Uma pesquisa do IBGE, divulgada nesta sexta-feira pelo Jornal Nacional, mostrou que 30% das casas nas áreas urbanas do país não têm coleta de lixo, iluminação pública e rede de esgoto. Os repórteres Marcos Losekann e Salvatore Casella foram até Macapá, onde mais de 90% da população não têm acesso à rede de esgoto tratado.
Vivendo no fundo do poço. O que parece esgoto é a única fonte de água que a família da Dona Lindalva Maciel tem pra consumir.
“A gente ferve e coloca nos alimentos. Mesmo assim, dá nojo”, diz.
Dá nojo e doenças também. Cerca de 400 atendimentos por dia, até nos corredores dos hospitais. A maioria, crianças.
“Ela estava vomitando muito e também a diarreia estava muito forte. Aí eu a trouxe pro atendimento”, conta o garçom Diego Souza.
Pior é voltar para casa e continuar bebendo da mesma água. Faz apenas três dias que o Lucas saiu do hospital.
O esgoto a céu aberto polui os mananciais e contamina os poços. Pior é que nem sempre a solução cai do céu.
“Se não tiver chuva, a situação fica difícil para nós”, comenta o vigilante Denilson Faria.
A garçonete Cláudia Maria Souza anda três quilômetros para buscar água na casa de uma prima.
Parece ironia, mas tudo isso acontece numa capital, na beira do maior rio do mundo: o Amazonas, um mar de água doce.
Nem mesmo a prefeitura de Macapá sabe informar ao certo a extensão da rede de água e esgoto do município. Os únicos dados disponíveis são da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, do Ministério das Cidades. E os números são assustadores. De cada 100 pessoas que vivem aqui, 94 não têm esgoto tratado. Jogam tudo em fossas ou diretamente nos rios e igarapés. De cada 100 moradores, 60 não têm água encanada. Percentuais que botam Macapá na última posição entre as capitais brasileiras no quesito saneamento básico.
“É uma vergonha estar na capital do estado, às margens da foz do Rio Amazonas, não é qualquer parte do Amazonas, e ter esses indicadores. Mas o pior ainda é a falta de esgotamento sanitário que polui esse rio”, declara Clécio Vieira, prefeito de Macapá.
O prefeito alega que para fornecer os quatro mil litros que a cidade consome por segundo, precisa da ajuda do estado, que é responsável pela Caesa, a Companhia de Saneamento. O governador, por sua vez, diz que, nas últimas três décadas, somente uma adutora foi construída. E mostra as obras que deverão abastecer 80% dos consumidores.
“Nós estamos trabalhando para dobrar o fornecimento de água tratada até o final de 2014 na capital, Macapá”, promete Camilo Capiberibe, governador do Amapá.
Afogados nos problemas que a falta de saneamento provoca, os 430 mil moradores de Macapá torcem para que as soluções parem de chegar a conta-gotas.
Fonte: G1
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