A instalação de pequenas fábricas de cloro dentro de estações de tratamento de água (ETAs) pode ser um caminho de mão dupla para as concessionárias de saneamento básico e um de seus principais fornecedores.
O tratamento tradicional para tornar a água potável não pode prescindir do cloro. Por outro lado, estamos falando de um produto sensível em vários aspectos, a começar pelo transporte. Vamos pegar o exemplo concreto da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cacege) e de sua ETA Gavião, responsável pelo abastecimento de Fortaleza.
Hoje, a ETA da concessionária cearense é atendida por uma miniplanta com capacidade nominal de até 10 toneladas de cloro por dia, mas atualmente com 50% desse volume, que é demandado pela estação. Estamos falando de cloro liquefeito, mas que pode ser transformado em hipoclorito e armazenado na unidade. Sem entramos em detalhes técnicos, basta entender que ambos são utilizados na potabilização da água, com a diferença que o cloro liquefeito tem menor volume, custo menor, porém exige manuseio e transporte controlados devido à sua alta toxidade. Sim, é o tipo de produto transportado em caminhões tanque especiais, com todas as sinalizações de carga perigosa.
Antes da ativação, em 2014, o cloro liquefeito vinha de Recife, em caminhões com capacidade para 18 toneladas e precisava ser estocado sob alta pressão. Com a miniplanta, ele é injetado diretamente na água de acordo com a demanda da ETA. Na forma de hipoclorito pode ser armazenado sob baixa pressão e usado em caso de falta de energia elétrica, pois o tratamento em uma ETA é contínuo, 24 x 7. Se houver excedente e a ETA não demandar o hipoclorito, o produto pode ainda ser comercializado para a indústria de materiais de limpeza. É esse círculo virtuoso, aliás, que levou a Alliance Química à parceria com a Cacege. E é o mesmo círculo que criou as condições para uma nova planta da empresa no Nordeste.
Empreendimento da Chlorum
A nova unidade no Maranhão é um empreendimento da Chlorum Solutions, controladora da Alliance, e será a unidade de produção de cloro mais ao norte do Brasil. Antes dela – e da planta em Fortaleza – a instalação mais próxima era na capital Pernambucana. Diferentemente de Fortaleza, a nova fábrica – com capacidade para até 12 toneladas de cloro por dia – não será ativada dentro de uma ETA e deve focar no atendimento da indústria de desinfecção, na forma de hipoclorito, cujo transporte não é perigoso comparado ao de cloro liquefeito. Mas, de acordo com o diretor da Chlorum, Alfredo Kerzner, poderia atender o setor de saneamento.
Ele adiantou à essa coluna que há negociações com concessionárias do segmento para a replicação do modelo criado em Fortaleza. A viabilidade, de acordo com ele, depende do tamanho das cidades que a ETA atenderia e do volume de cloro consumido. Um parâmetro indicativo seria o de municípios com cerca de 1 milhão de habitantes. A fábrica também seria viável em localidades menos populosas, desde que tenham grande demanda de cloro em função da qualidade da água captada. E é claro, estaríamos falando de um contrato de fornecimento de longa duração. De qualquer forma, o modelo até então restrito à Fortaleza, poderia avançar para o país.
Além da redução de custos, a ativação de uma planta de cloro dentro de uma ETA significa menos riscos ambientais. O caso de Fortaleza, por exemplo, eliminou a necessidade do trânsito de caminhões de cloro liquefeito entre as duas capitais para o atendimento da estação. Considerando a distancia de 800 km, feito por caminhões de grande porte, pode-se imaginar a operação de guerra: monitoramento constante e, em caso de acidentes com ou sem vazamento, um protocolo específico para minimização de danos.