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Em busca de uma tecnologia para limpar o rio Pinheiros

O estado dos rios que atravessam São Paulo é uma das grandes vergonhas ambientais brasileiras. Os rios e córregos da cidade, que já foram limpos no passado, hoje são conhecidos pelo mau cheiro, por atrair mosquitos e doenças, além das enchentes. Com o rio Pinheiros, não é diferente. Suas águas são classificadas como “totalmente poluídas” desde a década de 1970. No ano passado, o governo publicou o Índice de Qualidade da Água em quatro pontos do rio: em três pontos, a água foi classificada como “ruim”, e em um ponto como “péssimo”.

A primeira tentativa de limpar o rio Pinheiros foi um grande fracasso. Em 2001, o governador Geraldo Alckimin iniciou um projeto de despoluição usando o método de flotação. Esse método aplica produtos químicos na água que fazem a sujeira subir, para depois ser retirada. Dez anos depois, testes mostraram que a técnica não funcionou, e o governo abandonou o projeto, que custou cerca de R$ 160 milhões. O prejuízo foi dividido entre o Estado e a Petrobras, que financiava parte do projeto.

Com o fracasso, a associação Águas Claras do Rio Pinheiros, uma organização que reúne empresas e moradores da região do rio Pinheiros em busca da limpeza do rio, sugeriu fazer uma bateria de testes para encontrar uma nova tecnologia de despoluição. “Nós fizemos a proposta porque, mesmo que a Sabesp complete todas as obras programadas, ainda não vai resolver o problema da poluição do rio. Precisamos buscar novas tecnologias para isso“, diz Stela Goldesntein, diretora-executiva da Águas Claras do Rio Pinheiros.

O governo comprou a ideia. Em março, a Secretaria de estado do Meio Ambiente fez um chamado público para empresas interessadas em mostrar métodos de despoluição. Inicialmente, 23 empresas apresentaram propostas. Dessas, apenas cinco foram consideradas aptas. Durante um mês, entre outubro e novembro de 2013, essas empresas mostraram a aplicação de suas tecnologias em um ambiente de testes construído nas margens do rio Pinheiros, usando a água retirada diretamente do rio.

Os métodos testados usam produtos químicos ou biotecnologia para limpar a água. Para ter uma ideia de como essas técnicas funcionam, o Blog do Planeta conversou com os representantes de uma das tecnologias testadas, as empresas Verus Ambiental e Engeform. Elas utilizam uma biotecnologia chamada Accell 3. Esse produto usa uma combinação de proteínas que estimula as bactérias presentes no rio, fazendo-as degradar a poluição e gerando oxigênio no rio.

Segundo Renato Abucham, diretor da Verus Ambiental, o teste do último mês foi positivo: em menos de três dias, a água perdeu o odor e, pouco tempo depois, diminuiu a tensão de superfície da água, evitando a proliferação de mosquitos. “Nós esperamos ter mostrado às autoridades que nossa tecnologia funciona”, disse. Ele estima que o uso da biotecnologia pode começar a ter efeitos, se aplicada no rio, em menos de 60 dias, mas é impossível saber com precisão, já que o rio é mais complexo do que o ambiente de testes.

Também participaram dos testes as empresas Beraca Sabará, Superbac Proteção Ambiental, DT Engenharia e empreendimentos e Evonik Degussa Brasil. Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a escolha dependerá da efetividade da técnica, custo e tempo necessário para limpar as águas. Um grupo de trabalho formado por representantes do governo, pesquisadores da USP e ONGs deve analisar as cinco propostas e escolher uma ou mais tecnologias que possam ser utilizadas. A expectativa é que até fevereiro de 2014 já se tenha uma resposta sobre o resultado dos testes.

Problema maior do que apenas limpar
Mesmo que as técnicas propostas funcionem, e até se tiverem um desempenho superior ao esperado, o problema ainda não estará resolvido. O rio recebe uma grande quantidade de lixo das ruas, levado pelo vento e pela água da chuva. O ato de jogar lixo no chão e falhas no trabalho de limpeza urbana pioram essa situação. Além disso, muitos córregos e rios paulistas deságuam no Pinheiros, e grande parte desses córregos está poluída.

Para dificultar ainda mais o trabalho, há o problema da falta de urbanização e saneamento. Segundo a Águas Claras do Pinheiros, um mapeamento recente encontrou mais de 850 favelas na beira do rio. Isso significa que não basta limpar, é preciso fazer a urbanização e coleta de esgoto nessas casa. Historicamente, a regularização dessas comunidades é demorada. “Isso significa que vamos precisar continuar tratando a água do rio muito tempo depois da realização de todas as obras previstas pelo governo“, diz Stela.

Fonte: Blog do Planeta
Veja mais: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2013/12/em-busca-de-uma-btecnologia-para-limparb-o-rio-pinheiros.html

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