Segundo Fundação Municipal do Meio Ambiente, extravasamento da lagoa de infiltração da estação de tratamento de esgoto da empresa danificou dunas e restingas.
A prefeitura de Florianópolis multou em R$ 15 milhões a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) na quarta-feira (27) pelo rompimento da lagoa de infiltração da estação de tratamento de esgoto da empresa. Após a enxurrada que atingiu o bairro Lagoa da Conceição, que deixou 35 residências danificadas e atingiu 66 pessoas diretamente, especialistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) alertaram para prejuízos ambientais e riscos para a saúde humana.
De acordo com a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), o rompimento que ocorreu na segunda-feira (25) danificou dunas e restingas no entorno da lagoa artificial, e alterou a qualidade da água na região. O município contratou um laboratório para identificar quais tipos de resíduos foram levados para dentro do mar. O laudo deve sair nos próximos dias, mas a data não foi divulgada pela prefeitura.
A Casan tem o prazo de 20 dias para a apresentação da defesa e cinco para o pagamento da multa com 30% de desconto em relação ao valor estabelecido conforme legislação federal. O órgão pode recorrer da decisão.
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Floram
Segundo a Floram, não há um direcionamento específico no momento de como será usado o recurso determinado na autuação. No entanto, a expectativa é que ele seja destinado às atividades relacionadas na proteção e na preservação de importantes áreas ambientais da cidade.
Em entrevista ao Bom Dia SC, na NSC TV, a presidente do órgão, Roberta Maas dos Anjos, disse que haverá ressarcimento dos prejuízos aos moradores. O órgão também informou que faz um processo administrativo interno para apurar os fatos.
“O principal ponto da Casan sempre é a assistência da comunidade. Sabemos da nossa responsabilidade, apesar de ser um evento natural em cima de um equipamento tecnológico. A gente não exime da nossa responsabilidade”, disse.
A Polícia Civil e o Ministério Público Federal (MPF) investigam o rompimento. A Câmara de Vereadores da cidade abriu uma comissão para acompanhar os esclarecimentos sobre o caso.
Na quarta-feira, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) informou que um relatório de balneabilidade no local mostrou que todos os pontos próximos do extravasamento estão impróprios para banho. A coleta foi feita na segunda-feira, quando foi constatado grande índice de coliformes fecais no local.
UFSC Monitora o Local e faz Alerta
Pesquisadores dos projetos Ecoando Sustentabilidade e Veleiro Eco e dos laboratórios de Ficologia (Lafic), de Oceanografia Química e Biogeoquímica Marinha (Loqui) e do Núcleo de Estudos do Mar (Nemar) da UFSC, demonstraram preocupação com o extravasamento na região. Uma análise independente é feita pelos especialistas.
Além dos prejuízos ambientais, o derrame também pode apresentar riscos à saúde humana. Conforme os especialistas, ainda que o líquido seja de esgoto tratado, não se descarta a possível presença de patógenos residuais. Por isso, será necessário analisar a qualidade da água, para monitorar a presença de patógenos já identificados na região, como o vírus da hepatite A.
O documento sugere que, por precaução, seja limitado ou proibido o contato de pessoas nas áreas afetadas e entorno “até que seja realizada caracterização detalhada do evento, por meio de análises químicas e biológicas da água e do sedimento”.
Segundo o biólogo Paulo Antunes Horta, da UFSC, alguns animais mortos já foram vistos no local. A suspeita é de que a erosão do solo e outras matérias orgânicas no mar tenham prejudicado o nível de oxigênio da Lagoa da Conceição.
“É um acidente extraordinário, que merece atenção de toda a comunidade de Florianópolis e de Santa Catarina, porque os seus impactos talvez maiores estarão de agora para frente”, disse.
Os pesquisadores destacaram também que a variação de salinidade por causa da grande quantidade de água doce pode ter efeitos na Lagoa da Conceição. Comunidades bênticas, que são organismos que vivem no fundo dos ambientes aquáticos e possuem elevada importância para o equilíbrio ecológico do sistema, podem ser afetadas também pelos sedimentos arrastados pela enxurrada.
Fonte: G1.