Metade das águas do Rio Gravataí estão inutilizadas por esgoto

Apenas 12% do esgoto é tratado no Rio Grande do Sul. O descontrole já inutilizou metade das águas do Rio Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, como mostra a reportagem do RBS Notícias, da RBS TV (veja o vídeo acima).

Análises feitas pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) mostram que o oxigênio é quase inexistente no rio, com níveis abaixo do recomendado para a vida de peixes e outros seres vivos. Também foi pesquisada a quantidade de coliformes fecais, bactérias que causam doenças. Por lei, o número não deve ultrapassar 1 mil coliformes a cada 100 ml de água. Entretanto, os níveis encontrados foram 142 vezes o volume permitido. Em mais da metade do rio, o recomendado é não entrar em contato com a água.

“A classificação, conforme a legislação federal, são zero, um, dois, três e quatro. A classe zero é a melhor, que se pode usar a água com tratamento primário. A classe um ainda é com tratamento primário. Já a classe dois já requer tratamento secundário com decantação, e a também bastante cuidado. Na classe 4 a legislação diz que não podemos tirar água para consumo humano, apenas como paisagismo e para a função do ecossistema”, explica Samuel.

No arroio Passo das Pedras, na Zona Norte de Porto Alegre, é comum enxergar garrafas, objetos de plástico e até eletrodomésticos. Toda a sujeira vai parar diariamente no Rio Gravataí. É a contribuição do esgoto da capital na contaminação do quinto rio mais poluído do Brasil, segundo dados do IBGE.

O que acontece todos os dias no Rio Gravataí é preocupação para a ONG de proteção ambiental Apta há muitos anos. “Pela poluição, exatamente, isso aqui é um esgoto cloacal. O odor daqui é horrível, porque a agua é dejeto puro. Não só cheira como é o próprio esgoto”, diz o presidente da ONG, Clóvis Braga.

O que o ambientalista diz foi confirmado pelas análises da Corsan. As coletas foram recomendadas pelo Ministério Público de Gravataí para verificar a qualidade das águas, e os resultados são assustadores. Das classes de um rio, estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, o Gravataí está na pior.

“Ele está classificado em classe 4, onde nós temos reflexo direto da urbanização principalmente pela falta de tratamento de esgotos sanitários”, diz o presidente do Comitê de Bacia do Gravataí, engenheiro civil Paulo Robinson da Silva Samuel.

A Bacia do Gravataí é formada pelos municípios de Santo Antônio da Patrulha, Taquara, Glorinha, Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada, Viamão, Canoas e Porto Alegre. Entretanto, 90% do esgoto desses nove municípios são jogados brutos no rio, segundo dados do Ministério das Cidades.

A poluição é tanta que a Corsan desativou alguns pontos de captação de água no Gravataí. Para não haver desabastecimento, a alternativa foi retirar a agua do Arroio das Garças, que fica a pouco mais de um quilômetro da foz do Rio Gravataí. Segundo o ambientalista, a situação também pode apresentar risco de contaminação em breve.

“Sendo predominante aqui na região, os vento sul quase que diariamente sopra os dejetos, toda a poluição, os efluentes do Rio Gravataí rumo à Estação de Captação da Corsan. A empresa não capta diretamente, mas está captando a água dessa região, porque indiretamente a água do Gravataí adentra o Arroio das Garças”, diz o presidente da ONG Apta.
Entretanto, a direção técnica da Corsan garante a qualidade da água que chega aos consumidores.

“Dos investimentos da Corsan, que chegam a quase R$ 4 bilhões, mais de 80% são relativos a esgotamento sanitário. Portanto, é a preocupação número 1 da empresa fazer com que haja implantação não só de redes de coleta, mas também de tratamentos de esgotos de modo adequado que possam contribuir em preservação e baixo impacto nos nossos corpos receptores”, diz o diretor de Operações da companhia, engenheiro químico Eduardo Barbosa de Carvalho.

 
Fonte: G1

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