Algo não cheira bem na Zona Sul. Enquanto moradores relatam forte odor desde o início dos testes na operação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Serraria, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) garante que o fedor não vem da estrutura responsável pela despoluição do Guaíba nas próximas décadas.
A reclamação não é unânime. Na semana passada, na pracinha localizada na esquina das avenidas da Serraria e Orleans, apenas parte dos senhores que jogam cartas e bocha na área confirmava o mau cheiro.
“Desde que começou a funcionar a estação, sentimos o fedor direto. E, agora, vai ser para toda a vida. Para a direção que o vento está, o cheiro vai atrás“, garante o aposentado Claudio Cunha da Fraga, 65 anos, morador da Estrada da Ponta Grossa, distante pouco mais de um quilômetro da ETE.
Na mesma roda de conversa, Telmo Alves, 78 anos, que vive na Rua Agenor Mendes Ouriques, contesta:
“Quase não se sente. Para quem aguentou por anos o cheiro da Borregaard, o que é esse cheiro? As pessoas têm de pensar no que é melhor, se sentir esse cheiro às vezes ou não tratar o esgoto da cidade.”
Origem estaria em estação de Ipanema que será fechada
Sentido em diferentes pontos das ruas Luiz Maestri e Mário Assumpção e da Avenida Orleans, o odor não viria da ETE Serraria. Ao menos é o que assegura o Dmae, por meio da sua assessoria de imprensa. A alegação é de que o cheiro sentido nesses locais venha das lagoas da ETE Ipanema, localizada próximo às vias citadas.
“Inspecionamos a ETE Serraria na tarde de terça-feira (dia 15 de abril) e não há odor sequer junto aos tanques. A ETE Ipanema será desativada quando for autorizado o aumento da vazão da Serraria”, afirmou o Dmae, por meio de nota.
Mas o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS e ex-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, Luiz Fernando Cybis, é enfático: não há estação de tratamento de esgoto que não controle suas emissões atmosféricas e não exale mau cheiro.
“A intensidade do cheiro vai depender do quão eficiente for a operação e da proximidade das pessoas“, explica Cybis.
O tratamento dos gases ocorre em estações fechadas – que é o caso da Serraria –, onde o ar exalado é captado e tratado antes de ser liberado para a atmosfera. Conforme Cybis, a tecnologia pode ser encontrada em cidades da Europa e dos Estados Unidos, por exemplo. Na ETE Serraria, a expectativa é de que, no futuro, os gases emitidos sejam recolhidos para gerar energia à própria estrutura. A vazão do esgoto tratado ainda é baixa e não gera material suficiente para o procedimento. Outra explicação para o mau cheiro na região seria, justamente, a subutilização da estação, que pode tratar até 4,1 litros de esgoto por segundo – mas opera, atualmente, com 500 litros.
“O mau cheiro exalado pode ser mais forte na partida da estação do que quando a estrutura estiver com operação total porque ela está funcionando com carga inferior ao previsto e a vazão é menor. Como as estruturas hidráulicas operam abaixo da condição de projeto, há a possibilidade de liberação de gases para a atmosfera“, acrescenta o professor.
Fonte: Zero Hora
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