não construírem nenhuma doença”. Segundo ele, quem quiser usar, deve misturar hipoclorito ou ferver. “As medidas são para evitar o impacto, porque é não é orientada tecnicamente e precisa ser tratada para dar segurança à saúde pública”, reforçou.
Análise na UFJF
A pedido do MGTV, pesquisadoras da Faculdade de Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) estiveram nas minas dos Bairros Ipiranga e Jardim Glória para coletar material para análise. A farmacêutica Martha Eunice Bessa explicou os cuidados tomados na realização do procedimento, como a limpeza da área de onde ela sai para evitar alguma contaminação além da existente. “Geralmente nós utilizamos álcool 70 para fazer a limpeza no entorno, mas como essa água aqui tem um fluxo muito grande, não tem necessidade de fazer tanta limpeza. Você só retira o excesso de material orgânico que estiver em volta e já colhe diretamente a água”, diz.
Tudo foi levado ao laboratório de análises de alimentos e águas da Faculdade de Farmácia da UFJF. O teste é feito em duas etapas. Na primeira, o material foi separado em dez tubos com 10 ml cada um, onde já têm um meio de cultura com nutrientes que favorecem o crescimento de bactérias. “O frasco da amostra é limpo e é convertido para os meios de cultura. Esses meios de cultura vão ser colocados em estufas por 48h juntamente com a amostra de água. Após esse tempo, vamos observar o crescimento ou não de micro-organismos que possam estar infectando essa água”, explicou. É necessária uma semana para a realização do exame.
Fonte: G1